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Cinema nas escolas

Cinema nas escolasO Brasil é cheio de leis, algumas entram em vigor e nunca são aplicadas de fato, como a lei que proíbe o uso de celulares no cinema. Mas, seguimos com esperança de que as pessoas compreendam que ser civilizado e viver em comunidade só é benéfico. Atualmente, entrou em vigor uma nova lei na educação, a Lei nº 13.006, em que as escolas passam a ser obrigadas a exibir no mínimo duas horas mensais de filmes e audiovisuais de produção nacional.

O que de fato muda? Isso acho que nunca saberemos, até porque quem fiscalizará as escolas que já faltam tanta aula básica, imagine atividades complementares? Mas, é uma iniciativa louvável. O cinema é uma arte, mas é também cultura e um excelente método pedagógico. Não apenas para as questões óbvias de História e Geografia que sempre são citadas. Mas, enquanto lição de vida.

O Clube do FilmeNão por acaso, o jornalista David Gilmour deixou seu filho largar os estudos tradicionais e o educou com filmes diários. Sua experiência foi narrada no livro O Clube do Filme. O cinema expõe a nossa sociedade, pensamentos, abre discussões e nos faz pensar. Claro, que muitas vezes, a pessoa prefere simplesmente acreditar no que está em tela, mas aí é que entra o papel do educador. Não é simplesmente passar um filme na escola, mas é debatê-lo depois, fazer os alunos pensarem, verem além do que foi dito, questionar personagens, história, moral.

O cinema brasileiro, desde a retomada, tem trazido uma grande variedade de obras que podem gerar discussões intermináveis. Não falo das comédias que invadem as salas de shopping, mas a diversidade de independentes e mesmo os filmes comerciais. Até nas comédias é possível encontrar alguma discussão, por mais pobre que o filme pareça. Uma obra como "E aí, comeu?" pode gerar um debate sobre os estereótipos de mulheres e homens, relacionamento, traição, compromissos. Tudo isso é aprendizado.

Talvez alguns levantem a bandeira de que cinema brasileiro só tem violência e sexo. Não é verdade, mas esses dois assuntos também fazem parte da sociedade e precisam ser debatidos, compreendidos e educados. Ou não? Levar o cinema brasileiro para as escolas é mais do que encontrar uma nova janela para as obras, em sua maioria financiadas pelo dinheiro público. É levar a discussão da nossa cultura para os jovens. É trabalhar a formação de plateias e fortalecer o senso crítico.

Amanda Aouad no Cine Jorge AmadoPosso estar sendo utópica e até mesmo ingênua, já que, como disse, às escolas públicas brasileiras faltam o básico. Mas, acredito que a opção de uma aula diferente, com filme e discussão após exibição pode ser benéfica. Participei de um projeto em 2012, onde fomos pelo interior da Bahia levando filmes baseados nas obras de Jorge Amado a alunos de escolas públicas. E foi uma experiência incrível. Foi possível dialogar com filmes como Capitães da Areia, Tieta, Dona Flor e seus Dois Maridos, mostrando para nuanças de suas próprias realidades.

Nesses filmes tem violência? Tem. Tem sexo? Também. E claro que ouvíamos piadinhas e gritinhos nesses momentos. Mas, não é só isso. E também isso a gente mostrava após as sessões. Era uma oportunidade de falar de um escritor símbolo brasileiro, de questões da nossa cultura, de cinema e da vida em diversos aspectos.

O crítico Pablo Villaça listou outro dia, noventa bons filmes brasileiros dos últimos anos. Muitos deles, a grande maioria do público nunca ouviu falar. Se um décimo chegassem às escolas e fossem discutidos com os alunos, já seria um ganho incrível. Fazendo um esforço, pincelei um número menor na lista de Pablo que poderia começar o processo. Filmes bons que podem criar um diálogo interessante com o público. Deixando de lado dois grandes sucessos óbvios que também valeriam a pena uma discussão na escola (Tropa de Elite e Tropa de Elite 2).

Anjos do Sol (2006)
Direção: Rudi Lagemann
- Filme forte que trata da realidade da exploração sexual infantil.

A Festa da Menina Morta (2009)
Direção: Matheus Nachtergaele
- Outro filme forte, que traz muito de nossa cultura, discutindo a fé cega.

O Fim e o Princípio (2005)
Direção: Eduardo Coutinho
- Documentário que nos mostra a realidade de muitas famílias no país, e de quebra ainda fala do processo de construção de um documentário.

Bicho de Sete Cabeças (2001)
Direção: Laís Bodanzky
- Fala sobre drogas, doenças mentais e o descaso dos hospitais psiquiátricos.

Cinema, Aspirina e Urubus (2004)
Direção: Marcelo Gomes
- Fala sobre o poder da manipulação de imagens e de relacionamentos interpessoais. De quebra ainda tem o viés histórico.

Estômago (2008)
Direção: Marcos Jorge
- Um excelente filme nacional, pouco visto. Fala de sonhos, esperanças, traição e vingança. Mas, de uma maneira tão envolvente, que merece uma visita.

Jogo de Cena (2007)
Direção: Eduardo Coutinho
- Outro documentário que traz um retrato de sonhos e dores das mulheres brasileiras ao mesmo tempo que discute o próprio conceito da verdade em um documentário.

A Máquina (2006)
Direção: João Falcão
- Aqui não é só o cinema, mas a televisão que fica no foco, através de sonhos, manipulação de imagens e ponto de vista.

Ônibus 174 (2003)
Direção: Felipe Lacerda, José Padilha
- Documentário que discute através de um caso real a questão do menor abandonado, da violência, da ação da polícia e da imprensa.

Saneamento Básico, O Filme (2007)
Direção: Jorge Furtado
- Com muito humor, o filme faz críticas interessantes às leis de incentivo, políticos, questões básicas de populações carentes e ainda brinca com o processo de criação e produção de um filme.

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