
Dois livros já contaram a trajetória do escritor, O Diário de um Mago, de sua própria autoria, e a excelente biografia O Mago, escrita por Fernando Morais. O primeiro foca na transformação do homem perdido no mago que iria ganhar o mundo com seus livros de auto-ajuda. O segundo tenta entender esse fenômeno tão aclamado lá fora e criticado em seu próprio país. O filme de Daniel Augusto com Carolina Kotscho prefere jogar na tela momentos diversos demonstrando uma raiva imensa contra tudo e todos, como se tentando provar que apesar de tudo, ele venceu.

Aliás, toda a construção do período Paulo e Raul é problemática, apesar de Lucci Ferreira estar excelente como o cantor "maluco beleza". Tudo soa meio irônico, desde as piadas sobre Raul chegar de terno e ser careta. Passando pelas composições, as reuniões da seita, a música Sociedade Alternativa no palco e seu discurso que o leva a ser preso. A conversa com o militar. O retorno para casa com Gita na televisão e o episódio que o fez largar tudo aquilo, que no filme fica bastante confuso.
Este ponto é essencial na mudança de posição de Paulo Coelho de jovem transgressor e compositor de rock para escritor guru. Está explicitada no seu livro As Valquírias e fala dos caminhos escolhidos enquanto seguia o satanismo. Segundo o escritor sua casa abriu-se em um grande buraco de fogo e tudo rodava. Só passou quando ele leu a Bíblia debaixo do chuveiro. No filme, a cena do chuveiro e a Bíblia estão lá, mas não sei até que ponto as pessoas compreendem isso.

Li diversos livros do escritor, só gosto de fato de O Alquimista, mas não posso negar seu sucesso e prestígio internacional. É um fenômeno e, como tal, digno de interesse. O problema é que o filme não constrói isso a contento. O personagem não se torna simpático aos nossos olhos apesar do esforço do ator Júlio Andrade em sua composição. Ravel Andrade que faz Paulo jovem também está bem, mas assim como Júlio não consegue criar a empatia necessária com o público. Vemos em cena uma alegoria e não um personagem complexo que consigamos nos aproximar.

O filme ainda que com uma técnica correta, bons atores e até uma maquiagem interessante no ator para torná-lo próximo do escritor que conhecemos, não tem alma. Não dialoga conosco, se fragmentando em rancores e necessidades de provar que ele conseguiu vencer. Como se todos estivessem torcendo contra. Inclusive Raul Seixas, que o traiu quando ele mais precisava. Pelo menos, é isso que é passado na tela.
Não Pare na Pista, em uma pretensão de ser A Melhor História de Paulo Coelho, acaba se tornando sua pior história. Vazia e confusa que só não fica com um sentimento pior porque saímos da sessão ouvindo e cantando Tente Outra Vez.
Não Pare na Pista - A Melhor História de Paulo Coelho (2014, Brasil)
Direção: Daniel Augusto
Roteiro: Carolina Kotscho
Com: Júlio Andrade, Ravel Andrade, Fabiana Gugli, Fabiula Nascimento, Enrique Diaz, Lucci Ferreira
Duração: 112 min.