O Mercado de Notícias
Desde que vi pela primeira vez o documentário Ilha das Flores, Jorge Furtado me chamou a atenção. É um diretor que vai além o trabalho tradicional. Gosta de experimentar, de contrapor ideias e de fazer pensar, sempre brincando com a própria linguagem. O Mercado de Notícias parece ser o ápice de tudo isso. Pelo menos por enquanto.
Para entender e investigar o jornalismo, ele se utilizou de uma vasta pesquisa, uma peça do século XVII e depoimentos de jornalistas que admira. Tudo isso foi misturado em um jogo bastante saudável, onde preparação, peça e entrevistas se misturam em capítulos instigantes para falar sobre a profissão, os valores, a ética e a eterna necessidade de investigar e contrapor ideias.
A peça em questão é O Mercado de Notícias escrita por Ben Jonson em 1625. Uma crítica ácida ao surgimento da imprensa. Furtado utiliza o texto da obra inglesa como ponto de comparação com a história do jornalismo e a situação atual dos veículos de comunicação brasileiros. Intercalando os depoimentos com partes da encenação da história, vamos fazendo paralelos interessantes.
O fato dele começar o filme com uma reunião de pré-produção onde explica sua proposta, a história da peça, do autor e a escolha dos entrevistados já nos deixa uma introdução interessante. Não precisamos quebrar a cabeça tentando entender significados e significantes. Está tudo muito claro. O jogo aqui é outro. Da exposição de fatos para construção de raciocínios sobre o papel da imprensa.
Ter jornalistas diversos, ajuda no debate. Não temos opiniões unilaterais, nem construções tendenciosas. Mesmo na questão política, que é um dos temas em questão. Afinal, todos declaram que a imprensa brasileira é partidária, ela só não explicita isso em muitos momentos, o que acaba sendo tendencioso. O documentário busca não fazer isso. Mesmo o episódio da bolinha de papel em Serra não deixa nada definitivo. Mostra os fatos, as câmeras, mas abre a possibilidade de ter sido outra pessoa.
Um dos pontos levantados por todo o documentário é a necessidade do repórter e a importância da reportagem investigativa. Vemos a cada dia, a imprensa se acomodar em sua casa, recebendo notícias pela internet, sem ir a campo, sem buscar novas fontes, sem se preocupar em descobrir a verdade, mas apenas em expor temas que lhe parecem interessantes. Vide o caso do Picasso do INSS. Com uma investigação não muito demorada, o filme conseguiu o que diversos jornais não se preocuparam em fazer.
O Mercado de Notícias é mais do que um filme. É uma discussão necessária sobre o papel da imprensa e como ela está se comportando no nosso país. É uma reflexão sobre o futuro dela diante das novas tecnologias e a facilidade de divulgar fatos pelas redes. É uma discussão sobre a comunicação e a ética. É um resgate de um dramaturgo e sua reflexão. E, como se não bastasse, é um exercício de linguagem. Ponto para Jorge Furtado e para Casa de Cinema de Porto Alegre tantos bons frutos já deu ao nosso cinema.
O Mercado de Notícias (Mercado de Notícias, 2014 / Brasil)
Direção: Jorge Furtado
Roteiro: Jorge Furtado
Com: Antônio Carlos Falcão, Eduardo Cardoso, Elisa Volpatto, Evandro Soldatelli, Irene Brietzke, Ismael Caneppele, Janaina Kremer, Marcos Contreras, Mirna Spritzer, Nelson Diniz, Sérgio Lulkin, Thiago Prade, Ursula Collischonn e Zé Adão Barbosa
Entrevistas: Bob Fernandes, Cristiana Lôbo, Fernando Rodrigues, Geneton Moraes Neto, Janio de Freitas, José Roberto de Toledo, Leandro Fortes, Luis Nassif, Mauricio Dias, Mino Carta, Paulo Moreira Leite, Raimundo Pereira e Renata Lo Prete
Duração: 94 min
Para entender e investigar o jornalismo, ele se utilizou de uma vasta pesquisa, uma peça do século XVII e depoimentos de jornalistas que admira. Tudo isso foi misturado em um jogo bastante saudável, onde preparação, peça e entrevistas se misturam em capítulos instigantes para falar sobre a profissão, os valores, a ética e a eterna necessidade de investigar e contrapor ideias.
A peça em questão é O Mercado de Notícias escrita por Ben Jonson em 1625. Uma crítica ácida ao surgimento da imprensa. Furtado utiliza o texto da obra inglesa como ponto de comparação com a história do jornalismo e a situação atual dos veículos de comunicação brasileiros. Intercalando os depoimentos com partes da encenação da história, vamos fazendo paralelos interessantes.
O fato dele começar o filme com uma reunião de pré-produção onde explica sua proposta, a história da peça, do autor e a escolha dos entrevistados já nos deixa uma introdução interessante. Não precisamos quebrar a cabeça tentando entender significados e significantes. Está tudo muito claro. O jogo aqui é outro. Da exposição de fatos para construção de raciocínios sobre o papel da imprensa.
Ter jornalistas diversos, ajuda no debate. Não temos opiniões unilaterais, nem construções tendenciosas. Mesmo na questão política, que é um dos temas em questão. Afinal, todos declaram que a imprensa brasileira é partidária, ela só não explicita isso em muitos momentos, o que acaba sendo tendencioso. O documentário busca não fazer isso. Mesmo o episódio da bolinha de papel em Serra não deixa nada definitivo. Mostra os fatos, as câmeras, mas abre a possibilidade de ter sido outra pessoa.
Um dos pontos levantados por todo o documentário é a necessidade do repórter e a importância da reportagem investigativa. Vemos a cada dia, a imprensa se acomodar em sua casa, recebendo notícias pela internet, sem ir a campo, sem buscar novas fontes, sem se preocupar em descobrir a verdade, mas apenas em expor temas que lhe parecem interessantes. Vide o caso do Picasso do INSS. Com uma investigação não muito demorada, o filme conseguiu o que diversos jornais não se preocuparam em fazer.
O Mercado de Notícias é mais do que um filme. É uma discussão necessária sobre o papel da imprensa e como ela está se comportando no nosso país. É uma reflexão sobre o futuro dela diante das novas tecnologias e a facilidade de divulgar fatos pelas redes. É uma discussão sobre a comunicação e a ética. É um resgate de um dramaturgo e sua reflexão. E, como se não bastasse, é um exercício de linguagem. Ponto para Jorge Furtado e para Casa de Cinema de Porto Alegre tantos bons frutos já deu ao nosso cinema.
O Mercado de Notícias (Mercado de Notícias, 2014 / Brasil)
Direção: Jorge Furtado
Roteiro: Jorge Furtado
Com: Antônio Carlos Falcão, Eduardo Cardoso, Elisa Volpatto, Evandro Soldatelli, Irene Brietzke, Ismael Caneppele, Janaina Kremer, Marcos Contreras, Mirna Spritzer, Nelson Diniz, Sérgio Lulkin, Thiago Prade, Ursula Collischonn e Zé Adão Barbosa
Entrevistas: Bob Fernandes, Cristiana Lôbo, Fernando Rodrigues, Geneton Moraes Neto, Janio de Freitas, José Roberto de Toledo, Leandro Fortes, Luis Nassif, Mauricio Dias, Mino Carta, Paulo Moreira Leite, Raimundo Pereira e Renata Lo Prete
Duração: 94 min
Amanda Aouad
Crítica afiliada à Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema), é doutora em Comunicação e Cultura Contemporâneas (Poscom / UFBA) e especialista em Cinema pela UCSal. Roteirista profissional desde 2005, é co-criadora do projeto A Guardiã, além da equipe do Núcleo Anima Bahia sendo roteirista de séries como "Turma da Harmonia", "Bill, o Touro" e "Tadinha". É ainda professora dos cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda da Unifacs e da Uniceusa. Atualmente, faz parte da diretoria da Abraccine como secretária geral.
O Mercado de Notícias
2014-08-12T08:30:00-03:00
Amanda Aouad
cinema brasileiro|critica|documentario|filme brasileiro|Jorge Furtado|
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