Curtas:
Vento Virado (MG, Leonardo Cata Preta)
Geru (SP, Fábio Baldo e Tico Dias)
Longa:
Pingo D'água (PB, Taciano Valério)
A quarta noite do Festival e terceira da mostra competitiva foi a mais fria do público, tendo inclusive boa parte saído antes do final da exibição de Pingo D'água. Ironicamente, foi a que gerou o debate mais interessante no dia anterior na coletiva com as equipes.
A discrepância se deu pela linguagem experimental das três obras apresentadas. O curta Vento Virado constrói uma experiência estética curiosa de um homem que vive em uma espécie de buraco colecionando objetos de lembranças. Uma espécie de inconsciente, talvez.
Já o curta Geru traz um personagem singelo, um senhor do interior de Sergipe, prestes a fazer cem anos. Zé Dias sofreu uma trastectomia e não pode mais falar, o filme vai acompanhando sua rotina, construindo aos pouco uma relação do homem com a câmera.
No debate, os diretores contaram que o senhor retratado (que é avô de Tico Dias), nunca foi a um cinema e não tinha muita relação com filmes. Mas, aos pouco ele foi compreendendo o processo e até mesmo interferindo mais diretamente. "Em determinado momento, ele começou a entender o jogo do 'ação e corta' e pedia para repetir algumas seqüências.
Mas, o debate que rendeu mesmo foi o do longametragem Pingo D'água, enriquecido principalmente pela presença do crítico e estudioso Jean Claude Bernardet, que atua no filme. Em determinada cena, ele inclusive fala que deixou a crítica, demonstrando sua construção e descontração de linguagem.
Pingo D'água é sobre tudo e sobre nada. Um dos pontos mais discutidos no debate foi exatamente se ele seria ausente de significado. Não é um filme mesmo fácil de se desvendar pelo racional. Há muita metalinguagem filme dentro de filme, jogos metafóricos. Um jogo de imagens referenciadas em livros, performances, discussões, encenações e uma mala engolindo literalmente seu protagonista.
Curtas:
Nua por Dentro do Couro (MA, Lucas Sá)
Castillo y el Armado (RS, Pedro Harres)
Longa:
Branco Sai. Preto Fica (DF, Adirley Queiroz)
Se o terceiro dia de competitiva foi frio em termos de público, o quarto foi o mais agitado e esperado pelos habitantes de Brasília. Branco sai. Preto fica é uma obra dirigida pelo cineasta local Adirley Queiroz e fala da população da cidade de Ceilândia e, particularmente, sobre um evento ocorrido nos anos 80, quando a polícia invadiu um baile funk local, gerando consequências.
Adirley Queiroz falou no debate que esse evento é uma espécie de mito na Ceilândia, todos tem uma versão, todos estiveram lá, mesmo não estando. E, por isso, a construção em forma de fábula. A frase final do filme resume isso "Nossa história, nós mesmo fabulamos" e é isso que vemos em cena. Uma ficção científica atípica, em uma realidade paralela, onde Brasília está literalmente cercada e só com passaporte para entrar lá.
A mistura de realidade e ficção constrói imagens fortes. O ator Marquim do Tropa confessou no debate o quão difícil é encenar sua própria história. "Quem se sente bem falando de si?" Mesmo com uma reconstrução da realidade, a base é construída da memória deles. E tudo é mesmo instigante.
Realizado com base na realidade é também a animação Castillo y el Armado, inspirada em um acontecimento real com o artista Ruben Castillo, tanto que o protagonista é uma caricatura dele que também empresta sua voz ao personagem. Mas, ao contrário de Marquim do Tropa, ele disse não ter tido problemas em separar o personagem de si mesmo. Claro que em desenho fica mais fácil.
Já o curta Nua Por Dentro do Couro, é uma ficção que flerta com o trash. Inventado pelo cineasta maranhense Lucas Sá, foi produzido na universidade de Pelotas, onde estuda. Mas, a história ele já vinha desenvolvendo há tempos, tanto que se tornará um longa-metragem.
No debate, Lucas explicou que muitas questões que ficaram soltas no curta, serão explicadas no longa, como um tio citado pela personagem e o próprio monstro da banheira.