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Até que a Sbórnia nos separe
Até que a Sbórnia nos separe
Mais do que a adaptação para o cinema da peça "Tangos & Tragédias", que fez sucesso nos palcos gaúchos por anos, Até que a Sbórnia nos separe é uma novidade bem-vinda no cinema nacional. Uma animação inteligente, irônica e com diversas camadas de crítica à nossa sociedade.
A trama, narrada pelo velho Dimitrius nos apresenta a lendária ilha de Sbórnia, que em um tempo distante era ligada ao continente por um caminho estreito e separado por um imenso muro. Quando uma partida de Machadobol derruba por acidente o muro reconectando a população local ao continente, acontecimentos diversos acabam por provocar sua separação definitiva.
No centro da narrativa estão os músicos Kraunus Sang e Pletskaya. O primeiro, descendente direto do Marechal que teve a ideia de erguer o muro da Sbórnia, se mantém fiel aos costumes locais e se incomoda profundamente com as mudanças após a queda do muro. Já o segundo, acaba se apaixonando pela bela Cocliquot e pouco se importa com o que está acontecendo na ilha.
A ironia da história está nos pequenos paralelos que podemos construir com as criações da ilha. Só o fato de ser uma ilha isolada, fechada em seus próprios costumes que começa a ser invadida pelas novidades capitalistas, já traz algumas referências. A diferença é que Sbórnia talvez seja o único governo anarquista de que se tem notícias na história.
Temos também algumas piadas com a chegada da população do continente à ilha como a moda feminina e a erva que gera uma bebida de sucesso a ser explorada por um empresário inescrupuloso, o Bizuwin. Temos momentos divertidos ainda como uma dança da música Não se Reprima dos Menudos na praia.
Mas, o grande jogo envolvido aí, é exatamente essa crítica a tudo e a todos. Aos anarquistas, que tem a estátua do seu herói em um vidro coberto por moscas. Ao consumismo, com o sucesso desenfreado da Bizuwin e suas campanhas de marketing com personagens infantis. Da sociedade em geral, com o empresário e sua mulher arranjando o casamento da filha Cocliquot com o velho milionário.
A personagem Cocliquot, inclusive, é algo a parte. Vive nesse mundo novo, mas gosta de ficar trancada no quarto lendo Macunaíma. E mesmo em meio a um mundo liberal é obrigada a ter aulas de piano, como uma sinhazinha do passado e tem que casar com um homem que tem idade para ser seu avô.
A animação é ainda mais rica por toda a construção sonora. Os personagens principais são dublados pelos próprios Nico Nicolaiewsky e Hique Gomez. O empresário tem a voz de André Abujamra, que assina a trilha sonora do filme. Sua terrível esposa Alba é Arlete Salles. E a jovem Cocliquot é Fernanda Takai que também tem música na trilha.
O traço é bem feito e a construção de detalhes é muito boa. Vide uma cena logo no início que faz um paralelo entre o violento jogo de Machadobol com duas crianças jogando gude próximo à muralha.
Até que a Sbórnia nos separe é daquelas ricas obras que nos mostram que animação é mais do que um filme para crianças. Tem uma certa ingenuidade na construção de situações, falas e atitudes dos personagens e é compreensível para um público mais jovem, mas ganha muito mais com uma compreensão macro de tudo que aquilo representa.
Até que a Sbórnia nos separe (2014, Brasil)
Direção: Otto Guerra, Ennio Torresan Jr.
Roteiro: Otto Guerra, Ennio Torresan Jr., Tomás Creus, Rodrigo John
Duração: 90 min.
A trama, narrada pelo velho Dimitrius nos apresenta a lendária ilha de Sbórnia, que em um tempo distante era ligada ao continente por um caminho estreito e separado por um imenso muro. Quando uma partida de Machadobol derruba por acidente o muro reconectando a população local ao continente, acontecimentos diversos acabam por provocar sua separação definitiva.
No centro da narrativa estão os músicos Kraunus Sang e Pletskaya. O primeiro, descendente direto do Marechal que teve a ideia de erguer o muro da Sbórnia, se mantém fiel aos costumes locais e se incomoda profundamente com as mudanças após a queda do muro. Já o segundo, acaba se apaixonando pela bela Cocliquot e pouco se importa com o que está acontecendo na ilha.
A ironia da história está nos pequenos paralelos que podemos construir com as criações da ilha. Só o fato de ser uma ilha isolada, fechada em seus próprios costumes que começa a ser invadida pelas novidades capitalistas, já traz algumas referências. A diferença é que Sbórnia talvez seja o único governo anarquista de que se tem notícias na história.
Temos também algumas piadas com a chegada da população do continente à ilha como a moda feminina e a erva que gera uma bebida de sucesso a ser explorada por um empresário inescrupuloso, o Bizuwin. Temos momentos divertidos ainda como uma dança da música Não se Reprima dos Menudos na praia.
Mas, o grande jogo envolvido aí, é exatamente essa crítica a tudo e a todos. Aos anarquistas, que tem a estátua do seu herói em um vidro coberto por moscas. Ao consumismo, com o sucesso desenfreado da Bizuwin e suas campanhas de marketing com personagens infantis. Da sociedade em geral, com o empresário e sua mulher arranjando o casamento da filha Cocliquot com o velho milionário.
A personagem Cocliquot, inclusive, é algo a parte. Vive nesse mundo novo, mas gosta de ficar trancada no quarto lendo Macunaíma. E mesmo em meio a um mundo liberal é obrigada a ter aulas de piano, como uma sinhazinha do passado e tem que casar com um homem que tem idade para ser seu avô.
A animação é ainda mais rica por toda a construção sonora. Os personagens principais são dublados pelos próprios Nico Nicolaiewsky e Hique Gomez. O empresário tem a voz de André Abujamra, que assina a trilha sonora do filme. Sua terrível esposa Alba é Arlete Salles. E a jovem Cocliquot é Fernanda Takai que também tem música na trilha.
O traço é bem feito e a construção de detalhes é muito boa. Vide uma cena logo no início que faz um paralelo entre o violento jogo de Machadobol com duas crianças jogando gude próximo à muralha.
Até que a Sbórnia nos separe é daquelas ricas obras que nos mostram que animação é mais do que um filme para crianças. Tem uma certa ingenuidade na construção de situações, falas e atitudes dos personagens e é compreensível para um público mais jovem, mas ganha muito mais com uma compreensão macro de tudo que aquilo representa.
Até que a Sbórnia nos separe (2014, Brasil)
Direção: Otto Guerra, Ennio Torresan Jr.
Roteiro: Otto Guerra, Ennio Torresan Jr., Tomás Creus, Rodrigo John
Duração: 90 min.
Amanda Aouad
Crítica afiliada à Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema), é doutora em Comunicação e Cultura Contemporâneas (Poscom / UFBA) e especialista em Cinema pela UCSal. Roteirista profissional desde 2005, é co-criadora do projeto A Guardiã, além da equipe do Núcleo Anima Bahia sendo roteirista de séries como "Turma da Harmonia", "Bill, o Touro" e "Tadinha". É ainda professora dos cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda da Unifacs e da Uniceusa. Atualmente, faz parte da diretoria da Abraccine como secretária geral.
Até que a Sbórnia nos separe
2014-10-31T08:30:00-03:00
Amanda Aouad
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