
Por ser um produto experimental, com uma proposta tão realista, Boyhood nos dá uma sensação quase documental. Acompanhamos aquele garoto e aquela família ao passar dos anos de uma maneira bem particular, saltando a acontecimentos aparentemente aleatórios que nos dão um vislumbre de sua vida, mas nunca chega a aprofundar personagem ou trama.

O recorte, no entanto, é por vezes brusco. Saltamos de um ano a outro com uma sensação aleatória, onde algumas elipses nos fazem falta. Ou pelo menos nos deixam instigados a saber o que aconteceu naquele ínterim. Simplesmente de um corte de uma cena a outra, percebemos a passagem de tempo pela fisionomia dos atores e por aterrissarmos em outra realidade sem muitas explicações. Vamos pescando as mudanças.

Porém, os saltos acabam dando à trama um tom quase artificial. Mesmo depois de acompanhar doze anos de sua vida, não conseguimos falar muito sobre Mason, por exemplo. A construção do personagem não parece tão sólida a ponto de poder defini-lo. E de nenhum personagem. Não aprofundamos suas personalidades nem histórias, ao ver apenas recortes delas.

O ritmo do filme segue o tom documental, já característico de Richard Linklater, com planos longos conduzidos por diálogos fluidos. Não há a tradicional construção de curva dramática tão definida, nos guiando em plots pouco deterministas, apenas seguindo o fluxo da vida.
No final, Boyhood, que a distribuição brasileira teve que criar o desnecessário subtítulo "Da infância à juventude", atrai mais pela experiência que pelo filme. Porém, pela verdade e sensibilidade dos envolvidos não deixa de ser uma bela experiência cinematográfica.
Boyhood - Da infância à juventude (Boyhood, 2014 / EUA)
Direção: Richard Linklater
Roteiro: Richard Linklater
Com: Ellar Coltrane, Patricia Arquette, Ethan Hawke, Lorelei Linklater
Duração: 165 min.