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A História da Eternidade

A História da EternidadeTrês mulheres, três fases da vida, um único local. Em seu primeiro longametragem, Camilo Cavalcante amplia o universo do seu curta de mesmo nome e nos brinda com imagens e experiências impressionantes.

Afonsina, vivida por Débora Ingrid, está prestes a completar 15 anos. seu maior sonho é conhecer o mar. Mas, por enquanto, tem que se contentar em cuidar do pai, dos irmãos e do tio sonhador que mora na casa ao lado deles. Querência, interpretada por Marcelia Cartaxo, acaba de enterrar seu filho pequeno. Na faixa dos quarenta anos, pensa que a vida acabou, mas o cego Aderaldo vai cortejá-la com seu amor e seu acordeon. Já Dona Das Dores, vivida por Zezita Matos, está no fim da vida e tem poucos sonhos ou mesmo desejos. Até que seu neto vem de São Paulo para uma temporada em sua casa.

A História da EternidadeNesse pequeno vilarejo, perdido no meio do nada no sertão, A História da Eternidade vai construindo esses três núcleos que ainda tem o conflito dos irmãos, pai e tio de Afonsina. O primeiro, vivido por Claudio Jaborandy, um homem rústico, bravo, criador de cabras que leva a família com regras rígidas. O segundo, interpretado por Irandhir Santos, é um artista, sonhador, criativo, sensível e que, ironicamente, sofre de epilepsia, sem que ninguém saiba do que se trata.

Com arcos bem construídos e um equilíbrio entre os núcleos, chama a atenção no filme é sua composição estética. Há planos extremamente sensíveis como o primeiro embate entre os irmãos Nataniel e Joãozinho. Os dois se encarando à luz do candeeiro, sem palavras, nos dá a noção daquele contraste, de dois mundos que parecem nunca se aproximar.

A História da EternidadeContraste também parece ser a palavra de ordem para o sonho de Afonsina. Da sua realidade seca, com as fotos de mar coladas na cabeceira de sua cama. Vemos ela colocar sal em uma banheira de água, por exemplo, para sentir a sensação da água salgada no rosto. Mas, a cena mais bela é mesmo quando recebe o presente de aniversário de seu tio. A encenação é construída de maneira crível e poética, sendo também uma metáfora da própria arte que nos faz viajar por mundos não conhecidos e distantes.

Arte essa que Joãozinho parece dominar bem, vide a cena em que ele faz uma performance em frente a sua casa. O inusitado da cena, o estranhamento dos vizinhos, a alegria da sobrinha, a raiva do irmão. Tudo acaba traduzido em expressões corporais e na letra que acaba resumindo os sonhos e desejos reprimidos daquela comunidade. Não por acaso há muito ironia na resolução dela.

A História da EternidadeE isso nos leva a própria crença do pecado na cena da igreja onde Das Dores demonstra toda a sua angústia. O sofrimento parece ser a palavra de ordem local, ainda que o desejo seja da realização de sonhos e do encontro com o amor. Amores, por vezes, tortos, estranhos, mas que despertam algo profundo.

E diante de tanta ebulição de sentimentos e sensações, os atores acabam também se destacando. Irandhir Santos, Marcelia Cartaxo, Débora Ingrid e Zezita Matos foram premiados em Paulínia e fazem jus aos prêmios. Mas, destaco também Claudio Jaborandy que dá ao Nataniel o tom necessário, apresentando belas cenas. Ainda que pareça escorregar na cena de bebedeira. Já Irandhir Santos, excelente como sempre, só me preocupa começar a se repetir. Ainda que diferente, seus últimos papéis trazem semelhanças que possam deixá-lo marcado, o que não é bom.

De qualquer maneira, A História da Eternidade é daqueles filmes que envolvem o público em geral, com personagens e histórias bem contadas. Ainda que com alguns exageros. E encanta a crítica com cuidados estéticos. Tem tudo para ser um dos grandes filmes do ano, caso estreie em circuito comercial ainda em 2014.


Visto no X Panorama Internacional Coisa de Cinema.

A História Da Eternidade (2014 / Brasil)
Direção: Camilo Cavalcante
Roteiro: Camilo Cavalcante
Com: Marcelia Cartaxo, Leonardo França, Débora Ingrid, Irandhir Santos, Zezita Matos, Claudio Jaborandy, Maxwell Nascimento
Duração: 121 min.

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