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Meu Tio da América
Meu Tio da América
Meu Tio da América é daqueles filmes que é bom ver mais de uma vez, para entender todas as nuanças do que Alain Resnais quis nos passar em imagens, sons e pensamentos.
O filme é uma espécie de mockumentary, pois simula a pesquisa do professor Henri Laborit sobre a mente humana à luz da psicologia evolucionista. Acompanhamos o seu pensamento sobre o cérebro humano, como ele se diferencia dos animais irracionais e onde se aproximam. Enquanto isso, nos é narrada a história de três personagens. René Ragueneau, vivido por Gérard Depardieu. Janine Garnier, interpretada por Nicole Garcia. E Jean Le Gall, vivido por Roger Pierre.
Os minutos iniciais do filme nos lembram um pouco o estilo de linguagem de Hiroshima Mon Amour, outra obra do diretor, por nos trazer narrações em voz over sobrepostas por imagens estáticas. A construção em paralelo da pesquisa com a voz masculina e da história dos personagens pela voz feminina também nos remete ao filme citado. A partir do momento em que apresenta o professor Henri Laborit, vamos acompanhando sua narração sobre experiências no laboratório, enquanto a voz dos próprios personagens continuam suas histórias.
Essa estrutura aparentemente didática, na verdade, traz outra linguagem à obra simulando esse documentário investigativo sobre a pesquisa do professor e sobre a mente humana. A capacidade de reagir a acontecimentos adversos é o tema central. Os três personagens passam por desafios onde precisam tomar decisões que definirão suas vidas. Aceitar o desafio de um novo cargo no trabalho. Largar a família. Ir em busca de seu sonho. Aceitar uma derrota. Escolher e aceitar as consequências.
Os três acabam se ligando de alguma forma, como boas cobaias. Mas, o filme também não pode ser resumido a uma experiência científica. É a representação das angústias de seu realizador. Da instabilidade diante de uma mudança, da sensação de sufocamento diante do mundo da época. Não por acaso, traz no título o nome da América, terra prometida, de grandes oportunidades, mas que na verdade pode ser uma grande armadilha.
O mundo é construído por Alain Resnais como essa grande armadilha, seja para um ratinho de laboratório, ou para um ser humano racional. E a América, representação maior do capitalismo e do sistema social e econômico, nos cobra um determinado tipo de sucesso o tempo inteiro. Sucesso esse que pode acabar nos travando. A busca por oportunidades nos torna vivos, mas o medo de arriscar nos torna medíocres.
Meu Tio da América acaba sendo isso, um símbolo, uma metáfora. Em determinado momento, há uma citação direta de um homem que foi tentar a vida lá e morreu como indigente. Mas, isso é muito pouco para definir o que o título significa.
Meu Tio da América (Mon oncle d'Amérique, 1980 / França)
Direção: Alain Resnais
Roteiro: Jean Gruault, Henri Laborit
Com: Gérard Depardieu, Nicole Garcia, Roger Pierre
Duração: 125 min.
O filme é uma espécie de mockumentary, pois simula a pesquisa do professor Henri Laborit sobre a mente humana à luz da psicologia evolucionista. Acompanhamos o seu pensamento sobre o cérebro humano, como ele se diferencia dos animais irracionais e onde se aproximam. Enquanto isso, nos é narrada a história de três personagens. René Ragueneau, vivido por Gérard Depardieu. Janine Garnier, interpretada por Nicole Garcia. E Jean Le Gall, vivido por Roger Pierre.
Os minutos iniciais do filme nos lembram um pouco o estilo de linguagem de Hiroshima Mon Amour, outra obra do diretor, por nos trazer narrações em voz over sobrepostas por imagens estáticas. A construção em paralelo da pesquisa com a voz masculina e da história dos personagens pela voz feminina também nos remete ao filme citado. A partir do momento em que apresenta o professor Henri Laborit, vamos acompanhando sua narração sobre experiências no laboratório, enquanto a voz dos próprios personagens continuam suas histórias.
Essa estrutura aparentemente didática, na verdade, traz outra linguagem à obra simulando esse documentário investigativo sobre a pesquisa do professor e sobre a mente humana. A capacidade de reagir a acontecimentos adversos é o tema central. Os três personagens passam por desafios onde precisam tomar decisões que definirão suas vidas. Aceitar o desafio de um novo cargo no trabalho. Largar a família. Ir em busca de seu sonho. Aceitar uma derrota. Escolher e aceitar as consequências.
Os três acabam se ligando de alguma forma, como boas cobaias. Mas, o filme também não pode ser resumido a uma experiência científica. É a representação das angústias de seu realizador. Da instabilidade diante de uma mudança, da sensação de sufocamento diante do mundo da época. Não por acaso, traz no título o nome da América, terra prometida, de grandes oportunidades, mas que na verdade pode ser uma grande armadilha.
O mundo é construído por Alain Resnais como essa grande armadilha, seja para um ratinho de laboratório, ou para um ser humano racional. E a América, representação maior do capitalismo e do sistema social e econômico, nos cobra um determinado tipo de sucesso o tempo inteiro. Sucesso esse que pode acabar nos travando. A busca por oportunidades nos torna vivos, mas o medo de arriscar nos torna medíocres.
Meu Tio da América acaba sendo isso, um símbolo, uma metáfora. Em determinado momento, há uma citação direta de um homem que foi tentar a vida lá e morreu como indigente. Mas, isso é muito pouco para definir o que o título significa.
Meu Tio da América (Mon oncle d'Amérique, 1980 / França)
Direção: Alain Resnais
Roteiro: Jean Gruault, Henri Laborit
Com: Gérard Depardieu, Nicole Garcia, Roger Pierre
Duração: 125 min.
Amanda Aouad
Crítica afiliada à Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema), é doutora em Comunicação e Cultura Contemporâneas (Poscom / UFBA) e especialista em Cinema pela UCSal. Roteirista profissional desde 2005, é co-criadora do projeto A Guardiã, além da equipe do Núcleo Anima Bahia sendo roteirista de séries como "Turma da Harmonia", "Bill, o Touro" e "Tadinha". É ainda professora dos cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda da Unifacs e da Uniceusa. Atualmente, faz parte da diretoria da Abraccine como secretária geral.
Meu Tio da América
2014-11-18T08:30:00-03:00
Amanda Aouad
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