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As Férias do Pequeno Nicolau
As Férias do Pequeno Nicolau
Baseado nos quadrinhos de René Goscinny e Sempé, O Pequeno Nicolau tinha encantado o mundo no filme de 2010. Divertido, envolvente, com um viés infantil, mas ótimas sacadas e críticas ao mundo adulto. Laurent Tirard resolve, então, trazer uma sequência, com uma trama de um dos livros da série, e parece que algo do encanto do filme anterior se perdeu.
A começar pelo ator, Maxime Godart deu lugar a Mathéo Boisselier e continua sendo um ator mirim de destaque, mas o pequeno anterior parecia ter mais carisma. Adoramos ver os pensamentos de Nicolau e suas confusões ao levar ao pé da letra as falas dos adultos, vide a cena da imaginação da avó "enterrando a todos". Mas, algo no garoto não nos convence completamente da personalidade do personagem.
Outro problema que não encontrávamos no anterior é o apelo para algumas situações bobas como a enorme sequência da noite mal dormida por causa do ronco da avó. Como piada inicial, funciona, mas Laurent Tirard alonga ao extremo, tornando tudo um pouco cansativo. Assim como é exagerada toda a subtrama do diretor italiano. Principalmente, porque aqui não temos mais o ponto de vista exclusivo de Nicolau. O roteiro abre sua visão para os adultos e todo aquele clima nonsense visualizado pelas crianças se perde, tornando o tom over.
A trama também pode ser considerada repetitiva. Se no filme anterior, Nicolau achava que seria descartado porque seus pais teriam outro bebê, aqui, ele pensa que será obrigado a casar com uma garotinha que parece saída do filme O Iluminado. O plot da obra se torna, então, ele e os amigos criando um plano para que o "casório" não aconteça, nos mesmos moldes do anterior, onde o plano era impedir que ele fosse "jogado fora".
Porém, apesar dos problemas apontados, As Férias do Pequeno Nicolau continua funcionando principalmente por esse viés da infância e da comédia não apelativa. Há uma graça própria nas digressões de Nicolau e no mundo que ele nos apresenta. A forma como ele encara os acontecimentos e o timming das imagens diante de suas conclusões. A sua questão com as "namoradas", por exemplo, é extremamente divertida, seja nas cartas que escreve ou nas cenas em que contracena com elas.
Ainda que muito se perca com o foco exclusivo em seu olhar, também é interessante compreender um pouco mais do mundo de seus pais. Desde o desgaste com o casamento, passando pela implicância da avó, a sombra do ex-namorado Fred, a garota bonita do hotel e o diretor de cinema. Sem falar na questão do chefe. Tudo acaba criando uma subtrama interessante, ainda que não tão envolvente quando a do pequeno Nicolau, onde também há críticas e questões levantadas.
Uma piada desnecessária por ser muito particular do universo francês é a trama paralela do funcionário da escola em uma Paris quase abandonada. Pode ser divertido para os parisienses verem, mas a ironia que soa quase como "piada interna" nos parece exagerada e sem propósito dentro da trama apresentada. Acaba funcionando como uma esquete a parte sem grandes contribuições.
No final das contas, As Férias do Pequeno Nicolau é um filme para crianças se divertirem sem maiores compromissos e sem irritar seus pais. Está muito aquém da obra de 2010 que nos apresentou o personagem, mas também não chega a ser um filme ruim.
As Férias do Pequeno Nicolau (Les vacances du petit Nicolas, 2014 / França)
Direção: Laurent Tirard
Roteiro: Laurent Tirard, Jaco Van Dormael e Grégoire Vigneron
Com: Valérie Lemercier, Kad Merad, Dominique Lavanant, Mathéo Boisselier
Duração: 97 min.
A começar pelo ator, Maxime Godart deu lugar a Mathéo Boisselier e continua sendo um ator mirim de destaque, mas o pequeno anterior parecia ter mais carisma. Adoramos ver os pensamentos de Nicolau e suas confusões ao levar ao pé da letra as falas dos adultos, vide a cena da imaginação da avó "enterrando a todos". Mas, algo no garoto não nos convence completamente da personalidade do personagem.
Outro problema que não encontrávamos no anterior é o apelo para algumas situações bobas como a enorme sequência da noite mal dormida por causa do ronco da avó. Como piada inicial, funciona, mas Laurent Tirard alonga ao extremo, tornando tudo um pouco cansativo. Assim como é exagerada toda a subtrama do diretor italiano. Principalmente, porque aqui não temos mais o ponto de vista exclusivo de Nicolau. O roteiro abre sua visão para os adultos e todo aquele clima nonsense visualizado pelas crianças se perde, tornando o tom over.
A trama também pode ser considerada repetitiva. Se no filme anterior, Nicolau achava que seria descartado porque seus pais teriam outro bebê, aqui, ele pensa que será obrigado a casar com uma garotinha que parece saída do filme O Iluminado. O plot da obra se torna, então, ele e os amigos criando um plano para que o "casório" não aconteça, nos mesmos moldes do anterior, onde o plano era impedir que ele fosse "jogado fora".
Porém, apesar dos problemas apontados, As Férias do Pequeno Nicolau continua funcionando principalmente por esse viés da infância e da comédia não apelativa. Há uma graça própria nas digressões de Nicolau e no mundo que ele nos apresenta. A forma como ele encara os acontecimentos e o timming das imagens diante de suas conclusões. A sua questão com as "namoradas", por exemplo, é extremamente divertida, seja nas cartas que escreve ou nas cenas em que contracena com elas.
Ainda que muito se perca com o foco exclusivo em seu olhar, também é interessante compreender um pouco mais do mundo de seus pais. Desde o desgaste com o casamento, passando pela implicância da avó, a sombra do ex-namorado Fred, a garota bonita do hotel e o diretor de cinema. Sem falar na questão do chefe. Tudo acaba criando uma subtrama interessante, ainda que não tão envolvente quando a do pequeno Nicolau, onde também há críticas e questões levantadas.
Uma piada desnecessária por ser muito particular do universo francês é a trama paralela do funcionário da escola em uma Paris quase abandonada. Pode ser divertido para os parisienses verem, mas a ironia que soa quase como "piada interna" nos parece exagerada e sem propósito dentro da trama apresentada. Acaba funcionando como uma esquete a parte sem grandes contribuições.
No final das contas, As Férias do Pequeno Nicolau é um filme para crianças se divertirem sem maiores compromissos e sem irritar seus pais. Está muito aquém da obra de 2010 que nos apresentou o personagem, mas também não chega a ser um filme ruim.
As Férias do Pequeno Nicolau (Les vacances du petit Nicolas, 2014 / França)
Direção: Laurent Tirard
Roteiro: Laurent Tirard, Jaco Van Dormael e Grégoire Vigneron
Com: Valérie Lemercier, Kad Merad, Dominique Lavanant, Mathéo Boisselier
Duração: 97 min.
Amanda Aouad
Crítica afiliada à Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema), é doutora em Comunicação e Cultura Contemporâneas (Poscom / UFBA) e especialista em Cinema pela UCSal. Roteirista profissional desde 2005, é co-criadora do projeto A Guardiã, além da equipe do Núcleo Anima Bahia sendo roteirista de séries como "Turma da Harmonia", "Bill, o Touro" e "Tadinha". É ainda professora dos cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda da Unifacs e da Uniceusa. Atualmente, faz parte da diretoria da Abraccine como secretária geral.
As Férias do Pequeno Nicolau
2014-12-21T08:30:00-03:00
Amanda Aouad
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