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Homens, Mulheres & Filhos
Homens, Mulheres & Filhos
A tecnologia avançou a um ponto em que podemos nos comunicar com qualquer pessoa no planeta facilmente. E há um tempo, estamos tentando uma comunicação fora da Terra, em busca de vida inteligente pela galáxia. Mas, apesar de tudo isso, parece que somos incapazes de dialogar com quem está ao nosso lado. E disso que fala Homens, Mulheres & Filhos, novo filme de Jason Reitman.
Na trama, acompanhamos famílias onde o diálogo parece o maior obstáculo para uma vida tranquila. Problemas acontecem porque pais são incapazes de conversar com seus filhos, casais não conseguem dialogar entre si e problemas vão se acumulando, enquanto a tecnologia os cerca como válvula de escape para tudo. É lá que o pai e o garoto procuram prazer sexual. Que outro garoto gasta sua energia em um jogo de luta e conversas sem compromisso. Onde outra mulher também busca novos relacionamentos. Ou ainda uma mãe expõe sua filha que sonha em ser atriz, enquanto que outra monitora até os pensamentos da sua filha.
Homens, Mulheres & Filhos já traz no título uma boa dica dessas relações. Não são pais e mães, são homens e mulheres que parecem fazer tudo menos exercer a paternidade e a maternidade com responsabilidade e zelo. No caso do título em português, os filhos ficaram mais explícitos que "children" do título original, que apesar de ser filhos, é também crianças. Talvez porque o ponto aqui não seja a relação familiar, mas a maturidade de cada personagem. Apesar de que muitos dos filhos estão mais para homens e mulheres, enquanto que seus pais parecem crianças.
O fato é que o filme de Jason Reitman busca este tom de observação das relações humanas e suas dificuldades com a mesma destreza que ele já demonstrou em outras obras como Juno, Obrigado por Fumar ou Amor Sem Escalas. A forma como as situações e diálogos vão nos demonstrando, mais do que dizendo de maneira expositiva, o que são aqueles personagens e suas principais dores, é o que mais encanta. E é bastante feliz que a narradora, na voz de Emma Thompson, vá nos conduzindo nessa história do espaço, em uma referência ao vídeo "Pálido Ponto Azul", demonstrando a insignificância de tudo isso em uma visão macro, mas que na visão micro é tudo que conhecemos e que nos faz continuar existindo.
A tecnologia, claro, também ajuda a contar a história. Jason Reitman e a também roteirista Erin Cressida Wilson conseguiram utilizar as mensagens de uma maneira bastante criativa. Temos as interfaces das diversas telas pulando no vídeo, como já vimos em diversos filmes, mas eles acabam criando situações próprias como quando três meninas conversam no estádio do colégio e duas também conversam pelo celular, comentando coisas sobre a terceira. Ou quando o casal está cada um com seu tablet na cama e a televisão fala "tenha um caso", fazendo os dois olharem.
Mesmo que cada história tenha um peso na trama, parece que à medida que a projeção avança, a relação dos personagens de Kaitlyn Dever e Ansel Elgort vai se tornando o fio condutor, até mesmo por traduzir um pouco do todo. Temos casais em crise, traições, separações, brigas, sonhos, rejeições, problemas com o próprio corpo, medos, controle, descobertas. E enquanto que a jovem Brandy só quer ser ela mesma, sem o controle excessivo de sua mãe, interpretada por Jennifer Garner. O jovem Tim passa por problemas de depressão ao ser abandonado pela mãe e vive em crise com o pai, vivido pelo ator Dean Norris, por ter largado o time de futebol do colégio, onde era a estrela.
No final das contas temos um bom vislumbre do tema do filme, que nos remete novamente para o "Pálido Ponto Azul". Tudo pode ser extremamente trágico ou insignificante a depender do ponto de vista. Temos a tendência de supervalorizar nossos próprios problemas, sem observar o que está no entorno. Isso me lembra uma frase do filme Contato, "Por menor que sejamos, quão preciosos somos". E não adianta viajar por galáxias, nos conectar ao mundo inteiro, se não conseguirmos nos conectar com quem está ao nosso lado. Porque a vida é feita de relações humanas, é isso que nos mantém vivos e faz tudo fazer sentido.
Homens, Mulheres & Filhos (Men, Women & Children, 2014 / EUA)
Direção: Jason Reitman
Roteiro: Jason Reitman, Erin Cressida Wilson
Com: Kaitlyn Dever, Rosemarie DeWitt, Ansel Elgort, Adam Sandler, Judy Greer, Dean Norris, Jennifer Garner e Emma Thompson (voz)
Duração: 119 min.
Na trama, acompanhamos famílias onde o diálogo parece o maior obstáculo para uma vida tranquila. Problemas acontecem porque pais são incapazes de conversar com seus filhos, casais não conseguem dialogar entre si e problemas vão se acumulando, enquanto a tecnologia os cerca como válvula de escape para tudo. É lá que o pai e o garoto procuram prazer sexual. Que outro garoto gasta sua energia em um jogo de luta e conversas sem compromisso. Onde outra mulher também busca novos relacionamentos. Ou ainda uma mãe expõe sua filha que sonha em ser atriz, enquanto que outra monitora até os pensamentos da sua filha.
Homens, Mulheres & Filhos já traz no título uma boa dica dessas relações. Não são pais e mães, são homens e mulheres que parecem fazer tudo menos exercer a paternidade e a maternidade com responsabilidade e zelo. No caso do título em português, os filhos ficaram mais explícitos que "children" do título original, que apesar de ser filhos, é também crianças. Talvez porque o ponto aqui não seja a relação familiar, mas a maturidade de cada personagem. Apesar de que muitos dos filhos estão mais para homens e mulheres, enquanto que seus pais parecem crianças.
O fato é que o filme de Jason Reitman busca este tom de observação das relações humanas e suas dificuldades com a mesma destreza que ele já demonstrou em outras obras como Juno, Obrigado por Fumar ou Amor Sem Escalas. A forma como as situações e diálogos vão nos demonstrando, mais do que dizendo de maneira expositiva, o que são aqueles personagens e suas principais dores, é o que mais encanta. E é bastante feliz que a narradora, na voz de Emma Thompson, vá nos conduzindo nessa história do espaço, em uma referência ao vídeo "Pálido Ponto Azul", demonstrando a insignificância de tudo isso em uma visão macro, mas que na visão micro é tudo que conhecemos e que nos faz continuar existindo.
A tecnologia, claro, também ajuda a contar a história. Jason Reitman e a também roteirista Erin Cressida Wilson conseguiram utilizar as mensagens de uma maneira bastante criativa. Temos as interfaces das diversas telas pulando no vídeo, como já vimos em diversos filmes, mas eles acabam criando situações próprias como quando três meninas conversam no estádio do colégio e duas também conversam pelo celular, comentando coisas sobre a terceira. Ou quando o casal está cada um com seu tablet na cama e a televisão fala "tenha um caso", fazendo os dois olharem.
Mesmo que cada história tenha um peso na trama, parece que à medida que a projeção avança, a relação dos personagens de Kaitlyn Dever e Ansel Elgort vai se tornando o fio condutor, até mesmo por traduzir um pouco do todo. Temos casais em crise, traições, separações, brigas, sonhos, rejeições, problemas com o próprio corpo, medos, controle, descobertas. E enquanto que a jovem Brandy só quer ser ela mesma, sem o controle excessivo de sua mãe, interpretada por Jennifer Garner. O jovem Tim passa por problemas de depressão ao ser abandonado pela mãe e vive em crise com o pai, vivido pelo ator Dean Norris, por ter largado o time de futebol do colégio, onde era a estrela.
No final das contas temos um bom vislumbre do tema do filme, que nos remete novamente para o "Pálido Ponto Azul". Tudo pode ser extremamente trágico ou insignificante a depender do ponto de vista. Temos a tendência de supervalorizar nossos próprios problemas, sem observar o que está no entorno. Isso me lembra uma frase do filme Contato, "Por menor que sejamos, quão preciosos somos". E não adianta viajar por galáxias, nos conectar ao mundo inteiro, se não conseguirmos nos conectar com quem está ao nosso lado. Porque a vida é feita de relações humanas, é isso que nos mantém vivos e faz tudo fazer sentido.
Homens, Mulheres & Filhos (Men, Women & Children, 2014 / EUA)
Direção: Jason Reitman
Roteiro: Jason Reitman, Erin Cressida Wilson
Com: Kaitlyn Dever, Rosemarie DeWitt, Ansel Elgort, Adam Sandler, Judy Greer, Dean Norris, Jennifer Garner e Emma Thompson (voz)
Duração: 119 min.
Amanda Aouad
Crítica afiliada à Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema), é doutora em Comunicação e Cultura Contemporâneas (Poscom / UFBA) e especialista em Cinema pela UCSal. Roteirista profissional desde 2005, é co-criadora do projeto A Guardiã, além da equipe do Núcleo Anima Bahia sendo roteirista de séries como "Turma da Harmonia", "Bill, o Touro" e "Tadinha". É ainda professora dos cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda da Unifacs e da Uniceusa. Atualmente, faz parte da diretoria da Abraccine como secretária geral.
Homens, Mulheres & Filhos
2014-12-05T08:30:00-03:00
Amanda Aouad
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