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Lina Chamie
Marco Ricca
Otávio Martins
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Os Amigos
Os Amigos
Novo filme da diretora Lina Chamie, não pode ser considerado um filme ruim. Bem realizado, com muita poesia e algumas belas cenas, há qualidades ali, tanto que está encantando boa parte da crítica. No entanto, algo em sua proposta, se perde em meio à tentativa de parecer mais inventivo do que precisava.
A trama gira em torno de um dia na vida de Téo, personagem de Marco Ricca que está em uma fase delicada de sua vida. Acaba de perder o seu melhor amigo de infância, está cansado com tantas atribuições no trabalho e chegou a uma fase da vida em que quer repensá-la. Para completar, sua amiga Majú, interpretada por Dira Paes, está tentando lhe arrumar uma namorada.
Mas, nada disso é exatamente objetivo. A construção narrativa de Lina Chamie foge ao padrão da narrativa clássica, mesclando metáforas, lembranças, representações, poesias em meio ao dia de Téo. Em determinado momento da trama, a diretora e roteirista explica que um dia em São Paulo é uma verdadeira Odisséia, o que explica um grupo de crianças encenando a vida de Ulisses em paralelo a história de Téo, por exemplo.
Esta necessidade de explicitar na fala do personagem a ideia implícita demonstra um dos problemas de Os Amigos, a indefinição de estilo. Ao contrário A Via Láctea, outro filme da diretora, onde a proposta estava mais clara e orgânica, aqui temos oscilações diversas que causam um estranhamento que não colabora para a apreciação do filme, a exemplo de um interminável e expositivo diálogo ao celular com alguns personagens dentro de um táxi e outro em um restaurante.
Aliás, todos os diálogos entre Marco Ricca e Dira Paes parecem exageradamente encenados e expositivos. O melhor momento deles é quando a diretora subverte a linguagem de vez e os coloca em frente a um céu imaginário discutindo as estrelas. Nesta construção out, o jogo cênico funciona melhor nos envolvendo em poesia e trazendo até um ar mais instigante ao tema. Mas, quando emula a realidade em situações quase absurdas tudo fica over, fake até, nos levando em uma reconstrução que parece querer maquiar a simplicidade das emoções em discursos filosóficos.
As cenas da infância, assim como as misturas de lembranças e devaneios de Téo com o amigo Juliano são repletas de emoção. A cena do banheiro, por exemplo é uma mistura insana e delicada, própria do momento. Da mesma forma que a composição das cenas das crianças, sempre permeando o dia em busca de significados, funcionam bem melhor que as cenas dos animais no zoológico, por exemplo, que acabam parecendo mais um fetiche que algo realmente proveitoso. Da mesma maneira que a peça ganha significado com a explicação, mas parece quase tola, até pela necessidade de ter sido explicada.
O filme traz ainda duas esquetes pontuais que, por mais que partam do nada para lugar algum, acabam preenchendo mais de emoção a tela que a própria jornada de Téo. Primeiro, o casal vivido por Caio Blat e Alice Braga, em uma participação especial. A naturalidade da cena e a discussão em um diálogo cheio de subtextos é extremamente rica, tornando-se um dos melhores momentos da trama. Assim como o drama da personagem de Teka Romualdo em sua pequena jornada de retorno à casa. Seu olhar no último take da personagem nos emociona.
Os Amigos se demonstra, então, um filme problemático e oscilante. Sua forma mascara uma certa confusão filosófica como se quisesse parecer mais complexo do que de fato é, ou precise ser. Há momentos de beleza, assim como seu protagonista poderia nos cativar, até pela boa interpretação de Marco Ricca. Mas, nada pareceu realmente autêntico, tornado a experiência problemática, ainda que com qualidades explícitas.
Os amigos (Os amigos, 2014 / Brasil)
Direção: Lina Chamie
Roteiro: Lina Chamie
Com: Marco Ricca, Dira Paes, Fernando Alves Pinto, Sandra Corveloni, Rodrigo Lombardi, Caio Blat, Alice Braga, Otávio Martins, Teka Romualdo
Duração: 89 min.
A trama gira em torno de um dia na vida de Téo, personagem de Marco Ricca que está em uma fase delicada de sua vida. Acaba de perder o seu melhor amigo de infância, está cansado com tantas atribuições no trabalho e chegou a uma fase da vida em que quer repensá-la. Para completar, sua amiga Majú, interpretada por Dira Paes, está tentando lhe arrumar uma namorada.
Mas, nada disso é exatamente objetivo. A construção narrativa de Lina Chamie foge ao padrão da narrativa clássica, mesclando metáforas, lembranças, representações, poesias em meio ao dia de Téo. Em determinado momento da trama, a diretora e roteirista explica que um dia em São Paulo é uma verdadeira Odisséia, o que explica um grupo de crianças encenando a vida de Ulisses em paralelo a história de Téo, por exemplo.
Esta necessidade de explicitar na fala do personagem a ideia implícita demonstra um dos problemas de Os Amigos, a indefinição de estilo. Ao contrário A Via Láctea, outro filme da diretora, onde a proposta estava mais clara e orgânica, aqui temos oscilações diversas que causam um estranhamento que não colabora para a apreciação do filme, a exemplo de um interminável e expositivo diálogo ao celular com alguns personagens dentro de um táxi e outro em um restaurante.
Aliás, todos os diálogos entre Marco Ricca e Dira Paes parecem exageradamente encenados e expositivos. O melhor momento deles é quando a diretora subverte a linguagem de vez e os coloca em frente a um céu imaginário discutindo as estrelas. Nesta construção out, o jogo cênico funciona melhor nos envolvendo em poesia e trazendo até um ar mais instigante ao tema. Mas, quando emula a realidade em situações quase absurdas tudo fica over, fake até, nos levando em uma reconstrução que parece querer maquiar a simplicidade das emoções em discursos filosóficos.
As cenas da infância, assim como as misturas de lembranças e devaneios de Téo com o amigo Juliano são repletas de emoção. A cena do banheiro, por exemplo é uma mistura insana e delicada, própria do momento. Da mesma forma que a composição das cenas das crianças, sempre permeando o dia em busca de significados, funcionam bem melhor que as cenas dos animais no zoológico, por exemplo, que acabam parecendo mais um fetiche que algo realmente proveitoso. Da mesma maneira que a peça ganha significado com a explicação, mas parece quase tola, até pela necessidade de ter sido explicada.
O filme traz ainda duas esquetes pontuais que, por mais que partam do nada para lugar algum, acabam preenchendo mais de emoção a tela que a própria jornada de Téo. Primeiro, o casal vivido por Caio Blat e Alice Braga, em uma participação especial. A naturalidade da cena e a discussão em um diálogo cheio de subtextos é extremamente rica, tornando-se um dos melhores momentos da trama. Assim como o drama da personagem de Teka Romualdo em sua pequena jornada de retorno à casa. Seu olhar no último take da personagem nos emociona.
Os Amigos se demonstra, então, um filme problemático e oscilante. Sua forma mascara uma certa confusão filosófica como se quisesse parecer mais complexo do que de fato é, ou precise ser. Há momentos de beleza, assim como seu protagonista poderia nos cativar, até pela boa interpretação de Marco Ricca. Mas, nada pareceu realmente autêntico, tornado a experiência problemática, ainda que com qualidades explícitas.
Os amigos (Os amigos, 2014 / Brasil)
Direção: Lina Chamie
Roteiro: Lina Chamie
Com: Marco Ricca, Dira Paes, Fernando Alves Pinto, Sandra Corveloni, Rodrigo Lombardi, Caio Blat, Alice Braga, Otávio Martins, Teka Romualdo
Duração: 89 min.
Amanda Aouad
Crítica afiliada à Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema), é doutora em Comunicação e Cultura Contemporâneas (Poscom / UFBA) e especialista em Cinema pela UCSal. Roteirista profissional desde 2005, é co-criadora do projeto A Guardiã, além da equipe do Núcleo Anima Bahia sendo roteirista de séries como "Turma da Harmonia", "Bill, o Touro" e "Tadinha". É ainda professora dos cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda da Unifacs e da Uniceusa. Atualmente, faz parte da diretoria da Abraccine como secretária geral.
Os Amigos
2014-12-01T08:30:00-03:00
Amanda Aouad
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