A Noite Americana
Quer saber como funciona o cinema por dentro? A Noite Americana de François Truffaut talvez seja um dos maiores representantes de metalinguagem já vistos. Não por acaso, quem interpreta o diretor Ferrand é o próprio diretor francês. Uma aula sobre o cinema, não apenas em sua constituição técnica e de bastidores, mas em tudo que ele significa.
É uma obra marcante também por registrar ao mundo o racha definitivo entre Truffaut e Jean-Luc Godard que fez uma crítica ácida ao filme chamando-o de valores burgueses. Em um dos pesadelos do diretor retratados no filme, ele ouve a pergunta: "Por que não fazer um filme político?", seguido da pergunta: "Por que não fazer um filme pornô?". Talvez aí esteja uma resposta ao antigo companheiro da Nouvelle Vague que cobrava uma posição política mais clara em seus filmes e, por isso, foi tão duro em sua crítica.
François Truffaut não concordava que cinema tinha que ser política. Ele só queria fazer filmes, expressar sentimentos e sensações. E A Noite Americana é sua declaração de amor a essa arte tão controversa com todas as brigas de bastidores, os interesses do distribuidor, o ocaso dos filmes de estúdio, os problemas psicológicos das grandes estrelas e frivolidade dos amores de set. "Nunca largue o cinema por um homem", diz uma das moças da equipe.
A trama do filme é exatamente a produção de um filme. O diretor Ferrand, interpretado por Truffaut, está produzindo sua nova obra, "Je vous présente Pamela". A história de uma moça que troca o marido pelo sogro após se apaixonar por ele. Mas, as gravações não são tão fáceis quanto poderiam já que cada um dos atores trazem seus próprios problemas que vão sendo detonados aos poucos. Como o inseguro galã, Séverine, a diva perto da aposentadoria com problemas de bebida, a estrela Julie que está sempre à beira de um ataque de nervos, a atriz que esconde uma gravidez, ou o ator maduro que terá o último problema para a equipe.
É interessante como o roteiro vai nos envolvendo entre filmagem e bastidores de uma maneira muito harmônica, desde a cena inicial com as diversas tomadas de uma rua movimentada. As gravações, os ensaios, a prova de figurino, as entrevistas, tudo vai sendo retratado de maneira bastante viva. É divertido ver, por exemplo, o problema de uma gravação com um gatinho que precisa beber um leite de uma bandeja ou o truque de uma vela que tem uma luz em seu suporte para facilitar a fotografia.
Para quem se interessa por cinema, as gravações trazem diversas pequenas aulas, com claquetes e takes repetidos, a trucagem de cenário com um suporte para parecer que existem duas janelas uma em frente a outra, ou a forma como o dublê é preparado para parecer o próprio ator, mesmo quando são de sexos diferentes. Além, claro, da citação do que seja a noite americana do título, que nada mais é que um filtro noturno para se filmar, durante o dia, uma cena que acontece à noite.
A Noite Americana é daqueles filmes obrigatórios para qualquer cinéfilo, estudante de cinema ou profissional da área, não apenas por ser François Truffaut e o tema, mas por tudo o que a obra representa em escolhas, repercussão e marco para a história do cinema.
A Noite Americana (La nuit américaine, 1973 / França)
Direção: François Truffaut
Roteiro: François Truffaut, Jean-Louis Richard, Suzanne Schiffman
Com: Jacqueline Bisset, Jean-Pierre Léaud, François Truffaut
Duração: 115 min.
É uma obra marcante também por registrar ao mundo o racha definitivo entre Truffaut e Jean-Luc Godard que fez uma crítica ácida ao filme chamando-o de valores burgueses. Em um dos pesadelos do diretor retratados no filme, ele ouve a pergunta: "Por que não fazer um filme político?", seguido da pergunta: "Por que não fazer um filme pornô?". Talvez aí esteja uma resposta ao antigo companheiro da Nouvelle Vague que cobrava uma posição política mais clara em seus filmes e, por isso, foi tão duro em sua crítica.
François Truffaut não concordava que cinema tinha que ser política. Ele só queria fazer filmes, expressar sentimentos e sensações. E A Noite Americana é sua declaração de amor a essa arte tão controversa com todas as brigas de bastidores, os interesses do distribuidor, o ocaso dos filmes de estúdio, os problemas psicológicos das grandes estrelas e frivolidade dos amores de set. "Nunca largue o cinema por um homem", diz uma das moças da equipe.
A trama do filme é exatamente a produção de um filme. O diretor Ferrand, interpretado por Truffaut, está produzindo sua nova obra, "Je vous présente Pamela". A história de uma moça que troca o marido pelo sogro após se apaixonar por ele. Mas, as gravações não são tão fáceis quanto poderiam já que cada um dos atores trazem seus próprios problemas que vão sendo detonados aos poucos. Como o inseguro galã, Séverine, a diva perto da aposentadoria com problemas de bebida, a estrela Julie que está sempre à beira de um ataque de nervos, a atriz que esconde uma gravidez, ou o ator maduro que terá o último problema para a equipe.
É interessante como o roteiro vai nos envolvendo entre filmagem e bastidores de uma maneira muito harmônica, desde a cena inicial com as diversas tomadas de uma rua movimentada. As gravações, os ensaios, a prova de figurino, as entrevistas, tudo vai sendo retratado de maneira bastante viva. É divertido ver, por exemplo, o problema de uma gravação com um gatinho que precisa beber um leite de uma bandeja ou o truque de uma vela que tem uma luz em seu suporte para facilitar a fotografia.
Para quem se interessa por cinema, as gravações trazem diversas pequenas aulas, com claquetes e takes repetidos, a trucagem de cenário com um suporte para parecer que existem duas janelas uma em frente a outra, ou a forma como o dublê é preparado para parecer o próprio ator, mesmo quando são de sexos diferentes. Além, claro, da citação do que seja a noite americana do título, que nada mais é que um filtro noturno para se filmar, durante o dia, uma cena que acontece à noite.
A Noite Americana é daqueles filmes obrigatórios para qualquer cinéfilo, estudante de cinema ou profissional da área, não apenas por ser François Truffaut e o tema, mas por tudo o que a obra representa em escolhas, repercussão e marco para a história do cinema.
A Noite Americana (La nuit américaine, 1973 / França)
Direção: François Truffaut
Roteiro: François Truffaut, Jean-Louis Richard, Suzanne Schiffman
Com: Jacqueline Bisset, Jean-Pierre Léaud, François Truffaut
Duração: 115 min.
Amanda Aouad
Crítica afiliada à Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema), é doutora em Comunicação e Cultura Contemporâneas (Poscom / UFBA) e especialista em Cinema pela UCSal. Roteirista profissional desde 2005, é co-criadora do projeto A Guardiã, além da equipe do Núcleo Anima Bahia sendo roteirista de séries como "Turma da Harmonia", "Bill, o Touro" e "Tadinha". É ainda professora dos cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda da Unifacs e da Uniceusa. Atualmente, faz parte da diretoria da Abraccine como secretária geral.
A Noite Americana
2015-01-13T08:30:00-03:00
Amanda Aouad
critica|drama|François Truffaut|Jacqueline Bisset|Jean-Pierre Léaud|
Assinar:
Postar comentários (Atom)
cadastre-se
Inscreva seu email aqui e acompanhe
os filmes do cinema com a gente:
os filmes do cinema com a gente:
No Cinema podcast
anteriores deste site
mais populares do site
-
King Richard: Criando Campeãs (2021), dirigido por Reinaldo Marcus Green , é mais do que apenas uma cinebiografia : é um retrato emocionalm...
-
Cinema Sherlock Homes O filme de destaque atualmente é esta releitura do clássico do mistério pelas mãos de Guy Ritchie. O ex de Madonna p...
-
Eletrizante é a melhor palavra para definir esse filme de Tony Scott . Que o diretor sabe fazer filmes de ação não é novidade, mas uma tra...
-
O Soterópolis programa cultural da TVE Bahia, fez uma matéria muito interessante sobre blogs baianos. Esta que vos fala deu uma pequena con...
-
Clint Eastwood me conquistou aos poucos. Ele sabe como construir um filme que emociona e, agora, parece ter escolhido Matt Damon como seu ...
-
Olhando para A Múmia (1999), mais de duas décadas após seu lançamento, é fácil perceber como o filme se tornou um marco do final dos anos ...
-
Amor à Queima Roupa (1993), dirigido por Tony Scott e roteirizado por Quentin Tarantino , é um daqueles filmes que, ao longo dos anos, se...
-
Fui ao cinema sem grandes pretensões. Não esperava um novo Matrix, nem mesmo um grande filme de ação. Difícil definir Gamer, que recebeu du...
-
O CinePipocaCult adverte: se você sofre de claustrofobia, síndrome do pânico ou problemas cardíacos é melhor evitar esse filme. Brincadeiras...