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Agata Kulesza
Agata Trzebuchowska
cinema europeu
critica
Dawid Ogrodnik
drama
oscar 2015
Pawel Pawlikowski
Ida
Ida
Indicado ao Oscar de Melhor Filme Estrangeiro de 2015, Ida trata de um tema bastante caro à Academia: o holocausto. Mas, é também uma jornada de auto-descoberta e aproximação entre duas mulheres extremamente diferentes.
A noviça Anna está prestes a prestar seus votos, quando a Madre Superiora mande que ela passe um tempo com sua única parente viva: a tia Wanda. Uma mulher cínica e mundana, defensora do Partido Comunista. Com ela, Anna descobre um segredo de seu passado. Ela, na verdade se chama Ida e é de origem judia tendo seus pais sido mortos pelos nazistas. Começa, então, uma jornada dessas duas mulheres para encontrar o local onde os corpos estão enterrados.
O filme trabalha com uma fotografia em preto e branco, além da razão 4:3 que traz uma estética própria a essa obra intimista. É belo ao mesmo tempo em que é melancólico. Parecem trevas, mas traz a luz, traduzindo muito da obra. Como já foi dito, o holocausto é apenas um ponto de partida para mergulharmos na alma dessas duas mulheres tão distintas, mas ao mesmo tempo tão próximas.
"Claro", diz a tia em determinada cena, "eu sou a puta e você a santa". Dois extremos, dois estereótipos que eram guardados à mulher. Como se não pudesse haver o caminho do meio. Na frase irônica da tia Wanda, temos muito do questionamento sobre a própria hipocrisia da sociedade como quando uma mulher não deixa que elas andem por sua propriedade, mas pede que Ida benza seu filho. Fora o medo daquela família em relação ao segredo de Ida que vai nos instigando.
Mas, o filme é mesmo das duas mulheres. Personagens e atrizes que nos envolvem e nos encantam com suas nuanças. Pouco é dito entre elas, mas o suficiente para que as conheçamos, principalmente por sua postura corporal, seus olhares, seus gestos. A surpresa no olhar de Ida quando a tia diz que ela é uma freira judia. A expressão da tia ao revelar um segredo no hospital. A troca de olhares das duas na estrada. A forma contida de Ida contrastando com a forma expansiva da tia na boate.
No fundo, são duas mulheres solitárias, acostumadas à reclusão, ainda que de maneira diferente. Nenhuma das duas, lida muito bem com pessoas, interagindo menos ainda com elas. Cada uma em um polo, uma na explosão, outra no encolhimento, mas ambas distantes, criando barreiras entre elas e os outros. Até por isso, o relacionamento com o saxofonista da banda acaba sendo uma novidade a ser explorada. Uma forma de conhecer o mundo, como a Madre Superiora queria que Ida fizesse.
De maneira sutil e envolvente, Ida nos mostra um mundo particular, mas que traduz a realidade de muitas pessoas. Mulheres que sofrem com passados, dores, escolhas, determinações tão fortes, que mesmo quando há a possibilidade de mudança, algo as carrega de volta ao que parece ser seus destinos.
Ida (Ida, 2013 / Polônia)
Direção: Pawel Pawlikowski
Roteiro: Pawel Pawlikowski e Rebecca Lenkiewicz
Com: Agata Kulesza, Agata Trzebuchowska, Dawid Ogrodnik
Duração: 82 min.
A noviça Anna está prestes a prestar seus votos, quando a Madre Superiora mande que ela passe um tempo com sua única parente viva: a tia Wanda. Uma mulher cínica e mundana, defensora do Partido Comunista. Com ela, Anna descobre um segredo de seu passado. Ela, na verdade se chama Ida e é de origem judia tendo seus pais sido mortos pelos nazistas. Começa, então, uma jornada dessas duas mulheres para encontrar o local onde os corpos estão enterrados.
O filme trabalha com uma fotografia em preto e branco, além da razão 4:3 que traz uma estética própria a essa obra intimista. É belo ao mesmo tempo em que é melancólico. Parecem trevas, mas traz a luz, traduzindo muito da obra. Como já foi dito, o holocausto é apenas um ponto de partida para mergulharmos na alma dessas duas mulheres tão distintas, mas ao mesmo tempo tão próximas.
"Claro", diz a tia em determinada cena, "eu sou a puta e você a santa". Dois extremos, dois estereótipos que eram guardados à mulher. Como se não pudesse haver o caminho do meio. Na frase irônica da tia Wanda, temos muito do questionamento sobre a própria hipocrisia da sociedade como quando uma mulher não deixa que elas andem por sua propriedade, mas pede que Ida benza seu filho. Fora o medo daquela família em relação ao segredo de Ida que vai nos instigando.
Mas, o filme é mesmo das duas mulheres. Personagens e atrizes que nos envolvem e nos encantam com suas nuanças. Pouco é dito entre elas, mas o suficiente para que as conheçamos, principalmente por sua postura corporal, seus olhares, seus gestos. A surpresa no olhar de Ida quando a tia diz que ela é uma freira judia. A expressão da tia ao revelar um segredo no hospital. A troca de olhares das duas na estrada. A forma contida de Ida contrastando com a forma expansiva da tia na boate.
No fundo, são duas mulheres solitárias, acostumadas à reclusão, ainda que de maneira diferente. Nenhuma das duas, lida muito bem com pessoas, interagindo menos ainda com elas. Cada uma em um polo, uma na explosão, outra no encolhimento, mas ambas distantes, criando barreiras entre elas e os outros. Até por isso, o relacionamento com o saxofonista da banda acaba sendo uma novidade a ser explorada. Uma forma de conhecer o mundo, como a Madre Superiora queria que Ida fizesse.
De maneira sutil e envolvente, Ida nos mostra um mundo particular, mas que traduz a realidade de muitas pessoas. Mulheres que sofrem com passados, dores, escolhas, determinações tão fortes, que mesmo quando há a possibilidade de mudança, algo as carrega de volta ao que parece ser seus destinos.
Ida (Ida, 2013 / Polônia)
Direção: Pawel Pawlikowski
Roteiro: Pawel Pawlikowski e Rebecca Lenkiewicz
Com: Agata Kulesza, Agata Trzebuchowska, Dawid Ogrodnik
Duração: 82 min.
Amanda Aouad
Crítica afiliada à Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema), é doutora em Comunicação e Cultura Contemporâneas (Poscom / UFBA) e especialista em Cinema pela UCSal. Roteirista profissional desde 2005, é co-criadora do projeto A Guardiã, além da equipe do Núcleo Anima Bahia sendo roteirista de séries como "Turma da Harmonia", "Bill, o Touro" e "Tadinha". É ainda professora dos cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda da Unifacs e da Uniceusa. Atualmente, faz parte da diretoria da Abraccine como secretária geral.
Ida
2015-01-24T08:30:00-03:00
Amanda Aouad
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