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Acima das Nuvens
Acima das Nuvens
Uma mulher, dois papéis e a forma de lidar com a passagem do tempo e as mudanças da maturidade. De certa, maneira é sobre isso que se trata Acima das Nuvens, filme que adentra pela alma feminina em seus diversos aspectos.
Maria Enders, interpretada por Juliette Binoche, é uma atriz de Hollywood de sucesso que recebe o convite para fazer um papel na peça em que iniciou sua carreira. Antes, ela foi a jovem destemida Sigrid, agora ela seria a insegura Helena, senhora seduzida pela garota, fechando um ciclo. Maria, porém, não consegue admirar a personagem, se defrontando com seus próprios medos e fantasmas, ao mesmo tempo que ensaia com sua assistente Valentine, interpretada por Kristen Stewart.
O roteiro divide o filme em dois atos distintos e um epílogo. No primeiro ato, conhecemos Maria e Valentine, o convite para a peça, a morte do autor da mesma, amigo de Maria que estava sendo homenageado com um prêmio, e as primeiras questões entre personagens e intérpretes. No segundo ato, acompanhamos Maria ensaiando a peça com Valentine, enquanto vai descobrindo seus próprios processos e discutindo as visões opostas sobre a personagem. Por fim, o desfecho no epílogo que nos traz uma espécie de conclusão sobre os questionamentos vistos durante a projeção.
Enquanto convivem e ensaiam no chalé no alto da montanha, Maria e Valentine vão analisando as personalidades das duas personagens da peça e discutindo valores. E assim, vamos conhecendo a trama da peça que será encenada, que traz muito da relação entre as duas. O texto da peça se assemelha ao de "As Lágrimas Amargas de Petra von Kant" de Rainer Werner Fassbinder, que ele próprio transformou em filme em 1972. Uma mulher mais velha, uma mulher mais nova, a relação conturbada das duas e a forma como uma destrói a outra.
É interessante que boa parte do segundo ato seja construído com os diálogos da peça e a narrativa ande tão bem, nos fazendo conhecer um pouco mais de Valentine e Maria, ainda que a primeira não se assemelhe em nada a Sigrid, enquanto que a segunda é uma mistura das duas personagens. Neste ponto, devo elogiar a atuação de ambas as atrizes que nos dão as nuanças de tudo isso. Juliette Binoche está ótima como sempre, diva na primeira parte, complexa na segunda, reconstruída na terceira. Já Kristen Stewart, justiça seja feita, consegue dar o tom perfeito a assistente, nos fazendo vibrar com uma cena nas montanhas.
O filme traz ainda Chloë Grace Moretz como uma atriz iniciante e irresponsável que fará o papel de Sigrid nessa nova montagem. Suas rápidas aparições também são bem conduzidas, inclusive quando as personagens de Juliette Binoche e Kristen Stewart a estão assistindo em um filme de ficção científica, onde ela interpreta uma mutante má. Detalhe para a personagem de Binoche tirando e colocando o óculos 3D durante a projeção, que ajuda a nos dar a dimensão do que que ela pensa destes blockbusters de fantasia, outro ponto de divergência entre Maria e Valentine que também trará consequências.
A direção de Olivier Assayas é bastante sensível e constrói significados diversos através de metáforas e metalinguagens que vão nos ajudando a passar essas diversas faces da mulher e da complexidade da alma feminina. Temos ainda a grande simbologia da serpente e das nuvens que anunciam a tempestade. Assim como a desconstrução da atriz Maria Enders a medida que vamos nos tornando próximos dela. Destaque ainda para a cena em que a personagem de Kristen Stewart retorna pela estrada bêbada, em uma sequência bela e tensa que traduz muito do psicológico da personagem àquela altura.
Acima das Nuvens pode ecoar ainda as obras de Bergman como Persona e Sonata de Outono, onde mulheres se enfrentam e se abrem para discutir medos, sensações e pontos de vista de uma maneira intensa. Um filme que surpreende em sua essência.
Acima das Nuvens (Clouds of Sils Maria, 2014 / França)
Direção: Olivier Assayas
Roteiro: Olivier Assayas
Com: Juliette Binoche, Kristen Stewart, Chloë Grace Moretz
Duração: 124 min.
Maria Enders, interpretada por Juliette Binoche, é uma atriz de Hollywood de sucesso que recebe o convite para fazer um papel na peça em que iniciou sua carreira. Antes, ela foi a jovem destemida Sigrid, agora ela seria a insegura Helena, senhora seduzida pela garota, fechando um ciclo. Maria, porém, não consegue admirar a personagem, se defrontando com seus próprios medos e fantasmas, ao mesmo tempo que ensaia com sua assistente Valentine, interpretada por Kristen Stewart.
O roteiro divide o filme em dois atos distintos e um epílogo. No primeiro ato, conhecemos Maria e Valentine, o convite para a peça, a morte do autor da mesma, amigo de Maria que estava sendo homenageado com um prêmio, e as primeiras questões entre personagens e intérpretes. No segundo ato, acompanhamos Maria ensaiando a peça com Valentine, enquanto vai descobrindo seus próprios processos e discutindo as visões opostas sobre a personagem. Por fim, o desfecho no epílogo que nos traz uma espécie de conclusão sobre os questionamentos vistos durante a projeção.
Enquanto convivem e ensaiam no chalé no alto da montanha, Maria e Valentine vão analisando as personalidades das duas personagens da peça e discutindo valores. E assim, vamos conhecendo a trama da peça que será encenada, que traz muito da relação entre as duas. O texto da peça se assemelha ao de "As Lágrimas Amargas de Petra von Kant" de Rainer Werner Fassbinder, que ele próprio transformou em filme em 1972. Uma mulher mais velha, uma mulher mais nova, a relação conturbada das duas e a forma como uma destrói a outra.
É interessante que boa parte do segundo ato seja construído com os diálogos da peça e a narrativa ande tão bem, nos fazendo conhecer um pouco mais de Valentine e Maria, ainda que a primeira não se assemelhe em nada a Sigrid, enquanto que a segunda é uma mistura das duas personagens. Neste ponto, devo elogiar a atuação de ambas as atrizes que nos dão as nuanças de tudo isso. Juliette Binoche está ótima como sempre, diva na primeira parte, complexa na segunda, reconstruída na terceira. Já Kristen Stewart, justiça seja feita, consegue dar o tom perfeito a assistente, nos fazendo vibrar com uma cena nas montanhas.
O filme traz ainda Chloë Grace Moretz como uma atriz iniciante e irresponsável que fará o papel de Sigrid nessa nova montagem. Suas rápidas aparições também são bem conduzidas, inclusive quando as personagens de Juliette Binoche e Kristen Stewart a estão assistindo em um filme de ficção científica, onde ela interpreta uma mutante má. Detalhe para a personagem de Binoche tirando e colocando o óculos 3D durante a projeção, que ajuda a nos dar a dimensão do que que ela pensa destes blockbusters de fantasia, outro ponto de divergência entre Maria e Valentine que também trará consequências.
A direção de Olivier Assayas é bastante sensível e constrói significados diversos através de metáforas e metalinguagens que vão nos ajudando a passar essas diversas faces da mulher e da complexidade da alma feminina. Temos ainda a grande simbologia da serpente e das nuvens que anunciam a tempestade. Assim como a desconstrução da atriz Maria Enders a medida que vamos nos tornando próximos dela. Destaque ainda para a cena em que a personagem de Kristen Stewart retorna pela estrada bêbada, em uma sequência bela e tensa que traduz muito do psicológico da personagem àquela altura.
Acima das Nuvens pode ecoar ainda as obras de Bergman como Persona e Sonata de Outono, onde mulheres se enfrentam e se abrem para discutir medos, sensações e pontos de vista de uma maneira intensa. Um filme que surpreende em sua essência.
Acima das Nuvens (Clouds of Sils Maria, 2014 / França)
Direção: Olivier Assayas
Roteiro: Olivier Assayas
Com: Juliette Binoche, Kristen Stewart, Chloë Grace Moretz
Duração: 124 min.
Amanda Aouad
Crítica afiliada à Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema), é doutora em Comunicação e Cultura Contemporâneas (Poscom / UFBA) e especialista em Cinema pela UCSal. Roteirista profissional desde 2005, é co-criadora do projeto A Guardiã, além da equipe do Núcleo Anima Bahia sendo roteirista de séries como "Turma da Harmonia", "Bill, o Touro" e "Tadinha". É ainda professora dos cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda da Unifacs e da Uniceusa. Atualmente, faz parte da diretoria da Abraccine como secretária geral.
Acima das Nuvens
2015-02-01T08:30:00-03:00
Amanda Aouad
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