
A história poderia ter saído da cabeça de Tim Burton. Margaret, uma pintora tímida e insegura, conhece o esperto Walter Keane que também se apresenta como pintor. Os dois se casam e Keane começa a vender as obras de ambos, mas acaba assumindo a autoria das pinturas de sua esposa que retrata crianças com grandes olhos, quando esta começa a fazer sucesso.

De qualquer maneira, a estrutura de Grandes Olhos é mesmo é mesmo mais tradicional. Temos toda a estrutura de plots e construção de curva dramática por tópicos, temos os papéis bem definidos de protagonistas e antagonistas e, mesmo as surpresas que a trama pensa reservar, são fáceis de imaginar. Tem, inclusive, a narração em voz over como guia da trama nos mostrando toda a trajetória de Margaret, a começar pela fuga do primeiro casamento "quando isso ainda não era moda", como brinca a narração.

Mas, se na trama as mulheres não parecem ter vez, sendo os holofotes todos virados para Walter Keane, quem brilha mesmo por trás dos personagens é Amy Adams, criando uma Margaret extremamente tímida, sem jeito, apagada, mas ao mesmo tempo com uma força incrível ao pintar e falar de suas criações. Já Christoph Waltz, traz ecos de seus personagens mais famosos em Hollywood, apesar do talento evidente e um show à parte na cena do tribunal.
Grandes Olhos pode não demonstrar a criatividade latente de Tim Burton que já brincou inclusive com cinebiografias em um excelente Ed Wood, ou com o próprio melodrama, em obras como Peixe Grande ou Edward Mãos de Tesoura. Mas, apesar da estrutura mais tradicional, há personagens e elementos fantásticos na obra que em seu conjunto agradam. Torço para que esse exercício nos traga de volta o diretor que conquistou multidões com seu estilo próprio, principalmente agora, que ele trabalha na continuação de seu primeiro sucesso: Beetlejuice 2.
Grandes Olhos (Big Eyes, 2014 / EUA)
Direção: Tim Burton
Roteiro: Scott Alexander, Larry Karaszewski
Com: Amy Adams, Christoph Waltz, Krysten Ritter
Duração: 106 min.