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Mil Vezes Boa Noite
Mil Vezes Boa Noite
Rebecca é uma das melhores fotógrafas de guerra do mundo. O problema é que essa sua vocação profissional prejudica sua vida familiar. Suas filhas são traumatizadas pela eterna possibilidade de ver sua mãe morrer e seu marido não aguenta mais a pressão de viver dessa maneira. Quando ela sofre um atentado em Cabul, ele dá um ultimato fazendo-a tentar viver de outra maneira.
O eterno dilema entre família e trabalho que as mulheres passaram a ter quando conquistaram seu espaço no mundo executivo é maximizado aqui, trazendo Juliette Binoche em grande performance. Ela encarna o dilema de Rebecca com uma sensibilidade ímpar. Dá para perceber a vontade daquela mulher de salvar seu casamento e dar um pouco de estabilidade emocional à suas filhas. Mas, o seu trabalho também é de extrema importância.
Em uma cena, vemos uma fila de tanques de guerra se encaminhando a um acampamento de refugiados. O guia diz a ela, "eles mandaram reforços de proteção, é o poder de suas fotos". Sim, Rebecca arrisca sua vida a cada clique, mas é graças a eles que atrocidades são conhecidas, que invisíveis ganham rosto, que culturas mal interpretadas são conhecidas.
Ao mesmo tempo, há uma questão ética latente que vem desde a primeira cena e é um dos motivos dela quase ter morrido em um atentado terrorista. Rebecca estava fotografando um ritual de uma mulher bomba, ela sabia que aquela moça iria explodir levando diversas pessoas inocentes com ela. Como não avisar? Como dar as costas para se proteger, enquanto velhos e crianças iam para os ares. E, ao mesmo tempo, como fotografar isso após todo o terror?
Quando sua filha pergunta porque ela escolheu fotografar guerras, ela diz que foi por causa de sua raiva daquela situação. Uma forma de extravasar e fazer as pessoas verem. Talvez aqui esteja um pouco da voz do próprio diretor, Erik Poppe, que já foi fotógrafo de guerra. E, na fala da filha, vem uma espécie de redenção de que aquelas pessoas não se sentiam invadidas, mas queriam ser vistas pela lente da câmera.
Um jogo de culpa, incompreensão e exaltação ao mesmo tempo em um trabalho ingrato e árduo, porém necessário. Adoramos admirar mártires e heróis, mas não queremos que eles sejam nossos parentes, para que não soframos as consequências que aquelas escolhas trazem. É lindo admirar alguém que arrisca a própria vida para salvar outra, mas se essa pessoa é sua mãe ou sua mulher, nos sentimos frágeis e assustados.
Mil Vezes Boa Noite, apesar do tema e da reflexão, traz um tratamento extremamente poético. A começar pelo título que nos remete diretamente à cena do balcão de Romeu e Julieta "Boa noite, boa noite, a despedida é uma dor tão doce que ficaria dizendo boa noite até que raiasse o dia". Becca está sempre se despedindo e dizendo boa noite à sua família, mas ela precisa continuar sua missão.
Outra construção extremamente poética é vista nas imagens, bem naturais vindas de um diretor fotógrafo. Há momentos belíssimos como as diversas cenas com lençóis brancos no jardim e uma mão passando, ou no banheiro também todo branco, com a mão dela no box. Há ainda a divagação após o atentado que faz a montagem dela no chão, sua imaginação e ela deitada no hospital. Por fim, as cenas dela e o marido brincando na praia. Tudo isso traz momentos de leveza a um tema tão pesado.
Mil Vezes Boa Noite é um filme emocionante e verdadeiro em seus questionamentos. Mostra uma mulher dividida, mas que, no fundo, sabe exatamente o que a mantém viva. E nos leva junto em suas emoções.
Mil Vezes Boa Noite (Tusen ganger god natt, 2014 / Noruega)
Direção: Erik Poppe
Roteiro: Erik Poppe, Harald Rosenløw-Eeg
Com: Nikolaj Coster-Waldau, Juliette Binoche, Maria Doyle Kennedy
Duração: 117 min.
O eterno dilema entre família e trabalho que as mulheres passaram a ter quando conquistaram seu espaço no mundo executivo é maximizado aqui, trazendo Juliette Binoche em grande performance. Ela encarna o dilema de Rebecca com uma sensibilidade ímpar. Dá para perceber a vontade daquela mulher de salvar seu casamento e dar um pouco de estabilidade emocional à suas filhas. Mas, o seu trabalho também é de extrema importância.
Em uma cena, vemos uma fila de tanques de guerra se encaminhando a um acampamento de refugiados. O guia diz a ela, "eles mandaram reforços de proteção, é o poder de suas fotos". Sim, Rebecca arrisca sua vida a cada clique, mas é graças a eles que atrocidades são conhecidas, que invisíveis ganham rosto, que culturas mal interpretadas são conhecidas.
Ao mesmo tempo, há uma questão ética latente que vem desde a primeira cena e é um dos motivos dela quase ter morrido em um atentado terrorista. Rebecca estava fotografando um ritual de uma mulher bomba, ela sabia que aquela moça iria explodir levando diversas pessoas inocentes com ela. Como não avisar? Como dar as costas para se proteger, enquanto velhos e crianças iam para os ares. E, ao mesmo tempo, como fotografar isso após todo o terror?
Quando sua filha pergunta porque ela escolheu fotografar guerras, ela diz que foi por causa de sua raiva daquela situação. Uma forma de extravasar e fazer as pessoas verem. Talvez aqui esteja um pouco da voz do próprio diretor, Erik Poppe, que já foi fotógrafo de guerra. E, na fala da filha, vem uma espécie de redenção de que aquelas pessoas não se sentiam invadidas, mas queriam ser vistas pela lente da câmera.
Um jogo de culpa, incompreensão e exaltação ao mesmo tempo em um trabalho ingrato e árduo, porém necessário. Adoramos admirar mártires e heróis, mas não queremos que eles sejam nossos parentes, para que não soframos as consequências que aquelas escolhas trazem. É lindo admirar alguém que arrisca a própria vida para salvar outra, mas se essa pessoa é sua mãe ou sua mulher, nos sentimos frágeis e assustados.
Mil Vezes Boa Noite, apesar do tema e da reflexão, traz um tratamento extremamente poético. A começar pelo título que nos remete diretamente à cena do balcão de Romeu e Julieta "Boa noite, boa noite, a despedida é uma dor tão doce que ficaria dizendo boa noite até que raiasse o dia". Becca está sempre se despedindo e dizendo boa noite à sua família, mas ela precisa continuar sua missão.
Outra construção extremamente poética é vista nas imagens, bem naturais vindas de um diretor fotógrafo. Há momentos belíssimos como as diversas cenas com lençóis brancos no jardim e uma mão passando, ou no banheiro também todo branco, com a mão dela no box. Há ainda a divagação após o atentado que faz a montagem dela no chão, sua imaginação e ela deitada no hospital. Por fim, as cenas dela e o marido brincando na praia. Tudo isso traz momentos de leveza a um tema tão pesado.
Mil Vezes Boa Noite é um filme emocionante e verdadeiro em seus questionamentos. Mostra uma mulher dividida, mas que, no fundo, sabe exatamente o que a mantém viva. E nos leva junto em suas emoções.
Mil Vezes Boa Noite (Tusen ganger god natt, 2014 / Noruega)
Direção: Erik Poppe
Roteiro: Erik Poppe, Harald Rosenløw-Eeg
Com: Nikolaj Coster-Waldau, Juliette Binoche, Maria Doyle Kennedy
Duração: 117 min.
Amanda Aouad
Crítica afiliada à Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema), é doutora em Comunicação e Cultura Contemporâneas (Poscom / UFBA) e especialista em Cinema pela UCSal. Roteirista profissional desde 2005, é co-criadora do projeto A Guardiã, além da equipe do Núcleo Anima Bahia sendo roteirista de séries como "Turma da Harmonia", "Bill, o Touro" e "Tadinha". É ainda professora dos cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda da Unifacs e da Uniceusa. Atualmente, faz parte da diretoria da Abraccine como secretária geral.
Mil Vezes Boa Noite
2015-02-24T08:30:00-03:00
Amanda Aouad
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