Home
Alexandre Nero
cinema brasileiro
Claudia Ohana
critica
drama
filme brasileiro
Mateus Solano
Odilon Rocha
Vanessa Giácomo
A Novela das 8
A Novela das 8
Pelo texto de abertura e finalização, Odilon Rocha diz que fez uma homenagem a sua avó, a sua mãe e a todos os brasileiros que adoram telenovelas. Mas, o que vemos nos 105 minutos de A Novela das 8 é que ele entendeu tudo errado.
Intelectuais diriam, telenovela é o ópio do povo, alienação da Rede Globo, melodrama barato que só visa a emoção fácil com temas rocambolescos, personagens estereotipados e tramas que onde todos os personagens acabam se envolvendo, por mais improvável que isso seja. Superficialmente, é isso mesmo. Muito da programação de efeitos do gênero é para ser de fácil captação, popular e agradar a públicos mais diversos. Mas, é também uma análise rasa, preconceituosa diante de um produto que, bem ou mal, conquistou a maioria dos brasileiros e é exportado para o mundo inteiro.
Ao se manter no superficial, Odilon Rocha construiu um filme onde diz homenagear as telenovelas com uma trama que, na visão dele, é uma telenovela, com todos os seus clichês e estereótipos. Temos dois problemas aí. O primeiro e mais óbvio, cinema não é televisão. Ao transportar as estratégias televisivas para a tela grande, soa estranho, ainda mais se em alguns momentos ele tentar tornar a situação mais realista. Em segundo lugar, comparar uma trama como Dancin' Days, telenovela de Gilberto Braga exibida em 1978, que é citada no filme, com o que ele faz em A Novela das 8 é fazer uma piada sem graça.
O filme de Odilon Rocha possui dois polos bem definidos e distintos: a realidade da ditadura militar e a realidade das telenovelas com a moda da época, a disco. Para representar esses dois pontos, duas protagonistas bem estereotipadas: a prostituta de luxo Amanda, interpretada por Vanessa Giácomo, e a ex-militante disfarçada de empregada doméstica Dora, vivida por Claudia Ohana. Na vida delas, um vilão daqueles bem maus mesmo vivido por Alexandre Nero, um drama familiar que envolve ditadura, filho deixado com a avó, que ainda é gay e sofre bullying no colégio. E claro, a discoteca da Urca que inspirava a telenovela.
Não apenas o roteiro, mas toda a estética do filme lembra as marcações de uma telenovela. A luz, o encadeamento das cenas, os cortes, os planos. Enfim, a direção é também superficialmente televisiva, principalmente se olharmos os produtos que são feitos hoje. Nada parece se encaixar, fica estranho. É diferente, por exemplo, do filme Chico Xavier, onde Daniel Filho dá um caráter televisivo à trama ao puxar toda a história a partir da entrevista do médium no Pinga Fogo.
Diante de tantos estereótipos, fica difícil comprar o drama de Dora, sua relação com o militante Vicente vivido por Otto Jr. soa fake, a dor e emoção de estar com o filho vem em uma situação irreal demais, até mesmo o ódio dos policiais não parece tão crível e a culpa não é de Claudia Ohana, que se esforça para trazer emoção genuína diante de tudo aquilo. Enquanto que Vanessa Giácomo simplesmente se deixa levar por sua personagem transloucada.
A marcação novelística vem ainda na trilha sonora, sempre em excesso, chamando a atenção nos momentos mais dramáticos e estourando nossos ouvidos na boate para que vibremos juntos naquele ritmo. Há ainda um excesso de frases feitas e superficiais como "eu sou o cara que fica com a mãe". Tudo em um clima desrespeitoso com aquilo que se diz uma homenagem ao gênero televisivo. É como se Odilon dissesse: "não sei como vocês gostam disso, mas está aí um filme com cara de telenovela para vocês". O resultado definitivamente não agrada, nem quem gosta de novela. E ele acaba nem mesmo trabalhando os dois temas.
Porque nada impede que ele discuta a paixão dos brasileiros por telenovelas pelo seu ponto de vista. Ele acha que é uma válvula de escape? Uma alienação principalmente em uma época em que o país vivia uma ditadura militar? Não tem problema, o problema é não desenvolver o tema nos apresentando uma obra superficial e tola. Um rascunho do que poderia ter sido. O próprio Gilberto Braga, autor da telenovela que ele usa de ponto de partida fez algo muito melhor na minissérie Anos Rebeldes onde militância e alienação estavam em pauta a todo momento.
É uma pena, mas A Novela das 8 é apenas isso, um rascunho do que poderia ter sido, mas que esbarrou no próprio preconceito do seu autor.
A Novela das 8 (A Novela das 8, 2011 / Brasil)
Direção: Odilon Rocha
Roteiro: Odilon Rocha
Com: Claudia Ohana, Vanessa Giácomo, Mateus Solano, Alexandre Nero
Duração: 105 min.
Intelectuais diriam, telenovela é o ópio do povo, alienação da Rede Globo, melodrama barato que só visa a emoção fácil com temas rocambolescos, personagens estereotipados e tramas que onde todos os personagens acabam se envolvendo, por mais improvável que isso seja. Superficialmente, é isso mesmo. Muito da programação de efeitos do gênero é para ser de fácil captação, popular e agradar a públicos mais diversos. Mas, é também uma análise rasa, preconceituosa diante de um produto que, bem ou mal, conquistou a maioria dos brasileiros e é exportado para o mundo inteiro.
Ao se manter no superficial, Odilon Rocha construiu um filme onde diz homenagear as telenovelas com uma trama que, na visão dele, é uma telenovela, com todos os seus clichês e estereótipos. Temos dois problemas aí. O primeiro e mais óbvio, cinema não é televisão. Ao transportar as estratégias televisivas para a tela grande, soa estranho, ainda mais se em alguns momentos ele tentar tornar a situação mais realista. Em segundo lugar, comparar uma trama como Dancin' Days, telenovela de Gilberto Braga exibida em 1978, que é citada no filme, com o que ele faz em A Novela das 8 é fazer uma piada sem graça.
O filme de Odilon Rocha possui dois polos bem definidos e distintos: a realidade da ditadura militar e a realidade das telenovelas com a moda da época, a disco. Para representar esses dois pontos, duas protagonistas bem estereotipadas: a prostituta de luxo Amanda, interpretada por Vanessa Giácomo, e a ex-militante disfarçada de empregada doméstica Dora, vivida por Claudia Ohana. Na vida delas, um vilão daqueles bem maus mesmo vivido por Alexandre Nero, um drama familiar que envolve ditadura, filho deixado com a avó, que ainda é gay e sofre bullying no colégio. E claro, a discoteca da Urca que inspirava a telenovela.
Não apenas o roteiro, mas toda a estética do filme lembra as marcações de uma telenovela. A luz, o encadeamento das cenas, os cortes, os planos. Enfim, a direção é também superficialmente televisiva, principalmente se olharmos os produtos que são feitos hoje. Nada parece se encaixar, fica estranho. É diferente, por exemplo, do filme Chico Xavier, onde Daniel Filho dá um caráter televisivo à trama ao puxar toda a história a partir da entrevista do médium no Pinga Fogo.
Diante de tantos estereótipos, fica difícil comprar o drama de Dora, sua relação com o militante Vicente vivido por Otto Jr. soa fake, a dor e emoção de estar com o filho vem em uma situação irreal demais, até mesmo o ódio dos policiais não parece tão crível e a culpa não é de Claudia Ohana, que se esforça para trazer emoção genuína diante de tudo aquilo. Enquanto que Vanessa Giácomo simplesmente se deixa levar por sua personagem transloucada.
A marcação novelística vem ainda na trilha sonora, sempre em excesso, chamando a atenção nos momentos mais dramáticos e estourando nossos ouvidos na boate para que vibremos juntos naquele ritmo. Há ainda um excesso de frases feitas e superficiais como "eu sou o cara que fica com a mãe". Tudo em um clima desrespeitoso com aquilo que se diz uma homenagem ao gênero televisivo. É como se Odilon dissesse: "não sei como vocês gostam disso, mas está aí um filme com cara de telenovela para vocês". O resultado definitivamente não agrada, nem quem gosta de novela. E ele acaba nem mesmo trabalhando os dois temas.
Porque nada impede que ele discuta a paixão dos brasileiros por telenovelas pelo seu ponto de vista. Ele acha que é uma válvula de escape? Uma alienação principalmente em uma época em que o país vivia uma ditadura militar? Não tem problema, o problema é não desenvolver o tema nos apresentando uma obra superficial e tola. Um rascunho do que poderia ter sido. O próprio Gilberto Braga, autor da telenovela que ele usa de ponto de partida fez algo muito melhor na minissérie Anos Rebeldes onde militância e alienação estavam em pauta a todo momento.
É uma pena, mas A Novela das 8 é apenas isso, um rascunho do que poderia ter sido, mas que esbarrou no próprio preconceito do seu autor.
A Novela das 8 (A Novela das 8, 2011 / Brasil)
Direção: Odilon Rocha
Roteiro: Odilon Rocha
Com: Claudia Ohana, Vanessa Giácomo, Mateus Solano, Alexandre Nero
Duração: 105 min.
Amanda Aouad
Crítica afiliada à Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema), é doutora em Comunicação e Cultura Contemporâneas (Poscom / UFBA) e especialista em Cinema pela UCSal. Roteirista profissional desde 2005, é co-criadora do projeto A Guardiã, além da equipe do Núcleo Anima Bahia sendo roteirista de séries como "Turma da Harmonia", "Bill, o Touro" e "Tadinha". É ainda professora dos cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda da Unifacs e da Uniceusa. Atualmente, faz parte da diretoria da Abraccine como secretária geral.
A Novela das 8
2015-03-30T08:30:00-03:00
Amanda Aouad
Alexandre Nero|cinema brasileiro|Claudia Ohana|critica|drama|filme brasileiro|Mateus Solano|Odilon Rocha|Vanessa Giácomo|
Assinar:
Postar comentários (Atom)
cadastre-se
Inscreva seu email aqui e acompanhe
os filmes do cinema com a gente:
os filmes do cinema com a gente:
No Cinema podcast
anteriores deste site
mais populares do site
-
King Richard: Criando Campeãs (2021), dirigido por Reinaldo Marcus Green , é mais do que apenas uma cinebiografia : é um retrato emocionalm...
-
Cinema Sherlock Homes O filme de destaque atualmente é esta releitura do clássico do mistério pelas mãos de Guy Ritchie. O ex de Madonna p...
-
Clint Eastwood me conquistou aos poucos. Ele sabe como construir um filme que emociona e, agora, parece ter escolhido Matt Damon como seu ...
-
Eletrizante é a melhor palavra para definir esse filme de Tony Scott . Que o diretor sabe fazer filmes de ação não é novidade, mas uma tra...
-
O Soterópolis programa cultural da TVE Bahia, fez uma matéria muito interessante sobre blogs baianos. Esta que vos fala deu uma pequena con...
-
Amor à Queima Roupa (1993), dirigido por Tony Scott e roteirizado por Quentin Tarantino , é um daqueles filmes que, ao longo dos anos, se...
-
Olhando para A Múmia (1999), mais de duas décadas após seu lançamento, é fácil perceber como o filme se tornou um marco do final dos anos ...
-
O CinePipocaCult adverte: se você sofre de claustrofobia, síndrome do pânico ou problemas cardíacos é melhor evitar esse filme. Brincadeiras...
-
Fui ao cinema sem grandes pretensões. Não esperava um novo Matrix, nem mesmo um grande filme de ação. Difícil definir Gamer, que recebeu du...