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Lucy

Lucy - filmePerguntado sobre como definiria Lucy, Luc Besson disse ser parte O Profissional, parte A Origem e parte 2001 - Uma Odisseia no Espaço. Mas, Lucy está muito distante de Mathilda, seja antes ou depois de usar todo o seu cérebro.

Na verdade, Luc Besson brinca com probabilidades nesse filme. Brinca de Deus ao supor como seria se utilizássemos toda a nossa capacidade cerebral, de doutor ao apresentar as teorias científicas e suas pesquisas na figura do personagem de Morgan Freeman. E ainda de investigador, ou gangster como preferir, quando nos apresenta a estranha organização de coreanos em Taiwan que descobriram uma nova e poderosa droga a base de CPH4.

Lucy - filmeLucy era apenas uma garota, que não sabemos porque estava vivendo ali, e acaba se envolvendo com essa organização, se tornando uma "mula". Ou seja, tem que levar um saco da droga em seu próprio estômago. Porém, ao sofrer uma agressão, o saco estoura e ela começa a ingerir uma quantidade enorme do entorpecente que acaba transformando seu metabolismo e fazendo-a utilizar, aos poucos, todo o seu cérebro.

Com essa premissa, o filme mistura ficção científica, ação e fantasia em uma obra que brinca também com o formato da narrativa, ao criar a trama em paralelo do Professor Norman vivido por Morgan Freeman, que vai apresentando em sua palestra o que está acontecendo com Lucy e fazendo os paralelos com o reino animal. E a grande preocupação do Professor Norman é de que o ser humano está sempre mais preocupado com o ter do que o ser.

Lucy - filmeÉ curioso que dessa mistura saiam duas mensagens bem instigantes. A primeira, de que é preciso passar o nosso conhecimento adiante. O filme acaba por fazer uma ode a isso. Se temos conhecimentos, é para transmiti-los às próximas gerações. A segunda é em relação ao tempo. Segundo Lucy é ele quem legitima a nossa existência. Se juntarmos com a premissa de que o tempo é uma ilusão, talvez estejamos todos vivendo uma eterna ilusão de ótica em relação à própria vida e tudo que acreditamos conhecer.

Lucy - filmeMas, talvez, o que mais instigue em Lucy seja mesmo a sua forma. Ao brincar com tantos temas, sem levar nenhum deles a sério, Luc Besson constrói sua própria fábula de herói. Ele cria e se diverte em cenas de luta, perseguição ou simples suspense. É criativo também na utilização dos efeitos especiais com poucos recursos financeiros. Os poderes de Lucy são demonstrados de maneira simples, mas extremamente eficazes. Principalmente, quando ela utiliza as multi-telas.

Porém, apesar de toda essa mise-en-scène que nos prende em frente a tela, envolvidos e curiosos, o filme nos dá muito pouco. Muito pouco sobre os personagens, sobre a droga, o cérebro, os traficantes ou os cientistas. Todos parecem peças em um tabuleiro onde o que vale mesmo é brincar com os temas de maneira superficial e que entretenha o público. Pouco fica após a projeção. E provavelmente menos ainda ficará com o passar dos anos, ao contrário dos três filmes citados pelo diretor, sendo o primeiro, até hoje sua melhor obra.

Lucy é isso. Uma obra de entretenimento engenhosa que demonstra o talento criativo e técnico do seu diretor e roteirista, mas que acrescenta quase nada a quem o assiste. Isso não o torna ruim. Pelo contrário, é um filme bem feito e que nos envolve. Cumpre sua função. Mas, também se torna descartável. O que é uma pena.



Lucy (Lucy, 2014 / EUA)
Direção: Luc Besson
Roteiro: Luc Besson
Com: Scarlett Johansson, Morgan Freeman, Min-sik Choi
Duração: 89 min.

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