Abel Morales é um imigrante em Nova York que trabalha no ramo dos combustíveis. Mas, ao contrário da maioria dos seus concorrentes ele tenta se manter íntegro e honesto, prosperando por seus próprios méritos. Mas, o ano de 1981 trouxe o inverno mais violento da história da cidade e ele dificilmente irá conseguir escapar da corrupção, decadência e brutalidade que dominam a região.
Ao contrário do que o título induz, este não é um filme violento. Pelo menos não na concepção de filmes de gângsters e lutas. A violência não é física, é moral. Um verdadeiro cerco que vai se construindo em torno de Abel e sua família. Começa com o roubo de seus caminhões de combustíveis, depois já surgem em frente a sua casa e atacam até mesmo seus vendedores. Isso sem falar na investigação liderada pelo inspetor Lawrence.
Acompanhamos a jornada de Abel e sua esposa Anna na tentativa de manter a situação sob controle enquanto tenta fechar um importante negócio, a compra de um terminal de uma família de judeus tradicionais. E o mais interessante é que o roteiro escrito pelo próprio diretor brinca com nossas crenças e expectativas nos deixando sempre na dúvida sobre a honestidade de Abel e a possibilidade de revidar a tudo aquilo. Como se não pudéssemos acreditar em pessoas honestas e soluções pacíficas.
Mas, o que nos envolve mesmo é o cuidado que o diretor tem em construir cada um de seus planos, que nos dão cenas envolventes e sequências impressionantes. Tudo construído em programas de efeitos específicos como a sequência da invasão da casa onde temos o pequeno cão da família como pista a ser seguida. Mais do que a tensão da câmera se aproximando, ou da trilha tensa, é o ganido do cão em um choro medroso, em vez de um tradicional latido ou rugido, que nos deixa mais tensos.
Em outro momento, o casal toma um susto na estrada e Anna tem uma atitude que desagrada Abel. A cena seguinte dos dois em casa com ele completamente na penumbra dá mais dramaticidade à discussão. Vemos as reações dela, que está na luz sendo acusada e tentando se defender, mas não as dele, que parece completamente imprevisível a nosso olhar, principalmente por não confiarmos completamente em seu caráter.
Em outro momento, uma perseguição a um caminhão é construída toda no não visto. Poeira, um túnel, os poucos rastros, vão nos deixando tensos e atentos à tela. É como se J.C. Chandor simplesmente não quisesse nos dar o controle da situação. Estamos a mercê dele e sua forma de conduzir a história. Em um mundo onde a maioria dos filmes é tão previsível, chega a ser uma benção.
Esses três momentos são apenas para exemplificar o quanto O Ano Mais Violento é uma experiência fílmica que vai nos conduzindo em sua técnica de uma maneira muito própria já vislumbrada em Até o Fim, mas que aqui parece mais madura, até mesmo pela ampliação do universo proposto e personagens.
O Ano Mais Violento (A Most Violent Year, 2014/ EUA)
Direção: J.C. Chandor
Roteiro: J.C. Chandor
Com: Oscar Isaac, Jessica Chastain, David Oyelowo
Duração: 125 min.