Meu amigo Hugo (Venezuela / 2013)
Direção: Oliver StoneO diretor de filmes como Platoon, Assassinos por Natureza e Wall Street - Poder e Cobiça faz uma homenagem ao presidente venezuelano Hugo Chávez. Stone se aproximou de Chávez em uma visita ao país e pode conhecer o homem para além do mito. Sua ideia era mostrar que a imagem construída pela imprensa norte-americana não condizia com a realidade que ele via ali no país sul-americano. Mas, também busca não mitificar demais a figura do polêmico presidente.
O documentário é construído com imagens de arquivo da primeira visita de Stone, de imagens de reportagens televisivas e de imagens captadas em uma nova ida à Venezuela após a morte de Hugo Chávez. Assim, o diretor vai construindo sua percepção daquela realidade que vai além da questão política de esquerda versus direita; capitalismo versus socialismo. Vemos sonhos e projetos sendo concretizados, pessoas que admiram aquela figura a ponto de não aceitar um câncer e afirmar que ele foi assassinado e uma população carente apaixonada.
Independente do ditador e das polêmicas que ele sempre gerou, Hugo Chávez inegavelmente mudou a realidade do seu país. E isto é exposto no filme não pelos comentários preconceituosos dos jornalistas norte-americanos, mas pelas imagens do povo venezuelano que demonstra gratidão por uma vida mais digna. Pelo menos, esta é a tese defendida pelas imagens de Oliver Stone que está ali, visivelmente parcial, homenageando um homem que aprendeu a admirar.
O filme não traz grandes inovações na linguagem, nem constrói o seu roteiro de maneira que nos instigue. Chama a atenção a figura de Hugo Chávez, como sempre chamou por suas polêmicas ou investidas políticas. De qualquer maneira, cumpre o seu papel enquanto filme homenagem não indo muito além disso, nem mesmo na discussão política.
Eva & Lola (Argentina / 2010)
Direção: Sabrina FarjiSem tanto alcance internacional quanto alguns diretores argentinos, Sabrina Farji é uma diretora que, segundo ela própria defendeu no evento, busca em seus filmes questões sociais que a incomodem para construir histórias que possam ser universais. Mesmo quando fala de algo tão específico de seu país, como as crianças desaparecidas durante a ditadura militar argentina.
Eva & Lola mostra duas dessas meninas, com reações diferentes diante da possibilidade de uma família desconhecia. Eva sonha em encontrar seu pai e fica incomodada com a realidade de ser alguém sem passado. Já Lola se sente feliz com a família adotiva e não quer conhecer a família biológica, até porque isso pode condenar seu pai adotivo, um militar que participou das torturas.
Há aqui questões universais de fato. Família, busca por sua própria identidade, medos de consequências diante de erros passados. Porém, Eva & Lola acaba sendo um filme extremamente particular e simplista em sua discussão política. Há uma variável interessante com as apresentações artísticas das duas personagens, mas pouco se aprofunda tanto nelas quanto no tema em si.
As belos momentos como a própria estrutura dos telefonemas de Eva ao pai e a revelação do que aquilo significa de fato. Ou a cena inicial quando vemos um mundo construído com brinquedos e o pai de Lola no chão. Uma metáfora interessante daquele homem que "brincou" com a vida de tantas pessoas. Mas, por outro lado, há questões soltas quase tolas como toda a trama da irmã de Lola e o "forasteiro", ou de Eva com o rapaz do bar.
No final, das contas, Eva & Lola não é um filme ruim, mas acaba dizendo menos do que poderia diante do tema e das possibilidades de nos tocar mesmo não sendo argentinos, a partir de questões universais.
Si no se puede bailar, esta no es mi revolución (Cuba / 2014)
Direção: Lilah HallaFecho com esse curta-metragem sui generis que apesar de diversos problemas, trouxe questões instigantes. Gosto quando o documentário dá voz à pessoa comum e nos apresenta questões que nos identificamos, como Eduardo Coutinho sabia fazer tão bem.
Lilah Halla selecionou algumas pessoas, deu a elas um fone de ouvido com música e gravou-as dançando para a câmera. Só que nós não ouvimos a música e sim, o som ambiente. É um contraste interessante. Qualquer pessoa dançando sem música, nos parece ridículo, mas a espontaneidade daqueles pessoas simples nos toca. Principalmente uma família que tem um garotinho reclamando e um senhor que dança todo empolgado o que parece uma rumba.
Os problemas começam com esse próprio senhor que fica tempo demais em tela. Lilah Halla não soube dosar tão bem o que tinha em mãos, nos dando uma costura frágil e até mesmo cansativa, apesar de durar apenas dezesseis minutos. A experiência é válida e tocante em diversos momentos, como uma senhora que vai se arrumar e volta, sem dançar. Ou um transformista com seu amor e o carinho dele com ela, arrumando-a. Ou mesmo um adolescente fã de Nirvana.
Mas, tudo poderia ser melhor construído e trabalhado com um roteiro que nos dissesse um pouco mais dessa revolução dançante.