Entrevista Exclusiva com Lázaro Ramos
Lázaro Ramos esteve em Salvador no último dia 04 para divulgar o filme "O Vendedor de Passados". Antes da sessão, ele explicou que estava emocionado, "porque tem quatro anos que eu não lanço um filme e o cinema tem sido a minha casa, um lugar de muitas alegrias, de muitas transformações. Então, retornar com um filme e começar aqui pela minha terra é importantíssimo".
O ator que já está em cartaz com "Sorria, Você Está Sendo Filmado" poderá ser visto no papel de Vicente, o homem que reconstrói passados das pessoas, a partir do dia 21 de maio. E ainda tem mais dois filmes a serem lançados com ele em breve. Ou seja, trabalho é o que não lhe falta.
Sempre muito simpático, ele atendeu à imprensa, aos fãs e deu atenção a todos que o solicitavam, inclusive duas meninas que saíram do meio da sessão em que estavam só para tirar um foto com ele. Vejam como foi nossa conversa com o ator.
CinePipocaCult: Como você definiria O Vendedor de Passados? Primeiro o filme, depois o Vicente.
Lázaro Ramos: É um filme que brinca com gêneros de cinema. O gênero principal dele é o suspense, mas traz outras sensações, um pouquinho de romance, um pouquinho de drama, baseado na literatura de um livro que fala de identidade e memória. Aí a gente trouxe ele pra cá pra contar essa história através do Vicente que é um homem que por não saber sua origem, sua identidade, ele cria essa profissão de criar passados. Se a gente quiser levar para outro lado, é um filme que fala sobre a insatisfação com a sua história, com a passagem do tempo, e isso é uma discussão muito atual. Você vê a quantidade de cirurgias estéticas no Brasil são enormes, a quantidade de perfis falsos na internet que o povo fala e faz coisas que não faria na vida real é gigante.
CPC: E no seu passado, você mudaria alguma coisa?
LR: Não. Não mudaria nada. Talvez, eu mudasse o seguinte. Conseguir mais cedo acessar a história, entender o passado para mudar o futuro. Saber os erros que a gente cometeu, mas sempre em um âmbito geral, não no âmbito individual da minha vida.
CPC: Com o trabalho de ator, você está se reinventado o tempo todo?
LR: Me reinventando e me colocando no lugar das outras pessoas. Reeducando meu olhar para outras vidas e experiências. Acho que essa é a parte que eu mais gosto em meu trabalho.
CPC: E como é se preparar para interpretar um personagem que não sabe exatamente sua origem? Como foi a sua construção?
LR: Esse é um tema que passa muito por minha vida. Eu sempre fico buscando saber a minha origem, saber de onde eu vim, a história de minha família. Eu gosto muito da passagem do tempo, adoro arquitetura antiga, coleciono selo até hoje, coleciono moedas. Sou um homem à moda antiga. Então, essa aproximação eu já tinha. Durante o filme, eu tive contato com pessoas que trabalham com isso. Inclusive são profissões que são escondidas. Eu tive um curso com uma mulher que faz só encadernação à moda antiga. Ela tenta dar um aspecto antigo a tudo que ela encaderna. Foi lindo conversar com essa senhora, ela já tinha uns 75 anos de idade na época e era lindo ver ela falando da passagem do tempo, da importância da sua estética. Fui em uma feira que é a que aparece no filme também, que as pessoas são um bando de doido apaixonados por antiguidade, e é lindo ver isso. Em um tempo em que o valorizado é você ter um iPhone 9, você falar sobre essa beleza que o tempo tem, acho importantíssimo.
CPC: Como foi trabalhar com o Lula Buarque de Holanda, como ele é no set, deixa trabalhar junto?
LR: Deixa trabalhar junto e tem uma característica dele que acho que é bacana, que ele traz do trabalho de documentarista. Às vezes, ele deixa apenas a cena acontecer. E o filme tem toda essa carga, porque tem coisas ali que são contadas no filme que não são exatamente com palavras, cada imagem de arquivo que aparece está ali por algum motivo. E é muito legal trabalhar com um diretor que traz essa carga simbólica também.
CPC: Eu soube que você participou do roteiro também, como foi esse processo?
LR: A gente nos ensaios deu alguns pitacos. Eu sou metido a besta, cara de pau e vou me metendo no trabalho dos outros (risos).
CPC: Só na construção do seu personagem ou na história inteira?
LR: Não, nas questões em geral. Por exemplo, a escalação da dona Ruth de Souza foi uma ideia minha. Eu achava que ia trazer uma carga simbólica para o filme desse personagem que não sabe a origem dele, ter uma relação de afeto com essa mulher, essa atriz que é a Ruth de Souza.
CPC: Você ainda é jovem, mas já tem uma carreira extensa. Já fez personagens muito variados. Tem algo que você ainda não fez e gostaria de fazer?
LR: Eu estou muito interessado nos personagens que falem do meu tempo. Principalmente porque o meu tempo está sofrendo muitas transformações. Eu gostaria muito de falar sobre as novas famílias. Estou esperando alguém que vá fazer um filme sobre os novos formatos de famílias. O que representa a família no Brasil, a foto de família hoje em dia é muito mais variada do que era antigamente. Então, esse é um tema que me interessa muito.
CPC: Maio você está dominando os cinemas, né?
LR: Tô parecendo o Fábio Porchat (risos) Mas, com gêneros variados. E com muita alegria. Tem quatro anos que eu não lanço um filme. Tenho filmado, mas sem lançar. E o cinema é minha casa, me sinto muito confortável e estou muito feliz de poder estrear dois filmes de estilos diferentes. Um que é uma comédia, outro que é um suspense. É difícil divulgar tantos filmes ao mesmo tempo, em um mês de grandes estreias internacionais, os Vingadores está aí, mas dá uma animação de estar falando com você aqui e tentando colocar luz sobre esses filmes que empregou um monte de brasileiro, com histórias brasileiras e com um bom entretenimento. Você vai dar risada com o filme do Daniel, vai ver alguma beleza nesse suspense. E foi um filme que foi feito pela gente.
CPC: Você tem preferência por algum gênero?
LR: Eu tenho preferência por estar trabalhando (risos) poder criar meus filhos com dignidade. Que é difícil em um país com tantos talentos e um espaço tão pequeno para os atores, podendo trabalhar e se sustentar com sua profissão, que eu valorizo muito isso.
CPC: O cinema nacional tem chegado ao grande público através da comédia. Este filme é uma forma de mostrar também ao público outros gêneros?
LR: O nosso cinema é mais diverso do que isso. Quando você vê o cinema que é feito em Pernambuco, Tatuagem, O Som ao Redor, são filmes interessantíssimos e que nem sempre o público acessa como merece. Então, é uma batalha que a gente tem que encampar porque eu acho que essa diversidade que tem nas características do povo brasileiro já está sendo espelhada no cinema e o público ainda não está acessando. Então, é importante a gente falar isso todos os dias porque os 14 milhões do Tropa de Elite 2 para um país que tem 200 milhões de habitantes ainda é muito pouco.
CPC: Nessas rodadas de entrevistas sempre tem muitas perguntas repetidas. Tem alguma pergunta que não te fizeram e você gostaria de responder?
LR: O que ninguém me perguntou? (após pensar um pouco) Porque, em minhas escolhas profissionais, eu não escolho os filmes que tem mais cara de blockbusters?
CPC: E por que você não escolhe?
LR: Não faço a menor ideia. (risos) Acho que é porque o verdadeiro sucesso não é dar ao público aquilo que ele quer. Mas, aquilo que ele não sabe que quer.
O ator que já está em cartaz com "Sorria, Você Está Sendo Filmado" poderá ser visto no papel de Vicente, o homem que reconstrói passados das pessoas, a partir do dia 21 de maio. E ainda tem mais dois filmes a serem lançados com ele em breve. Ou seja, trabalho é o que não lhe falta.
Sempre muito simpático, ele atendeu à imprensa, aos fãs e deu atenção a todos que o solicitavam, inclusive duas meninas que saíram do meio da sessão em que estavam só para tirar um foto com ele. Vejam como foi nossa conversa com o ator.
CinePipocaCult: Como você definiria O Vendedor de Passados? Primeiro o filme, depois o Vicente.
Lázaro Ramos: É um filme que brinca com gêneros de cinema. O gênero principal dele é o suspense, mas traz outras sensações, um pouquinho de romance, um pouquinho de drama, baseado na literatura de um livro que fala de identidade e memória. Aí a gente trouxe ele pra cá pra contar essa história através do Vicente que é um homem que por não saber sua origem, sua identidade, ele cria essa profissão de criar passados. Se a gente quiser levar para outro lado, é um filme que fala sobre a insatisfação com a sua história, com a passagem do tempo, e isso é uma discussão muito atual. Você vê a quantidade de cirurgias estéticas no Brasil são enormes, a quantidade de perfis falsos na internet que o povo fala e faz coisas que não faria na vida real é gigante.
CPC: E no seu passado, você mudaria alguma coisa?
LR: Não. Não mudaria nada. Talvez, eu mudasse o seguinte. Conseguir mais cedo acessar a história, entender o passado para mudar o futuro. Saber os erros que a gente cometeu, mas sempre em um âmbito geral, não no âmbito individual da minha vida.
CPC: Com o trabalho de ator, você está se reinventado o tempo todo?
LR: Me reinventando e me colocando no lugar das outras pessoas. Reeducando meu olhar para outras vidas e experiências. Acho que essa é a parte que eu mais gosto em meu trabalho.
CPC: E como é se preparar para interpretar um personagem que não sabe exatamente sua origem? Como foi a sua construção?
LR: Esse é um tema que passa muito por minha vida. Eu sempre fico buscando saber a minha origem, saber de onde eu vim, a história de minha família. Eu gosto muito da passagem do tempo, adoro arquitetura antiga, coleciono selo até hoje, coleciono moedas. Sou um homem à moda antiga. Então, essa aproximação eu já tinha. Durante o filme, eu tive contato com pessoas que trabalham com isso. Inclusive são profissões que são escondidas. Eu tive um curso com uma mulher que faz só encadernação à moda antiga. Ela tenta dar um aspecto antigo a tudo que ela encaderna. Foi lindo conversar com essa senhora, ela já tinha uns 75 anos de idade na época e era lindo ver ela falando da passagem do tempo, da importância da sua estética. Fui em uma feira que é a que aparece no filme também, que as pessoas são um bando de doido apaixonados por antiguidade, e é lindo ver isso. Em um tempo em que o valorizado é você ter um iPhone 9, você falar sobre essa beleza que o tempo tem, acho importantíssimo.
CPC: Como foi trabalhar com o Lula Buarque de Holanda, como ele é no set, deixa trabalhar junto?
LR: Deixa trabalhar junto e tem uma característica dele que acho que é bacana, que ele traz do trabalho de documentarista. Às vezes, ele deixa apenas a cena acontecer. E o filme tem toda essa carga, porque tem coisas ali que são contadas no filme que não são exatamente com palavras, cada imagem de arquivo que aparece está ali por algum motivo. E é muito legal trabalhar com um diretor que traz essa carga simbólica também.
CPC: Eu soube que você participou do roteiro também, como foi esse processo?
LR: A gente nos ensaios deu alguns pitacos. Eu sou metido a besta, cara de pau e vou me metendo no trabalho dos outros (risos).
CPC: Só na construção do seu personagem ou na história inteira?
LR: Não, nas questões em geral. Por exemplo, a escalação da dona Ruth de Souza foi uma ideia minha. Eu achava que ia trazer uma carga simbólica para o filme desse personagem que não sabe a origem dele, ter uma relação de afeto com essa mulher, essa atriz que é a Ruth de Souza.
CPC: Você ainda é jovem, mas já tem uma carreira extensa. Já fez personagens muito variados. Tem algo que você ainda não fez e gostaria de fazer?
LR: Eu estou muito interessado nos personagens que falem do meu tempo. Principalmente porque o meu tempo está sofrendo muitas transformações. Eu gostaria muito de falar sobre as novas famílias. Estou esperando alguém que vá fazer um filme sobre os novos formatos de famílias. O que representa a família no Brasil, a foto de família hoje em dia é muito mais variada do que era antigamente. Então, esse é um tema que me interessa muito.
CPC: Maio você está dominando os cinemas, né?
LR: Tô parecendo o Fábio Porchat (risos) Mas, com gêneros variados. E com muita alegria. Tem quatro anos que eu não lanço um filme. Tenho filmado, mas sem lançar. E o cinema é minha casa, me sinto muito confortável e estou muito feliz de poder estrear dois filmes de estilos diferentes. Um que é uma comédia, outro que é um suspense. É difícil divulgar tantos filmes ao mesmo tempo, em um mês de grandes estreias internacionais, os Vingadores está aí, mas dá uma animação de estar falando com você aqui e tentando colocar luz sobre esses filmes que empregou um monte de brasileiro, com histórias brasileiras e com um bom entretenimento. Você vai dar risada com o filme do Daniel, vai ver alguma beleza nesse suspense. E foi um filme que foi feito pela gente.
CPC: Você tem preferência por algum gênero?
LR: Eu tenho preferência por estar trabalhando (risos) poder criar meus filhos com dignidade. Que é difícil em um país com tantos talentos e um espaço tão pequeno para os atores, podendo trabalhar e se sustentar com sua profissão, que eu valorizo muito isso.
CPC: O cinema nacional tem chegado ao grande público através da comédia. Este filme é uma forma de mostrar também ao público outros gêneros?
LR: O nosso cinema é mais diverso do que isso. Quando você vê o cinema que é feito em Pernambuco, Tatuagem, O Som ao Redor, são filmes interessantíssimos e que nem sempre o público acessa como merece. Então, é uma batalha que a gente tem que encampar porque eu acho que essa diversidade que tem nas características do povo brasileiro já está sendo espelhada no cinema e o público ainda não está acessando. Então, é importante a gente falar isso todos os dias porque os 14 milhões do Tropa de Elite 2 para um país que tem 200 milhões de habitantes ainda é muito pouco.
CPC: Nessas rodadas de entrevistas sempre tem muitas perguntas repetidas. Tem alguma pergunta que não te fizeram e você gostaria de responder?
LR: O que ninguém me perguntou? (após pensar um pouco) Porque, em minhas escolhas profissionais, eu não escolho os filmes que tem mais cara de blockbusters?
CPC: E por que você não escolhe?
LR: Não faço a menor ideia. (risos) Acho que é porque o verdadeiro sucesso não é dar ao público aquilo que ele quer. Mas, aquilo que ele não sabe que quer.
Amanda Aouad
Crítica afiliada à Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema), é doutora em Comunicação e Cultura Contemporâneas (Poscom / UFBA) e especialista em Cinema pela UCSal. Roteirista profissional desde 2005, é co-criadora do projeto A Guardiã, além da equipe do Núcleo Anima Bahia sendo roteirista de séries como "Turma da Harmonia", "Bill, o Touro" e "Tadinha". É ainda professora dos cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda da Unifacs e da Uniceusa. Atualmente, faz parte da diretoria da Abraccine como secretária geral.
Entrevista Exclusiva com Lázaro Ramos
2015-05-11T13:20:00-03:00
Amanda Aouad
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