Mesmo Se Nada Der Certo

Dizem que comédias românticas estão desgastadas e que o gênero se tornou algo tão clichê que é difícil nos surpreender. Bom, ainda que não traga grandes inovações Mesmo Se Nada Der Certo tem suas surpresas e peculiaridades que a tornam um encanto.

O reverso da expectativa já começa no perfil dos protagonistas. Não há príncipes ou princesas, mas dois fracassados que se unem para tentar dar uma guinada em suas vidas. Não nem mesmo um clima de romance no ar, mas um encontro profissional possível. Ele é um produtor musical sonhador e falido que acaba de ser demitido pelo próprio sócio. Ela, uma excelente compositora que acaba de levar um fora do namorado cantor famoso.

O roteiro, escrito pelo próprio John Carney brinca com o tempo e com o espaço para nos contar essa história, começando pelo ponto exato em que os dois se encontram e depois retornando para cada um dos pontos de vista, para que possamos entender como cada um chegou ali. Há ainda mais dois retornos no tempo, e é interessante que o diretor utilize o mesmo recurso para ambos os retrocessos: um vídeo no computador. Como se mergulhássemos na cena que estamos vendo para vivenciá-la em sua época.

Apesar de não formarem um casal propriamente dito, Keira Knightley e Mark Ruffalo acabam construindo uma química perfeita. É gostoso de acompanhar o desenrolar dessa relação pouco definida, mas onde acima de tudo há cumplicidade, admiração e respeito. Como parceiros profissionais ou amigos, Gretta e Dan conseguem descobrir suas afinidades, se tornando cada vez mais próximos a partir da música.

Música que está presente em toda a trama de uma maneira profunda e instigante. Desde a primeira cena com Gretta apresentando sua música no palco. Mas, a forma como embarcamos no ponto de vista de Dan a torna ainda mais instigante, com o produtor musical imaginando o novo arranjo com os instrumentos entrando aos poucos na apresentação. Isso faz a cena ganhar força e acaba sendo um dos pontos principais do filme. Não por acaso ele diz que "a cena mais banal se enche de significado com música".

A sequência dos dois andando pela cidade ouvindo música demonstra bem isso. É forte, é bela, é envolvente. Nos sentimos ali, junto com eles, vivenciando os detalhes urbanos e as melodias que nos evocam diversas sensações. Isso sem falar nas letras que acabam também transmitindo muito e enriquecendo as imagens. É impressionante a força da música e a maneira como ela nos transporta para os mais diversos locais e épocas.

Mesmo Se Nada Der Certo é daqueles filmes gostosos de acompanhar, como sua música tema "Lost Stars". Somos envolvidos sem nos preocupar muito, apesar de também sermos tocados em diversos temas desenvolvidos ali como seguir sonhos, família, amor, desejos. Tudo com um tom de coragem para transgredir e vivenciar o que nos parece mais correto.

Mesmo Se Nada Der Certo (Begin Again, 2013 / EUA)
Direção: John Carney
Roteiro: John Carney
Com: Keira Knightley, Mark Ruffalo, Adam Levine
Duração: 104 min.