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Lula Buarque de Hollanda
Mayana Neiva
Odilon Wagner
Ruth de Souza
O Vendedor de Passados
O Vendedor de Passados
Baseado no livro do angolano José Eduardo Agualusa, O Vendedor de Passados tem uma premissa interessante. E se pudéssemos modificar o nosso passado? O que mudaríamos e quais seriam as consequências? Pena que o roteiro não é tão bem trabalhado.
Vicente é um homem que vive de reconstruir passados para seus clientes. Faz montagem de fotos, de vídeos, recria histórias, constrói álbuns. Um dia, uma moça bate em sua porta pedindo uma nova história. Ela não quer lhe contar nada, nem mesmo seu nome e lhe dá carta branca para construir do zero, sua única exigência, ela quer ter cometido um crime. Tudo isso o assusta e o fascina ao mesmo tempo. E ele nem percebe que está embarcando em uma trama perigosa.
Esse é o primeiro dos problemas do filme: as consequências. Ninguém parece estar muito preocupado quanto às questões éticas e legais dessa atividade de Vicente. O rapaz recebe as pessoas em sua própria casa sem nenhuma proteção ou desconfiança. Um simples questionamento de "Você é jornalista" para a personagem de Alinne Moraes parece pouco para um homem que simplesmente reconstrói passados usando imagens de outras pessoas, sem nem mesmo uma autorização. Mesmo o desenrolar de uma consequência mais a frente é tratada de maneira superficial, quase leviana.
Ainda que Vicente tenha começado seu ofício quase como brincadeira com os vídeos de seu pai adotivo, o que ele queria mesmo era fechar um buraco em seu próprio passado. De onde ele veio? Quem eram seus pais verdadeiros? A partir de um ponto obscuro ele se recriou e encontrou uma forma de reescrever a própria linha da vida, encontrando vantagens e desvantagens em viver no mundo da fantasia. Isso daria um belo drama psicológico, se pudéssemos aprofundar esse personagem, seus anseios e seus objetivos. Mas, em O Vendedor de Passados tudo fica muito raso.
Isso nos leva a pensar que Lula Buarque de Hollanda e a roteirista Isabel Muniz estavam muito mais preocupados com os significados metafóricos de tudo isso. A própria significância de que o artista também é um vendedor de passados, criando, recriando e construindo narrativas que nos envolvem e nos fazem crer em verdades quase absolutas. "Você acredita em tudo que te dizem?"ecoa em nossa mente a pergunta-chave do filme. Que, no entanto, é mal colocada ao não se encerrar em si, se obrigando a explicar o que não precisa. Seria um filme muito mais interessante se seguisse a coragem do recente Entre Abelhas, encerrando o filme antes da explicação.
Ainda assim, o filme nos dá algo para pensar. Vai além do superficial ao nos colocar diante de um ser enigmático como a personagem de Alinne Moraes, batizada por Vicente como Clara, mas que nada sabemos. Não é de se estranhar que ele fique fascinado por ela. O que não sabemos nos instiga, e ao recriar um passado para a moça, Vicente acabou por construir sua mulher ideal. Aquela que ele gostaria de ter conhecido e se relacionado. É coerente, então, que haja um enlace amoroso, o problema é que ele é mal desenvolvido junto aos demais gêneros que o filme tenta permear. Principalmente pelo suspense que se dilui quase completamente em uma simples profissão exótica e pessoas infelizes que querem se repaginar emocionalmente.
Lázaro Ramos consegue nos convencer como Vicente, ainda que fique a sensação de que ele poderia ir além se o personagem fosse aprofundado. Há muito material nele. Um homem que não sabe sua origem, vivendo de reconstruir passados, não tendo amigos, só a companhia esporádica de seu padrinho e que quase não fala mais com sua mãe adotiva. Mas,tudo isso passa pelo filme de maneira superficial. Assim como a personagem de Alinne Moraes, de quem nada sabemos, mas que não se demonstra em suas atitudes possuir um background que justifique tudo aquilo, ao contrário de Natalie Portman em Closer, por exemplo.
O Vendedor de Passados tem potencial e poderia ser um filme muito melhor resolvido do que se apresenta. De qualquer maneira, é um filme brasileiro que vai além do óbvio. É bom ver novas tentativas surgindo por aí.
O Vendedor de Passados (2015 / Brasil)
Direção: Lula Buarque de Hollanda
Roteiro: Isabel Muniz
Com: Alinne Moraes, Lázaro Ramos, Mayana Neiva, Ruth de Souza, Odilon Wagner
Duração: 80 min.
Vicente é um homem que vive de reconstruir passados para seus clientes. Faz montagem de fotos, de vídeos, recria histórias, constrói álbuns. Um dia, uma moça bate em sua porta pedindo uma nova história. Ela não quer lhe contar nada, nem mesmo seu nome e lhe dá carta branca para construir do zero, sua única exigência, ela quer ter cometido um crime. Tudo isso o assusta e o fascina ao mesmo tempo. E ele nem percebe que está embarcando em uma trama perigosa.
Esse é o primeiro dos problemas do filme: as consequências. Ninguém parece estar muito preocupado quanto às questões éticas e legais dessa atividade de Vicente. O rapaz recebe as pessoas em sua própria casa sem nenhuma proteção ou desconfiança. Um simples questionamento de "Você é jornalista" para a personagem de Alinne Moraes parece pouco para um homem que simplesmente reconstrói passados usando imagens de outras pessoas, sem nem mesmo uma autorização. Mesmo o desenrolar de uma consequência mais a frente é tratada de maneira superficial, quase leviana.
Ainda que Vicente tenha começado seu ofício quase como brincadeira com os vídeos de seu pai adotivo, o que ele queria mesmo era fechar um buraco em seu próprio passado. De onde ele veio? Quem eram seus pais verdadeiros? A partir de um ponto obscuro ele se recriou e encontrou uma forma de reescrever a própria linha da vida, encontrando vantagens e desvantagens em viver no mundo da fantasia. Isso daria um belo drama psicológico, se pudéssemos aprofundar esse personagem, seus anseios e seus objetivos. Mas, em O Vendedor de Passados tudo fica muito raso.
Isso nos leva a pensar que Lula Buarque de Hollanda e a roteirista Isabel Muniz estavam muito mais preocupados com os significados metafóricos de tudo isso. A própria significância de que o artista também é um vendedor de passados, criando, recriando e construindo narrativas que nos envolvem e nos fazem crer em verdades quase absolutas. "Você acredita em tudo que te dizem?"ecoa em nossa mente a pergunta-chave do filme. Que, no entanto, é mal colocada ao não se encerrar em si, se obrigando a explicar o que não precisa. Seria um filme muito mais interessante se seguisse a coragem do recente Entre Abelhas, encerrando o filme antes da explicação.
Ainda assim, o filme nos dá algo para pensar. Vai além do superficial ao nos colocar diante de um ser enigmático como a personagem de Alinne Moraes, batizada por Vicente como Clara, mas que nada sabemos. Não é de se estranhar que ele fique fascinado por ela. O que não sabemos nos instiga, e ao recriar um passado para a moça, Vicente acabou por construir sua mulher ideal. Aquela que ele gostaria de ter conhecido e se relacionado. É coerente, então, que haja um enlace amoroso, o problema é que ele é mal desenvolvido junto aos demais gêneros que o filme tenta permear. Principalmente pelo suspense que se dilui quase completamente em uma simples profissão exótica e pessoas infelizes que querem se repaginar emocionalmente.
Lázaro Ramos consegue nos convencer como Vicente, ainda que fique a sensação de que ele poderia ir além se o personagem fosse aprofundado. Há muito material nele. Um homem que não sabe sua origem, vivendo de reconstruir passados, não tendo amigos, só a companhia esporádica de seu padrinho e que quase não fala mais com sua mãe adotiva. Mas,tudo isso passa pelo filme de maneira superficial. Assim como a personagem de Alinne Moraes, de quem nada sabemos, mas que não se demonstra em suas atitudes possuir um background que justifique tudo aquilo, ao contrário de Natalie Portman em Closer, por exemplo.
O Vendedor de Passados tem potencial e poderia ser um filme muito melhor resolvido do que se apresenta. De qualquer maneira, é um filme brasileiro que vai além do óbvio. É bom ver novas tentativas surgindo por aí.
O Vendedor de Passados (2015 / Brasil)
Direção: Lula Buarque de Hollanda
Roteiro: Isabel Muniz
Com: Alinne Moraes, Lázaro Ramos, Mayana Neiva, Ruth de Souza, Odilon Wagner
Duração: 80 min.
Amanda Aouad
Crítica afiliada à Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema), é doutora em Comunicação e Cultura Contemporâneas (Poscom / UFBA) e especialista em Cinema pela UCSal. Roteirista profissional desde 2005, é co-criadora do projeto A Guardiã, além da equipe do Núcleo Anima Bahia sendo roteirista de séries como "Turma da Harmonia", "Bill, o Touro" e "Tadinha". É ainda professora dos cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda da Unifacs e da Uniceusa. Atualmente, faz parte da diretoria da Abraccine como secretária geral.
O Vendedor de Passados
2015-05-20T08:30:00-03:00
Amanda Aouad
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