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Irandhir Santos
Leonardo Lacca
Rita Carelli
Sílvio Restiffe
Permanência
Permanência
Permanência, ato de permanecer, estado, condição ou qualidade de permanente; constância, continuidade, firmeza.
Nada e ao mesmo tempo tudo permanece na vida de Ivo. Apesar de estar dando um grande passo em sua carreira com sua primeira exposição solo como fotógrafo. Saindo de sua provavelmente pacata vida em Recife, onde tem uma namorada, ele embarca para São Paulo, mas se hospeda na casa de Rita, ex-namorada, que está casada atualmente com outra pessoa. Ou seja, é sempre essa alternância entre o conforto do conhecido e os desafios do desconhecido em sua vida.
Porém, mesmo aquilo que parecia ser está em constante mudança, o amor que ainda sente por Rita se transformou em alguma coisa incômoda que nem ele nem ela conseguem lidar direito. Há um desconforto constante, ainda que também um encantamento com a presença do outro. A cena em que Ivo ouve a mensagem da sua noiva olhando para Rita na cozinha fazendo a salada, por exemplo, é extremamente forte. Mas, mesmo sozinhos como na cozinha, fazendo café, há uma sensação de não pertencimento.
Pouco sabemos de Ivo. É filho bastardo e apesar de uma boa relação com o pai, não pode se relacionar com a família, pois a esposa do genitor não sabe que ele existe. Gosta de coisas simples, de silêncio, de observar as pessoas. E fotografa ainda com filme, em uma época em que tudo é digital. Há também a informação de que tem medo de elevador, mas essa some rapidinho, criando apenas uma piada na apresentação do personagem.
O gosto pela película reflete um pouco da composição do próprio filme, com uma fotografia bem cuidada, mas sempre com uma tonalidade meio lavada, com um ar envelhecido, tal qual as fotos tiradas por Ivo, que busca sempre esse elo com o passado, com o tradicional, onde o mundo ainda parece caminhar em um compasso mais lento. Não por acaso ele anda pela madrugada de São Paulo entre ruas vazias e diz: "Eu moraria em São Paulo nesse horário".
Irandhir Santos constrói esse homem com tons também melancólicos. É interessante ver esse ator versátil e talentoso mostrar um lado mais contido. Pernambucano sim, ouvindo piadas sobre seu sotaque, mas sem caricaturas. Um homem cosmopolita capaz de ser encontrado em qualquer lugar. E que quer as mesmas coisas que todos: amor, reconhecimento e momentos felizes.
O ritmo do filme é ditado pela espera. Por mais que caminhe pela cidade, frequente festas, se relacione com uma das promoters da exposição. Por mais que crie-se um conflito velado no triângulo amoroso formato com sua amiga Rita e o marido dela. Ivo está sempre esperando. E, com ele, nós esperamos juntos algo acontecer. Não que, com isso, o filme fique monótono, mas constrói a sensação da monotonia interna do protagonista.
Permanência é um filme bonito e melancólico que parece celebrar o que poderia ter sido. E abre portas em vez de fechá-las. Talvez, por isso, a palavrinha final na tela pudesse vir acompanhada de uma interrogação. Fim? Provavelmente não.
Permanência (Permanência, 2015 / Brasil)
Direção: Leonardo Lacca
Roteiro: Leonardo Lacca
Com: Irandhir Santos, Rita Carelli, Sílvio Restiffe
Duração: 90 min.
Nada e ao mesmo tempo tudo permanece na vida de Ivo. Apesar de estar dando um grande passo em sua carreira com sua primeira exposição solo como fotógrafo. Saindo de sua provavelmente pacata vida em Recife, onde tem uma namorada, ele embarca para São Paulo, mas se hospeda na casa de Rita, ex-namorada, que está casada atualmente com outra pessoa. Ou seja, é sempre essa alternância entre o conforto do conhecido e os desafios do desconhecido em sua vida.
Porém, mesmo aquilo que parecia ser está em constante mudança, o amor que ainda sente por Rita se transformou em alguma coisa incômoda que nem ele nem ela conseguem lidar direito. Há um desconforto constante, ainda que também um encantamento com a presença do outro. A cena em que Ivo ouve a mensagem da sua noiva olhando para Rita na cozinha fazendo a salada, por exemplo, é extremamente forte. Mas, mesmo sozinhos como na cozinha, fazendo café, há uma sensação de não pertencimento.
Pouco sabemos de Ivo. É filho bastardo e apesar de uma boa relação com o pai, não pode se relacionar com a família, pois a esposa do genitor não sabe que ele existe. Gosta de coisas simples, de silêncio, de observar as pessoas. E fotografa ainda com filme, em uma época em que tudo é digital. Há também a informação de que tem medo de elevador, mas essa some rapidinho, criando apenas uma piada na apresentação do personagem.
O gosto pela película reflete um pouco da composição do próprio filme, com uma fotografia bem cuidada, mas sempre com uma tonalidade meio lavada, com um ar envelhecido, tal qual as fotos tiradas por Ivo, que busca sempre esse elo com o passado, com o tradicional, onde o mundo ainda parece caminhar em um compasso mais lento. Não por acaso ele anda pela madrugada de São Paulo entre ruas vazias e diz: "Eu moraria em São Paulo nesse horário".
Irandhir Santos constrói esse homem com tons também melancólicos. É interessante ver esse ator versátil e talentoso mostrar um lado mais contido. Pernambucano sim, ouvindo piadas sobre seu sotaque, mas sem caricaturas. Um homem cosmopolita capaz de ser encontrado em qualquer lugar. E que quer as mesmas coisas que todos: amor, reconhecimento e momentos felizes.
O ritmo do filme é ditado pela espera. Por mais que caminhe pela cidade, frequente festas, se relacione com uma das promoters da exposição. Por mais que crie-se um conflito velado no triângulo amoroso formato com sua amiga Rita e o marido dela. Ivo está sempre esperando. E, com ele, nós esperamos juntos algo acontecer. Não que, com isso, o filme fique monótono, mas constrói a sensação da monotonia interna do protagonista.
Permanência é um filme bonito e melancólico que parece celebrar o que poderia ter sido. E abre portas em vez de fechá-las. Talvez, por isso, a palavrinha final na tela pudesse vir acompanhada de uma interrogação. Fim? Provavelmente não.
Permanência (Permanência, 2015 / Brasil)
Direção: Leonardo Lacca
Roteiro: Leonardo Lacca
Com: Irandhir Santos, Rita Carelli, Sílvio Restiffe
Duração: 90 min.
Amanda Aouad
Crítica afiliada à Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema), é doutora em Comunicação e Cultura Contemporâneas (Poscom / UFBA) e especialista em Cinema pela UCSal. Roteirista profissional desde 2005, é co-criadora do projeto A Guardiã, além da equipe do Núcleo Anima Bahia sendo roteirista de séries como "Turma da Harmonia", "Bill, o Touro" e "Tadinha". É ainda professora dos cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda da Unifacs e da Uniceusa. Atualmente, faz parte da diretoria da Abraccine como secretária geral.
Permanência
2015-06-10T08:30:00-03:00
Amanda Aouad
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