O advogado que, apesar de exercer a profissão, entrou para a história como crítico cinematográfico foi um dos nomes mais importantes para o nosso cinema. Seja pela criação do seu famoso CineClube, de onde saíram nomes como Roberto Pires, Glauber Rocha e Olney São Paulo. Ou seja pelos textos críticos que publicou em diversos jornais da época e que estão compilados em quatro volumes de uma coleção organizada por José Umberto Dias.
Walter da Silveira foi um intelectual do cinema que ajudou no reconhecimento da arte, muito antes da Nouvelle Vague iniciar seus manifestos. Seus textos instigavam o bom cinema. Via qualidade em obras da indústria norte-americana e garimpava pérolas de outros países, difíceis de chegar por aqui. Mas, acima de tudo incentivou os jovens baianos a produzir cinema. Não por acaso o nosso ciclo regional só começou depois dele.
Em seus discursos durante os cineclubes ele ensinava a análise e a técnica através das obras que trazia para discussão. E, assim, ajudava a formar a mente e o estilo dos futuros cineastas. Os mesmos que, depois, ele tão duramente cobrava em suas críticas. O sonho de Walter da Silveira era ver o que ele chamava de cinema nacional. E ele viu no garoto de Vitória da Conquista, ainda desconhecido Glauber Rocha, essa possibilidade quando estreou Barravento. Antes, já tinha incentivado Roberto Pires com A Grande Feira, em contraste com a dura crítica que fez a Bahia de Todos os Santos de Trigueirinho Neto.
Este talvez seja um dos mais famosos casos do Dr. Walter, pois foram duas "críticas" do filme, um texto antes, com a expectativa, e um depois, com a decepção. Na véspera da estreia do filme, o crítico fez uma matéria enchendo Trigueirinho Neto de elogios, pela iniciativa, pela temática, pela expectativa da obra que trazia o título "Para Trigueirinho Neto, um louvor". Após assisti-la, no entanto, ele retornou para falar de sua decepção. “Tanto desejei aplaudir você, Trigueirinho Neto: não pude. Bahia de todos os Santos não merece a vaia dos que detestaram o filme. Mas, não merece amor...".
Ainda que um analista técnico e um intelectual com grande eloquência, Walter da Silveira era mesmo um apaixonado. E esse tipo de rompante demonstrava isso. A vontade de ver acontecer o cinema que ele sonhava aqui na Bahia, sua terra, criada por aqueles meninos que ele ajudou a formar. Pode não ter sido sempre o mais justo e profético. Mas, sem dúvidas teve papel fundamental na construção da história cinematográfica do nosso país.
CineClube Walter da Silveira
Então, nada mais justo que a data de celebração do seu centenário ser o marco do início do CineClube Walter da Silveira. Realização da Dimas - Diretoria de Imagem e Som da Bahia, organizado na sala que leva o seu nome, na biblioteca pública dos Barris. A ideia, segundo o programador da sala Adolfo Gomes, "é celebrar o crítico com aquilo que ele nos deixou de maior legado: a discussão cinematográfica."Serão sessões mensais com datas e horários ainda não definidos, serão gratuitas e terão sempre a exibição de um filme marcante na história do cinema seguido de bate-papo com algum crítico local. Ou seja, uma homenagem mais do que justa e um presente para os cinéfilos de Salvador.
A primeira sessão, realizada hoje, dia do seu centenário será com o filme “Pierrot Le Fou” de Jean-Luc Godard, com cópia recém restaurada pela cinemateca francesa. A discussão após a sessão será conduzida pelo crítico Adalberto Meireles.
CineClube Walter da Silveira
Filme: Pierrot Le Fou (Jean-Luc Godard)
Dia: 22/07/2015
Local: Sala Walter da Silveira
Entrada Gratuita
Horário: 19h