What Happened, Miss Simone?
What Happened, Miss Simone?, documentário da Netflix que chegou à plataforma esta semana tem dois grandes trunfos: a quantidade de imagens de arquivo, algumas inéditas, e a própria personagem retratada, por sua força, sua música, seu posicionamento político e pela conturbada vida social que a levou a morrer quase sozinha.
Eunice Kathleen Waymon, seu nome de batismo, na verdade tinha um sonho muito claro: ser a primeira pianista clássica negra. Não conseguiu. Foi recusada pela faculdade de música Filadélfia e teve que começar a tocar em bares para sobreviver. Foi lá que nasceu Nina Simone, o codinome que usou por toda a vida artística e que começou sendo apenas um disfarce para que sua mãe não soubesse que ela estava tocando músicas "profanas". Mal ela sabia que suas dificuldades estavam apenas começando.
Liz Garbus disseca a vida de Nina Simone em todos os níveis e papéis. Utilizando depoimentos da filha, do ex-marido e de amigos próximos, o documentário utiliza diversas imagens de arquivo para nos dar a própria cantora e pianista como peça importante nessa reconstituição histórica. Tendo inclusive, diversos arquivos de entrevistas em rádios, ilustradas por imagens da época, vamos conhecendo os sonhos, as decepções e a alma de Nina Simone, que só queria ser reconhecida por seu talento, sem ser julgada por sua cor.
O talento musical foi sendo aprimorado com o tempo, sendo composto por músicas que servem de inspiração até hoje. Mas, sua contribuição para a música teve também um viés político muito forte. O atentado no Alabama que matou quatro garotas dentro da igreja foi o estopim para que Nina voltasse sua carreira para a música política. Com "Mississippi Goddam" ela foi amada e odiada. Símbolo de uma causa, mas barrada em rádios e televisões por causa do "palavrão" e sua carreira nunca mais foi a mesma.
É emocionante conhecer a vida pessoal dessa mulher que parecia tão forte em palco. Suas dificuldades com amizades, sempre muito sozinha. Seu relacionamento conturbado com Andrew Stroud, seu marido e empresário durante muito tempo de quem sofreu violência doméstica por diversas vezes. E, principalmente, sua doença, síndrome de bipolaridade que fazia ela estourar com a plateia, assim como chorar com imensa facilidade.
Mais do que um documentário histórico sobre uma cantora e pianista, What Happened, Miss Simone? é um resgate amoroso de um ser humano incrível. Nos faz querer tê-la conhecido e compreendido suas lutas, seu desejo por valorizar a sua própria raça tão maltratada. Ainda que possamos não concordar com a incitação da violência que ela defendia. Mas, havia uma auto-afirmação necessária, sem dúvidas.
O documentário me lembra muito outro símbolo ativista famoso na época: Mama África, de Mika Kaurismäki, nos mostra Miriam Makeba com toda a força que a personagem tem em sua música e ativismo político. Mulheres incríveis, hoje quase esquecidas da grande massa, mas que continuam com seus acordes ecoando por aí, mesmo que em outros compassos, vozes e até línguas.
What Happened, Miss Simone? pode não trazer nenhum inovação na linguagem do documentário, nem mesmo ter uma estrutura tão criativa, ou mesmo um roteiro tão bem delineado. Mas, é competente em nos passar a história dessa mulher e fazê-la ecoar aos quatro cantos do mundo, como merece.
What Happened, Miss Simone? (2015 / EUA)
Direção: Liz Garbus
Roteiro: Liz Garbus
Duração: 101 min.
Eunice Kathleen Waymon, seu nome de batismo, na verdade tinha um sonho muito claro: ser a primeira pianista clássica negra. Não conseguiu. Foi recusada pela faculdade de música Filadélfia e teve que começar a tocar em bares para sobreviver. Foi lá que nasceu Nina Simone, o codinome que usou por toda a vida artística e que começou sendo apenas um disfarce para que sua mãe não soubesse que ela estava tocando músicas "profanas". Mal ela sabia que suas dificuldades estavam apenas começando.
Liz Garbus disseca a vida de Nina Simone em todos os níveis e papéis. Utilizando depoimentos da filha, do ex-marido e de amigos próximos, o documentário utiliza diversas imagens de arquivo para nos dar a própria cantora e pianista como peça importante nessa reconstituição histórica. Tendo inclusive, diversos arquivos de entrevistas em rádios, ilustradas por imagens da época, vamos conhecendo os sonhos, as decepções e a alma de Nina Simone, que só queria ser reconhecida por seu talento, sem ser julgada por sua cor.
O talento musical foi sendo aprimorado com o tempo, sendo composto por músicas que servem de inspiração até hoje. Mas, sua contribuição para a música teve também um viés político muito forte. O atentado no Alabama que matou quatro garotas dentro da igreja foi o estopim para que Nina voltasse sua carreira para a música política. Com "Mississippi Goddam" ela foi amada e odiada. Símbolo de uma causa, mas barrada em rádios e televisões por causa do "palavrão" e sua carreira nunca mais foi a mesma.
É emocionante conhecer a vida pessoal dessa mulher que parecia tão forte em palco. Suas dificuldades com amizades, sempre muito sozinha. Seu relacionamento conturbado com Andrew Stroud, seu marido e empresário durante muito tempo de quem sofreu violência doméstica por diversas vezes. E, principalmente, sua doença, síndrome de bipolaridade que fazia ela estourar com a plateia, assim como chorar com imensa facilidade.
Mais do que um documentário histórico sobre uma cantora e pianista, What Happened, Miss Simone? é um resgate amoroso de um ser humano incrível. Nos faz querer tê-la conhecido e compreendido suas lutas, seu desejo por valorizar a sua própria raça tão maltratada. Ainda que possamos não concordar com a incitação da violência que ela defendia. Mas, havia uma auto-afirmação necessária, sem dúvidas.
O documentário me lembra muito outro símbolo ativista famoso na época: Mama África, de Mika Kaurismäki, nos mostra Miriam Makeba com toda a força que a personagem tem em sua música e ativismo político. Mulheres incríveis, hoje quase esquecidas da grande massa, mas que continuam com seus acordes ecoando por aí, mesmo que em outros compassos, vozes e até línguas.
What Happened, Miss Simone? pode não trazer nenhum inovação na linguagem do documentário, nem mesmo ter uma estrutura tão criativa, ou mesmo um roteiro tão bem delineado. Mas, é competente em nos passar a história dessa mulher e fazê-la ecoar aos quatro cantos do mundo, como merece.
What Happened, Miss Simone? (2015 / EUA)
Direção: Liz Garbus
Roteiro: Liz Garbus
Duração: 101 min.
Amanda Aouad
Crítica afiliada à Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema), é doutora em Comunicação e Cultura Contemporâneas (Poscom / UFBA) e especialista em Cinema pela UCSal. Roteirista profissional desde 2005, é co-criadora do projeto A Guardiã, além da equipe do Núcleo Anima Bahia sendo roteirista de séries como "Turma da Harmonia", "Bill, o Touro" e "Tadinha". É ainda professora dos cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda da Unifacs e da Uniceusa. Atualmente, faz parte da diretoria da Abraccine como secretária geral.
What Happened, Miss Simone?
2015-07-04T08:30:00-03:00
Amanda Aouad
critica|documentario|Liz Garbus|musical|oscar 2016|
Assinar:
Postar comentários (Atom)
cadastre-se
Inscreva seu email aqui e acompanhe
os filmes do cinema com a gente:
os filmes do cinema com a gente:
No Cinema podcast
anteriores deste site
mais populares do site
-
King Richard: Criando Campeãs (2021), dirigido por Reinaldo Marcus Green , é mais do que apenas uma cinebiografia : é um retrato emocionalm...
-
Cinema Sherlock Homes O filme de destaque atualmente é esta releitura do clássico do mistério pelas mãos de Guy Ritchie. O ex de Madonna p...
-
Clint Eastwood me conquistou aos poucos. Ele sabe como construir um filme que emociona e, agora, parece ter escolhido Matt Damon como seu ...
-
Eletrizante é a melhor palavra para definir esse filme de Tony Scott . Que o diretor sabe fazer filmes de ação não é novidade, mas uma tra...
-
Olhando para A Múmia (1999), mais de duas décadas após seu lançamento, é fácil perceber como o filme se tornou um marco do final dos anos ...
-
O Soterópolis programa cultural da TVE Bahia, fez uma matéria muito interessante sobre blogs baianos. Esta que vos fala deu uma pequena con...
-
O CinePipocaCult adverte: se você sofre de claustrofobia, síndrome do pânico ou problemas cardíacos é melhor evitar esse filme. Brincadeiras...
-
Com previsão de lançamento para maio desse ano, Estranhos , primeiro longa do diretor Paulo Alcântara terá pré-estreia (apenas convidados) ...
-
Fui ao cinema sem grandes pretensões. Não esperava um novo Matrix, nem mesmo um grande filme de ação. Difícil definir Gamer, que recebeu du...