Love
Impactando e gerando matérias polêmicas desde o primeiro cartaz que enviou para o Festival de Cannes, Love vem causando desconforto e curiosidade por onde passa. Foi proibido em boa parte das redes de cinema e tem encontrado dificuldades para ser exibido em horários que não sejam as últimas sessões do dia. Tudo pela quantidade de cenas quentes que apresenta. Mas, engana-se quem espera um filme pornô.
Polêmico, Gaspar Noé sempre foi. Mas, parece que com Love, ao mesmo tempo em que ele queria chocar, queria também impor à tela a ideia de que tudo é natural, não tendo nada de chocante. Pelo menos é o que ele coloca na boca do seu protagonista. E é curioso também que, ao mesmo tempo em que ele tenta naturalizar, ele acaba condenando pelas brigas, jogos e culpas das personagens que já carregam em seus nomes parte dos complexos. Murphy e sua lei do dar errado. Electra e seu amor proibido.
O filme é construído em uma narrativa não-linear, e talvez aí esteja o mais interessante da obra. Em um tempo não definido, conhecemos Murphy casado com Omi e pai de Gaspar. Pois é, o nome do diretor está no filho do protagonista e no ex-namorado de sua amada Electra que se chama Nóe. Ele está visivelmente infeliz com sua rotina, sua esposa e seu filho, e ainda recebe a ligação da mãe de Electra dizendo que não a está encontrando e teme que a filha tenha se suicidado.
Murphy entra, então, em um processo angustiante de rememorar tudo o que viveram, entre encontros, brigas, experimentações, amor, drogas e traição. A montagem do filme vai nos conduzindo em muitos momentos em uma interessante quase fusão entre passado e presente. Com dica principal, o atual bigode de Murphy que o deixa mesmo com cara de mais velho. Interessante perceber também que Gaspar Noé o coloca quase sempre do lado esquerdo do vídeo chegando em um momento a fazer ele trocar de lado, porque a câmera também irá virar, voltando a pegá-lo na esquerda.
O amor de Murphy e Electra nos passa uma verdade e uma intensidade que chega a soar estranho que Omi pudesse de fato entrar ali de alguma maneira. A cena da ménage à trois, por exemplo, começa com os três de cabeça para baixo, como se tudo estivesse às avessas e nunca chega a virar totalmente. Há também um abuso da cor vermelha, não apenas nessa cena, mas na maioria dos momentos de angústia de Murphy. O pecado ganha outros ares aqui, é a traição que os enlouquece.
"Sangue, esperma e lágrimas", segundo Murphy em uma espécie de alter-ego de Gaspar Nóe, é o princípio da vida e todos os filmes deveriam ter isso. Engraçado que logo depois, Electra pergunta qual o filme preferido do rapaz e ele responde 2001, que não tem nenhum dos três elementos. Mas, de qualquer maneira, enquanto aspirante a diretor de cinema, ele defende o fato de tudo poder estar na tela, traduzindo a essência da vida.
E ele está lá, não por acaso causando tanta polêmica. Já na primeira cena vemos em detalhes uma cena de dupla masturbação. Os órgãos e os gestos são detalhados em diversas cenas. Apenas a penetração não é tão explícita, deixando a dúvida se realmente aconteceu ou foi um truque de montagem. De qualquer maneira, não importa tanto, afinal, como já foi dito não se trata de um filme pornô. A intenção não é excitar a plateia, mas contar uma história e, nesse ponto, há muitas qualidades na obra.
O seu maior problema está na duração. Em determinado momento, o que parecia curioso, envolvente e instigante demonstra sinais de cansaço. O tema e as cenas ficam repetitivos, como se rodando em círculos sem necessidade. Tudo poderia ser mais direto e intenso, nos dando um resultado mais agradável.
De qualquer maneira, Love é um bom filme. Não pelas cenas quentes ou pela polêmica, mas pelo tema que discute e a forma como a câmera e a montagem nos dão sua versão da história.
Love (Love, 2015 / França)
Direção: Gaspar Noé
Roteiro: Gaspar Noé
Com: Aomi Muyock, Karl Glusman, Klara Kristin
Duração: 135 min.
Polêmico, Gaspar Noé sempre foi. Mas, parece que com Love, ao mesmo tempo em que ele queria chocar, queria também impor à tela a ideia de que tudo é natural, não tendo nada de chocante. Pelo menos é o que ele coloca na boca do seu protagonista. E é curioso também que, ao mesmo tempo em que ele tenta naturalizar, ele acaba condenando pelas brigas, jogos e culpas das personagens que já carregam em seus nomes parte dos complexos. Murphy e sua lei do dar errado. Electra e seu amor proibido.
O filme é construído em uma narrativa não-linear, e talvez aí esteja o mais interessante da obra. Em um tempo não definido, conhecemos Murphy casado com Omi e pai de Gaspar. Pois é, o nome do diretor está no filho do protagonista e no ex-namorado de sua amada Electra que se chama Nóe. Ele está visivelmente infeliz com sua rotina, sua esposa e seu filho, e ainda recebe a ligação da mãe de Electra dizendo que não a está encontrando e teme que a filha tenha se suicidado.
Murphy entra, então, em um processo angustiante de rememorar tudo o que viveram, entre encontros, brigas, experimentações, amor, drogas e traição. A montagem do filme vai nos conduzindo em muitos momentos em uma interessante quase fusão entre passado e presente. Com dica principal, o atual bigode de Murphy que o deixa mesmo com cara de mais velho. Interessante perceber também que Gaspar Noé o coloca quase sempre do lado esquerdo do vídeo chegando em um momento a fazer ele trocar de lado, porque a câmera também irá virar, voltando a pegá-lo na esquerda.
O amor de Murphy e Electra nos passa uma verdade e uma intensidade que chega a soar estranho que Omi pudesse de fato entrar ali de alguma maneira. A cena da ménage à trois, por exemplo, começa com os três de cabeça para baixo, como se tudo estivesse às avessas e nunca chega a virar totalmente. Há também um abuso da cor vermelha, não apenas nessa cena, mas na maioria dos momentos de angústia de Murphy. O pecado ganha outros ares aqui, é a traição que os enlouquece.
"Sangue, esperma e lágrimas", segundo Murphy em uma espécie de alter-ego de Gaspar Nóe, é o princípio da vida e todos os filmes deveriam ter isso. Engraçado que logo depois, Electra pergunta qual o filme preferido do rapaz e ele responde 2001, que não tem nenhum dos três elementos. Mas, de qualquer maneira, enquanto aspirante a diretor de cinema, ele defende o fato de tudo poder estar na tela, traduzindo a essência da vida.
E ele está lá, não por acaso causando tanta polêmica. Já na primeira cena vemos em detalhes uma cena de dupla masturbação. Os órgãos e os gestos são detalhados em diversas cenas. Apenas a penetração não é tão explícita, deixando a dúvida se realmente aconteceu ou foi um truque de montagem. De qualquer maneira, não importa tanto, afinal, como já foi dito não se trata de um filme pornô. A intenção não é excitar a plateia, mas contar uma história e, nesse ponto, há muitas qualidades na obra.
O seu maior problema está na duração. Em determinado momento, o que parecia curioso, envolvente e instigante demonstra sinais de cansaço. O tema e as cenas ficam repetitivos, como se rodando em círculos sem necessidade. Tudo poderia ser mais direto e intenso, nos dando um resultado mais agradável.
De qualquer maneira, Love é um bom filme. Não pelas cenas quentes ou pela polêmica, mas pelo tema que discute e a forma como a câmera e a montagem nos dão sua versão da história.
Love (Love, 2015 / França)
Direção: Gaspar Noé
Roteiro: Gaspar Noé
Com: Aomi Muyock, Karl Glusman, Klara Kristin
Duração: 135 min.
Amanda Aouad
Crítica afiliada à Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema), é doutora em Comunicação e Cultura Contemporâneas (Poscom / UFBA) e especialista em Cinema pela UCSal. Roteirista profissional desde 2005, é co-criadora do projeto A Guardiã, além da equipe do Núcleo Anima Bahia sendo roteirista de séries como "Turma da Harmonia", "Bill, o Touro" e "Tadinha". É ainda professora dos cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda da Unifacs e da Uniceusa. Atualmente, faz parte da diretoria da Abraccine como secretária geral.
Love
2015-09-20T07:30:00-03:00
Amanda Aouad
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