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Travessia
Primeiro longa-metragem do diretor João Gabriel, Travessia flerta com uma Salvador distante dos estereótipos, buscando nas trajetórias de pai e filho, traços, caminhos, possibilidades que poderiam ser melhor desenvolvidas, mas não deixam de impressionar em imagens e força.
A morte da matriarca da família faz a relação entre Roberto e Júlio, que já parecia conturbada, ficar impraticável. Da ruptura, surge a apatia do pai e distanciamento ainda maior pela parte do filho. Assim, Júlio planeja uma viagem ao exterior, tendo no tráfico de drogas sintéticas uma forma de arrumar dinheiro, enquanto Roberto acaba se envolvendo em um acidente que o faz buscar uma reconciliação.
Não espere maiores explicações, o roteiro não se propõe a isso, trazendo bônus e ônus para a apreciação. Principalmente no núcleo liderado por Caio Castro, que interpreta Júlio. Boa parte de sua trajetória é imagética. Entre o esporte no mar e as baladas, pouco temos de construção narrativa ali. É como se mergulhássemos juntos naquela loucura intensa de música, paquera, drogas e badalação.
Esteticamente é belo e envolvente, mas, quando finalmente nos é revelado o que está acontecendo ali, soa estranho. Talvez a intenção tenha sido nos deixar ser pegos de surpresa como Júlio e não deixa de surtir efeito, mas incomoda o desequilíbrio durante a projeção, pois não nos permite nos aproximar um pouco mais dele, compreender suas atitudes, o porquê odiar tanto o pai. Ficamos apenas com o superficial e assim, fica difícil nos importar com o personagem ou com o seu destino.
Em contrapartida, apesar de também não compreendermos muito as atitudes e sentimentos de Roberto, estamos mais próximos dele. O próprio apartamento, motivo de discórdia, parece ter outra intenção quando seu melhor amigo pergunta se "Júlio gostou". Há atitudes egoístas, mas também gestos cuidadosos e consciência, principalmente após o acidente. Talvez compare seu filho perdido ao garoto em sua frente e isso lhe dê material para pensar. Mas, também não criamos uma empatia tão forte com ele a ponto de nos importarmos e isso também pesa no impacto da cena final.
Ou seja, ainda que esteticamente bem executada, a narrativa da obra nos parece frágil em excesso, entendemos o tema, mas não o sentimos a ponto de refletir com ele. E é importante ressaltar que a sensação de ter mais material na curva de Roberto que na de Júlio não tem a ver com interpretação, mas com a estrutura do roteiro e da montagem mesmo. Chico Diaz está impressionante como Roberto, é verdade, um grande ator entregue de corpo e alma ao conturbado ser a que dá vida. Mas, Caio Castro também consegue uma boa imersão no universo de Júlio, defendendo com dignidade o seu papel com os elementos que lhe são dados.
E, apesar de todos os apontamentos, não podemos dizer que Travessia falha enquanto filme. São escolhas estéticas que nos conduzem a uma outra maneira de lidar com a obra fílmica. Talvez não a mais comum, mas, enquanto registro imagético, é extremamente belo e esse sempre foi o caminho seguido por João Gabriel em seus curtas. Era de se esperar que fosse mesmo o item mais valorizado aqui.
Filme visto no XI Panorama Internacional Coisa de Cinema.
Travessia (2015 / Brasil)
Direção: João Gabriel
Roteiro: João Gabriel, Paulo Tiago e Maria Carolina
Com: Chico Diaz, Caio Castro, Camila Camargo, Caco Monteiro, Cyria Coentro, Amaurih Oliveira, Thor Vaz e Fernanda Beling
Duração: 90 min.
A morte da matriarca da família faz a relação entre Roberto e Júlio, que já parecia conturbada, ficar impraticável. Da ruptura, surge a apatia do pai e distanciamento ainda maior pela parte do filho. Assim, Júlio planeja uma viagem ao exterior, tendo no tráfico de drogas sintéticas uma forma de arrumar dinheiro, enquanto Roberto acaba se envolvendo em um acidente que o faz buscar uma reconciliação.
Não espere maiores explicações, o roteiro não se propõe a isso, trazendo bônus e ônus para a apreciação. Principalmente no núcleo liderado por Caio Castro, que interpreta Júlio. Boa parte de sua trajetória é imagética. Entre o esporte no mar e as baladas, pouco temos de construção narrativa ali. É como se mergulhássemos juntos naquela loucura intensa de música, paquera, drogas e badalação.
Esteticamente é belo e envolvente, mas, quando finalmente nos é revelado o que está acontecendo ali, soa estranho. Talvez a intenção tenha sido nos deixar ser pegos de surpresa como Júlio e não deixa de surtir efeito, mas incomoda o desequilíbrio durante a projeção, pois não nos permite nos aproximar um pouco mais dele, compreender suas atitudes, o porquê odiar tanto o pai. Ficamos apenas com o superficial e assim, fica difícil nos importar com o personagem ou com o seu destino.
Em contrapartida, apesar de também não compreendermos muito as atitudes e sentimentos de Roberto, estamos mais próximos dele. O próprio apartamento, motivo de discórdia, parece ter outra intenção quando seu melhor amigo pergunta se "Júlio gostou". Há atitudes egoístas, mas também gestos cuidadosos e consciência, principalmente após o acidente. Talvez compare seu filho perdido ao garoto em sua frente e isso lhe dê material para pensar. Mas, também não criamos uma empatia tão forte com ele a ponto de nos importarmos e isso também pesa no impacto da cena final.
Ou seja, ainda que esteticamente bem executada, a narrativa da obra nos parece frágil em excesso, entendemos o tema, mas não o sentimos a ponto de refletir com ele. E é importante ressaltar que a sensação de ter mais material na curva de Roberto que na de Júlio não tem a ver com interpretação, mas com a estrutura do roteiro e da montagem mesmo. Chico Diaz está impressionante como Roberto, é verdade, um grande ator entregue de corpo e alma ao conturbado ser a que dá vida. Mas, Caio Castro também consegue uma boa imersão no universo de Júlio, defendendo com dignidade o seu papel com os elementos que lhe são dados.
E, apesar de todos os apontamentos, não podemos dizer que Travessia falha enquanto filme. São escolhas estéticas que nos conduzem a uma outra maneira de lidar com a obra fílmica. Talvez não a mais comum, mas, enquanto registro imagético, é extremamente belo e esse sempre foi o caminho seguido por João Gabriel em seus curtas. Era de se esperar que fosse mesmo o item mais valorizado aqui.
Filme visto no XI Panorama Internacional Coisa de Cinema.
Travessia (2015 / Brasil)
Direção: João Gabriel
Roteiro: João Gabriel, Paulo Tiago e Maria Carolina
Com: Chico Diaz, Caio Castro, Camila Camargo, Caco Monteiro, Cyria Coentro, Amaurih Oliveira, Thor Vaz e Fernanda Beling
Duração: 90 min.
Amanda Aouad
Crítica afiliada à Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema), é doutora em Comunicação e Cultura Contemporâneas (Poscom / UFBA) e especialista em Cinema pela UCSal. Roteirista profissional desde 2005, é co-criadora do projeto A Guardiã, além da equipe do Núcleo Anima Bahia sendo roteirista de séries como "Turma da Harmonia", "Bill, o Touro" e "Tadinha". É ainda professora dos cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda da Unifacs e da Uniceusa. Atualmente, faz parte da diretoria da Abraccine como secretária geral.
Travessia
2015-11-08T08:30:00-03:00
Amanda Aouad
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