Dr. Fantástico
"Como Aprendi a Parar de Me Preocupar e Amar a Bomba", a ironia já começa no sub-título, que acabou sendo suprimido da versão brasileira depois de um tempo. Não que no título Dr. Fantástico já não esteja sub-entendida essa ironia. Mas, a percepção de que o mundo está repleto de idiotas e que uma bomba destruindo tudo não seria tão mal é a premissa dessa comédia ácida dirigida por Stanley Kubrick.
Dizem que o metódico cineasta resolveu construir uma sátira a partir do livro "Alerta Vermelho", ao perceber a quantidade de absurdos que envolviam aquela trama. E não é mesmo difícil rir para não chorar de toda aquela insanidade exposta em tela. Um general norte-americano resolve dar um comando de ataque nuclear à União Soviética, acreditando que eles estavam atacando o país. E se tranca em seu quartel, sendo a única comunicação capaz com os aviões, deixando todos à beira de um ataque de nervos pela possibilidade do fim do mundo.
São três situações absurdas. A sala de guerra, com o presidente dos Estados Unidos e seus assessores tentando conversar com o embaixador russo. Um dos aviões em missão R. E o quartel do general. Cada nova situação parece nos convencer ainda mais de que ninguém ali parece ter o menor juízo. E, mais ainda, que nada daquilo faz o menor sentido, a começar, claro, pela Guerra Fria.
A frase que estampa todos os locais do quartel é "A paz é a nossa profissão". Ironia maior, impossível. E a forma como o general vai piorando a própria situação, na companhia do quase sensato Capitão Lionel Mandrake é incrível. Já no avião, os homens lidam com a situação de cumprir a ordem de iniciar um ataque que pode acabar com o mundo de uma maneira ainda mais irônica. Todos os diálogos ditos através de rádios, quando estão a poucos centímetros uns dos outros, são extremamente inteligentes.
Mas, o grande momento está mesmo na sala de guerra. Não apenas pela famosa frase de "Vocês não podem brigar aqui, esta é a sala de guerra", mas por toda a situação inusitada desde a discussão do porquê um general ter dado a ordem de um ataque nuclear, quando deveria ser apenas o presidente, passando pela negociação com o embaixador e posteriormente o presidente russo, até as discussões que vão sendo escaladas com o possível fim do mundo.
Stanley Kubrick é extremamente cuidadoso em cada detalhe do filme, calculando objetos, cenários e posições de câmera que vão ajudando nessa ironia, não poupando ninguém do humor ácido, vide uma cena de cowboy na parte final do filme. Mas, é justo dizer que Dr. Fantástico não seria esse clássico todo se ele não contasse com o talento do seu elenco, em especial Peter Sellers que dá um show interpretando três personagens diferentes.
Capitão Mandrake, o presidente Muffley e, claro, o Dr. Fantástico, são visivelmente diferentes, não apenas pela maquiagem e figurino, mas pela personalidade de cada um deles. E cada um traz um toque a mais para a trama em graça, ironia e inteligência. A briga do Dr. Fantástico com sua mão, por exemplo, é impagável. E as expressões de Mandrake a cada escalada na loucura do general Buck é ótima. Isso sem falar nas tentativas de parecer sério do presidente Muffley a cada fala.
Dr. Fantástico é um filme que tenta o tempo todo nos mostrar que aquela Guerra Fria que assombrou o mundo por décadas não tem como ser levada a sério. Principalmente, quando percebemos que comunistas, capitalistas e até nazistas tem mais em comum do que gostariam. Um filme fantástico que não envelhece em sua inteligência apesar de ter um ritmo muito particular da época.
Dr. Fantástico (Dr. Strangelove or: How I Learned to Stop Worrying and Love the Bomb, 1964 / Reino Unido)
Direção: Stanley Kubrick
Roteiro: Stanley Kubrick, Terry Southern, Peter George
Com: Peter Sellers, George C. Scott, Sterling Hayden
Duração: 95 min.
Dizem que o metódico cineasta resolveu construir uma sátira a partir do livro "Alerta Vermelho", ao perceber a quantidade de absurdos que envolviam aquela trama. E não é mesmo difícil rir para não chorar de toda aquela insanidade exposta em tela. Um general norte-americano resolve dar um comando de ataque nuclear à União Soviética, acreditando que eles estavam atacando o país. E se tranca em seu quartel, sendo a única comunicação capaz com os aviões, deixando todos à beira de um ataque de nervos pela possibilidade do fim do mundo.
São três situações absurdas. A sala de guerra, com o presidente dos Estados Unidos e seus assessores tentando conversar com o embaixador russo. Um dos aviões em missão R. E o quartel do general. Cada nova situação parece nos convencer ainda mais de que ninguém ali parece ter o menor juízo. E, mais ainda, que nada daquilo faz o menor sentido, a começar, claro, pela Guerra Fria.
A frase que estampa todos os locais do quartel é "A paz é a nossa profissão". Ironia maior, impossível. E a forma como o general vai piorando a própria situação, na companhia do quase sensato Capitão Lionel Mandrake é incrível. Já no avião, os homens lidam com a situação de cumprir a ordem de iniciar um ataque que pode acabar com o mundo de uma maneira ainda mais irônica. Todos os diálogos ditos através de rádios, quando estão a poucos centímetros uns dos outros, são extremamente inteligentes.
Mas, o grande momento está mesmo na sala de guerra. Não apenas pela famosa frase de "Vocês não podem brigar aqui, esta é a sala de guerra", mas por toda a situação inusitada desde a discussão do porquê um general ter dado a ordem de um ataque nuclear, quando deveria ser apenas o presidente, passando pela negociação com o embaixador e posteriormente o presidente russo, até as discussões que vão sendo escaladas com o possível fim do mundo.
Stanley Kubrick é extremamente cuidadoso em cada detalhe do filme, calculando objetos, cenários e posições de câmera que vão ajudando nessa ironia, não poupando ninguém do humor ácido, vide uma cena de cowboy na parte final do filme. Mas, é justo dizer que Dr. Fantástico não seria esse clássico todo se ele não contasse com o talento do seu elenco, em especial Peter Sellers que dá um show interpretando três personagens diferentes.
Capitão Mandrake, o presidente Muffley e, claro, o Dr. Fantástico, são visivelmente diferentes, não apenas pela maquiagem e figurino, mas pela personalidade de cada um deles. E cada um traz um toque a mais para a trama em graça, ironia e inteligência. A briga do Dr. Fantástico com sua mão, por exemplo, é impagável. E as expressões de Mandrake a cada escalada na loucura do general Buck é ótima. Isso sem falar nas tentativas de parecer sério do presidente Muffley a cada fala.
Dr. Fantástico é um filme que tenta o tempo todo nos mostrar que aquela Guerra Fria que assombrou o mundo por décadas não tem como ser levada a sério. Principalmente, quando percebemos que comunistas, capitalistas e até nazistas tem mais em comum do que gostariam. Um filme fantástico que não envelhece em sua inteligência apesar de ter um ritmo muito particular da época.
Dr. Fantástico (Dr. Strangelove or: How I Learned to Stop Worrying and Love the Bomb, 1964 / Reino Unido)
Direção: Stanley Kubrick
Roteiro: Stanley Kubrick, Terry Southern, Peter George
Com: Peter Sellers, George C. Scott, Sterling Hayden
Duração: 95 min.
Amanda Aouad
Crítica afiliada à Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema), é doutora em Comunicação e Cultura Contemporâneas (Poscom / UFBA) e especialista em Cinema pela UCSal. Roteirista profissional desde 2005, é co-criadora do projeto A Guardiã, além da equipe do Núcleo Anima Bahia sendo roteirista de séries como "Turma da Harmonia", "Bill, o Touro" e "Tadinha". É ainda professora dos cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda da Unifacs e da Uniceusa. Atualmente, faz parte da diretoria da Abraccine como secretária geral.
Dr. Fantástico
2016-01-11T08:30:00-03:00
Amanda Aouad
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