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Meu Amigo Hindu
Meu Amigo Hindu
Meu Amigo Hindu é o décimo filme de Hector Babenco. Diretor de obras consagradas como Pixote e O Beijo da Mulher Aranha, o argentino radicado brasileiro diz fazer aqui uma homenagem ao cinema. Mas, na verdade, parece uma homenagem a si mesmo, ainda que traga belos momentos para a sétima arte e para a dura jornada de recuperação de uma doença.
O amigo Hindu do título acaba sendo o menos importante. Ou pelo menos não ganha a importância que o enunciado dá a ele. Um garotinho que o protagonista conhece durante as sessões de quimioterapia e que o ajuda a se transportar da realidade para um mundo de histórias e fantasia. Essa é a essência do cinema, ajudar a superar os medos, as dores, ajudar a sonhar e extravasar emoções. Pena que Babenco dedica pouco tempo a isso em tela.
E uma pena ainda não ter dado ao garotinho a importância devida. Importância de ter despertado em Diego essa vontade de voltar a criar. De ter sido uma inspiração para ele também durante sua dor. O filme parece valorizar muito mais a importância do diretor para o garoto, que o ajuda a superar a difícil jornada, inclusive com um bilhete literal que não deixa dúvidas quanto a isso.
Incomoda também o ego e postura arrogante de Diego, principalmente em relação às mulheres. Retratadas como objetos que estão ali apenas para servi-lo, vide uma cena em que a personagem de Maitê Proença diz fazer qualquer coisa para atuar em um filme dele. Ou uma cena em que ele é grosseiro com a mãe que só se justifica por uma cena mais adiante em que a mãe conversa com ele, exaltando sua força contra a doença.
É difícil se sensibilizar e se identificar com Diego, mesmo com a dedicada atuação de Willem Dafoe. Mas, ainda assim, ele nos traz bons momentos em sua luta no hospital, em seus delírios como quando acorda cantando Cheek to Cheek ou quando está criando novos mundos para o amigo Hindu. O câncer é uma doença traiçoeira que mexe com o emocional do paciente e dos que estão em volta. O filme consegue retratar isso de uma maneira corajosa e bela em diversos momentos.
Mas, o mais interessante do filme talvez seja o personagem de Selton Mello, uma espécie de mensageiro da morte, ou a própria morte, já que traz em uma cena uma referência clara a O Sétimo Selo de Bergman, onde um cavaleiro joga xadrez com a morte. São nessas conversas que conseguimos compreender um pouco Diego e sua paixão pelo cinema, pela vida e pela possibilidade de fazer mais um filme. E Selton está muito bem em cena, ainda que existam alguns excessos como sua "esposa".
Longe do brilho de outrora, Meu Amigo Hindu é um filme controverso, com altos e baixos que nos deixa a sensação de que poderia ser muito mais. Ainda que fiquemos com a imagem final em uma espécie de autoreferência, homenagem e síntese de uma paixão. Diferente de reflexões sobre memórias como um Amarcord ou um A Era do Rádio. Ou mesmo uma exposição de dúvidas e delícias do fazer cinematográfico como Oito e Meio, ou A Noite Americana. Meu Amigo Hindu acaba esbarrando na intenção do que poderia ter sido. Uma pena.
Meu Amigo Hindu (Meu Amigo Hindu, 2016 / Brasil)
Direção: Hector Babenco
Roteiro: Hector Babenco
Com: Willem Dafoe, Maria Fernanda Cândido, Reynaldo Gianecchini, Bárbara Paz, Selton Mello
Duração: 124 min.
O amigo Hindu do título acaba sendo o menos importante. Ou pelo menos não ganha a importância que o enunciado dá a ele. Um garotinho que o protagonista conhece durante as sessões de quimioterapia e que o ajuda a se transportar da realidade para um mundo de histórias e fantasia. Essa é a essência do cinema, ajudar a superar os medos, as dores, ajudar a sonhar e extravasar emoções. Pena que Babenco dedica pouco tempo a isso em tela.
E uma pena ainda não ter dado ao garotinho a importância devida. Importância de ter despertado em Diego essa vontade de voltar a criar. De ter sido uma inspiração para ele também durante sua dor. O filme parece valorizar muito mais a importância do diretor para o garoto, que o ajuda a superar a difícil jornada, inclusive com um bilhete literal que não deixa dúvidas quanto a isso.
Incomoda também o ego e postura arrogante de Diego, principalmente em relação às mulheres. Retratadas como objetos que estão ali apenas para servi-lo, vide uma cena em que a personagem de Maitê Proença diz fazer qualquer coisa para atuar em um filme dele. Ou uma cena em que ele é grosseiro com a mãe que só se justifica por uma cena mais adiante em que a mãe conversa com ele, exaltando sua força contra a doença.
É difícil se sensibilizar e se identificar com Diego, mesmo com a dedicada atuação de Willem Dafoe. Mas, ainda assim, ele nos traz bons momentos em sua luta no hospital, em seus delírios como quando acorda cantando Cheek to Cheek ou quando está criando novos mundos para o amigo Hindu. O câncer é uma doença traiçoeira que mexe com o emocional do paciente e dos que estão em volta. O filme consegue retratar isso de uma maneira corajosa e bela em diversos momentos.
Mas, o mais interessante do filme talvez seja o personagem de Selton Mello, uma espécie de mensageiro da morte, ou a própria morte, já que traz em uma cena uma referência clara a O Sétimo Selo de Bergman, onde um cavaleiro joga xadrez com a morte. São nessas conversas que conseguimos compreender um pouco Diego e sua paixão pelo cinema, pela vida e pela possibilidade de fazer mais um filme. E Selton está muito bem em cena, ainda que existam alguns excessos como sua "esposa".
Longe do brilho de outrora, Meu Amigo Hindu é um filme controverso, com altos e baixos que nos deixa a sensação de que poderia ser muito mais. Ainda que fiquemos com a imagem final em uma espécie de autoreferência, homenagem e síntese de uma paixão. Diferente de reflexões sobre memórias como um Amarcord ou um A Era do Rádio. Ou mesmo uma exposição de dúvidas e delícias do fazer cinematográfico como Oito e Meio, ou A Noite Americana. Meu Amigo Hindu acaba esbarrando na intenção do que poderia ter sido. Uma pena.
Meu Amigo Hindu (Meu Amigo Hindu, 2016 / Brasil)
Direção: Hector Babenco
Roteiro: Hector Babenco
Com: Willem Dafoe, Maria Fernanda Cândido, Reynaldo Gianecchini, Bárbara Paz, Selton Mello
Duração: 124 min.
Amanda Aouad
Crítica afiliada à Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema), é doutora em Comunicação e Cultura Contemporâneas (Poscom / UFBA) e especialista em Cinema pela UCSal. Roteirista profissional desde 2005, é co-criadora do projeto A Guardiã, além da equipe do Núcleo Anima Bahia sendo roteirista de séries como "Turma da Harmonia", "Bill, o Touro" e "Tadinha". É ainda professora dos cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda da Unifacs e da Uniceusa. Atualmente, faz parte da diretoria da Abraccine como secretária geral.
Meu Amigo Hindu
2016-03-16T08:30:00-03:00
Amanda Aouad
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