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Abraham Attah
Cary Joji Fukunaga
critica
drama
Emmanuel Affadzi
Emmanuel Nii Adom Quaye
Idris Elba
Ricky Adelayitor
Beasts of No Nation
Beasts of No Nation
Em determinado momento do filme, o jovem Agu fala em pensamento "mãe, fala comigo porque Deus não me ouve mais". Ali, é como se aquele pequeno garoto ganhasse a consciência de que já tinha passado por tanta coisa e feito tantas atrocidades em nome da guerra que o ser superior não era mesmo mais capaz de ouvi-lo ou talvez nunca tivesse lhe dado ouvidos.
Beasts of No Nation é um filme duro e realista sobre a guerra civil. Uma guerra ainda constante em muitos países e que o continente africano enfrentou em diversos momentos de sua história. O grande plus que esta obra traz é ver tudo isso pela visão de uma criança. E vê-lo perder sua inocência aos poucos é o que mais nos dói ao acompanhar a trama.
Agu é um menino simples, com um irmão mais velho, dois mais novos, um pai e uma mãe. Mas a guerra chegou à sua vila, sua mãe conseguiu fugir com os dois mais novos para a capital. Seu pai e seu irmão foram assassinados e ele acabou indo parar em uma facção rebelde, onde o comandante local gostou dele e resolveu treiná-lo para ser um soldado.
O roteiro sabe bem dilatar esse tempo ao passo em que também consegue resumir bem cada etapa em cenas fortes. A da espada e do quarto são as duas mais significativas e é interessante que o garoto Strika esteja ao lado de Agu em ambas, como se um fosse o reflexo do outro. Ambos sabem pelo que passaram, possuem caminhos parecidos. A cumplicidade que vai sendo criada entre os dois a partir de uma aparente rivalidade inicial é bela.
E vale aqui ressaltar a interpretação tanto de Abraham Attah como Agu, quanto de Emmanuel Nii Adom Quaye como Strika. Ainda que o protagonista seja mais exigido e consiga nos apresentar uma maturidade impressionante nos momentos mais difíceis. O olhar dele na parte final nos fala muito e emociona por já termos atravessado aquela jornada com ele.
A figura do comandante interpretado de maneira também excepcional por Idris Elba é o típico anti-herói construído e desconstruído em tela. É interessante como o filme nos faz criar dubiedade com sua imagem e aos poucos revela alguns detalhes que chocam, ao mesmo tempo em que tenta manter a empatia pela figura que representa.
A fotografia também assinada por Cary Joji Fukunaga, que já assina direção e roteiro, é bastante feliz ao explorar o espaço, mostrando a adversidade vivida pelos personagens em estado de guerra, pela floresta, a maneira como se escondem, como precisam enfrentar o medo e a dor. A própria natureza como adversária nas cores fortes do sol e da mata. Tudo funciona bem.
Um filme forte que busca verdade em suas imagens e seus personagens, falando de um tema que poderia facilmente ser generalista, mas que sabe tratar do individual da situação e de seus atores, nos colocando próximo a eles e tendo uma ideia ainda que pequena de uma realidade tão cruel e ao mesmo tendo banalizada.
Beasts of No Nation (Beasts of No Nation, 2015 / EUA)
Direção: Cary Joji Fukunaga
Roteiro: Cary Joji Fukunaga
Com: Idris Elba, Abraham Attah, Emmanuel Affadzi, Ricky Adelayitor, Emmanuel Nii Adom Quaye
Duração: 137 min.
Beasts of No Nation é um filme duro e realista sobre a guerra civil. Uma guerra ainda constante em muitos países e que o continente africano enfrentou em diversos momentos de sua história. O grande plus que esta obra traz é ver tudo isso pela visão de uma criança. E vê-lo perder sua inocência aos poucos é o que mais nos dói ao acompanhar a trama.
Agu é um menino simples, com um irmão mais velho, dois mais novos, um pai e uma mãe. Mas a guerra chegou à sua vila, sua mãe conseguiu fugir com os dois mais novos para a capital. Seu pai e seu irmão foram assassinados e ele acabou indo parar em uma facção rebelde, onde o comandante local gostou dele e resolveu treiná-lo para ser um soldado.
O roteiro sabe bem dilatar esse tempo ao passo em que também consegue resumir bem cada etapa em cenas fortes. A da espada e do quarto são as duas mais significativas e é interessante que o garoto Strika esteja ao lado de Agu em ambas, como se um fosse o reflexo do outro. Ambos sabem pelo que passaram, possuem caminhos parecidos. A cumplicidade que vai sendo criada entre os dois a partir de uma aparente rivalidade inicial é bela.
E vale aqui ressaltar a interpretação tanto de Abraham Attah como Agu, quanto de Emmanuel Nii Adom Quaye como Strika. Ainda que o protagonista seja mais exigido e consiga nos apresentar uma maturidade impressionante nos momentos mais difíceis. O olhar dele na parte final nos fala muito e emociona por já termos atravessado aquela jornada com ele.
A figura do comandante interpretado de maneira também excepcional por Idris Elba é o típico anti-herói construído e desconstruído em tela. É interessante como o filme nos faz criar dubiedade com sua imagem e aos poucos revela alguns detalhes que chocam, ao mesmo tempo em que tenta manter a empatia pela figura que representa.
A fotografia também assinada por Cary Joji Fukunaga, que já assina direção e roteiro, é bastante feliz ao explorar o espaço, mostrando a adversidade vivida pelos personagens em estado de guerra, pela floresta, a maneira como se escondem, como precisam enfrentar o medo e a dor. A própria natureza como adversária nas cores fortes do sol e da mata. Tudo funciona bem.
Um filme forte que busca verdade em suas imagens e seus personagens, falando de um tema que poderia facilmente ser generalista, mas que sabe tratar do individual da situação e de seus atores, nos colocando próximo a eles e tendo uma ideia ainda que pequena de uma realidade tão cruel e ao mesmo tendo banalizada.
Beasts of No Nation (Beasts of No Nation, 2015 / EUA)
Direção: Cary Joji Fukunaga
Roteiro: Cary Joji Fukunaga
Com: Idris Elba, Abraham Attah, Emmanuel Affadzi, Ricky Adelayitor, Emmanuel Nii Adom Quaye
Duração: 137 min.
Amanda Aouad
Crítica afiliada à Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema), é doutora em Comunicação e Cultura Contemporâneas (Poscom / UFBA) e especialista em Cinema pela UCSal. Roteirista profissional desde 2005, é co-criadora do projeto A Guardiã, além da equipe do Núcleo Anima Bahia sendo roteirista de séries como "Turma da Harmonia", "Bill, o Touro" e "Tadinha". É ainda professora dos cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda da Unifacs e da Uniceusa. Atualmente, faz parte da diretoria da Abraccine como secretária geral.
Beasts of No Nation
2016-04-29T08:30:00-03:00
Amanda Aouad
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