5º Olhar de Cinema de Curitiba – Balanço Final
Um festival ainda recente, mas já consistente. Assim é o Olhar de Cinema, em Curitiba. Um festival internacional, com muitos títulos inéditos e diversas experiências. Tanto que, além da Mostra Competitiva, há os Novos Olhares, para filmes de realizadores novos, assim como o Outros Olhares com filmes que experimentam a linguagem.
Isso sem falar nos clássicos. Poder ver obras como São Paulo S/A e Como Era Verde o Meu Vale na tela grande foi algo para se guardar. O filme brasileiro ainda foi exibido em 35 mm, cópia rara hoje em dia, assim como outro clássico brasileiro Compasso de Espera. Já a cópia do filme de John Ford foi em digital.
Da experiência de Novos Olhares, o filme que mais chamou minha atenção foi “Talvez deserto, talvez universo” de Karen Akerman e Miguel Seabra Lopes que levou o Prêmio de Olhares Brasileiros. Um documentário dentro de um hospital psiquiátrico forense que nos trouxe imagens fortes e quebras de estereótipos.
Em relação à Mostra Competitiva, foi uma pena não poder conferir todos os dez concorrentes. O que levou o prêmio do júri Abraccine (da crítica) por exemplo, não pude conferir. Mas, entre os seis assistidos, há uma variedade de estilos e experiências.
O grande vencedor da edição, o filme chileno O Vento Sabe que Volto à Casa é emocionalmente forte. E traz uma experimentação na linguagem ao construir um documentário a partir de uma lenda, mas também ficcionalizar a busca por vestígios dela. Curiosamente, o prêmio especial do júri também traz outro filme, documentário com pitadas de ficção,Irmãos da Noite. Já o vencedor do júri popular traz aparentemente uma ficção tradicional, mas que é baseada na realidade, tendo inclusive como atores os próprios personagens daquela história.
De toda a premiação, talvez meu único incômodo tenha sido o prêmio chamado de Prêmio de Contribuição Artística. Nada contra o filme de Daniel de Bem. Acho digno, por exemplo, a Menção Especial do Júri do Prêmio Olhares Brasil a ele. Mas, A contribuição artística de Eles Vieram e Roubaram sua Alma é questionável, principalmente quando temos na competitiva filmes como Maestá que experimenta a linguagem de maneira muito mais criativa.
De qualquer maneira, o Festival deixa um saldo positivo, com uma grande variedade de filmes e experiências, que contou ainda com debates como A Mulher no Cinema, discutindo a participação feminina em papéis como direção, roteiro ou mesmo crítica, que ainda é predominantemente masculina. O debate Cultura na Era do Golpe que teve a presença de Juca Ferreira. E o seminário Crítica e Curadoria que discutiu o papel da crítica nos tempos atuais.
Não esquecendo o seminário Person, já que a edição homenageou o cineasta Luís Sérgio Person que completou esse ano 40 anos de falecido e completaria 80 anos de nascido se ainda estivesse vivo. Todos os filmes que dirigiu foram exibidos no festival. Regina Jehá e suas filhas Domingas e Marina Person estiveram no festival conversando após todas as sessões, além de um seminário dedicado ao tema.
Sem dúvidas, uma semana intensa para quem ama o cinema.
Confira todos os vencedores do Festival:
Prêmio Olhar de Melhor Filme (longa-metragem)
O Vento Sabe que Volto à Casa (El viento sabe que vuelvo a casa), de José Luis Torres Leiva
Prêmio Especial do Júri
Irmãos da Noite (Brüder der nacht), de Patric Chiha
Prêmio de Contribuição Artística
Eles Vieram e Roubaram sua Alma (idem), de Daniel de Bem
Prêmio Olhar de Melhor Filme (curta-metragem)
Maria do Mar (idem), de João Rosas
Prêmio do Público (longa-metragem)
A Cidade do Futuro (idem), de Cláudio Marques e Marília Hughes
Prêmio do Público (curta-metragem)
A Moça que Dançou com o Diabo (idem), de João Paulo Miranda Maria
Prêmio Olhares Brasil Melhor Longa-Metragem Brasileiro
Talvez deserto talvez universo (idem), de Karen Akerman e Miguel Seabra Lopes
Menção Especial do Júri – Prêmio Olhares Brasil
Eles Vieram e Roubaram sua Alma (idem), de Daniel de Bem
Prêmios Olhares Brasil Melhor Curta-Metragem Brasileiro
A casa cinza e as montanhas verdes (idem), de Deborah Viegas
Prêmio Novo Olhar – Melhor Filme da mostra Novos Olhares
Nó na cabeça (Dans ma tête un rond point), de Hassen Ferhani
Prêmio da Crítica (ABRACCINE)
Um outro ano (You yi nian), de Shengze Zhu
Prêmio da Hors Pistes
Ta'ang (idem), de Wang Bing
Amanda Aouad
Crítica afiliada à Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema), é doutora em Comunicação e Cultura Contemporâneas (Poscom / UFBA) e especialista em Cinema pela UCSal. Roteirista profissional desde 2005, é co-criadora do projeto A Guardiã, além da equipe do Núcleo Anima Bahia sendo roteirista de séries como "Turma da Harmonia", "Bill, o Touro" e "Tadinha". É ainda professora dos cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda da Unifacs e da Uniceusa. Atualmente, faz parte da diretoria da Abraccine como secretária geral.
5º Olhar de Cinema de Curitiba – Balanço Final
2016-06-17T12:45:00-03:00
Amanda Aouad
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