Além da competitiva e dos clássicos, o Festival de Curitiba traz mostras paralelas de outros olhares, com filmes que experimentam a linguagem ou trazem algo de diferente para a proposta cinematográfica. O cineasta argentino Matías Piñero foi um dos homenageados tendo toda a sua filmografia exposta. Pude conferir dois deles. Para completar, trago ainda o documentário português Talvez Deserto, Talvez Universo, também visto no festival.
A Princesa da França (Argentina / Matías Piñero)
A Princesa da França faz parte da recente safra da filmografia de Matías Piñero, que traz releituras das peças de William Shakespeare. Aqui, um grupo de jovens remonta a obra em uma versão radiofônica e tem no diretor Victor, uma espécie de alter-ego do rei francês.
Após retornar do México, Victor irá retomar o projeto da peça com as mulheres que fizeram parte de sua vida. Sua ex-namorada, sua amante, a amiga dela e a jovem Carla que acaba de conhecer.
O que é curioso no filme é a mistura de linguagens. Temos as conversas de preparação, as gravações, os ensaios e também possibilidades. Uma cena, por exemplo, é repetida por três vezes com personagens e reações diferentes. O final também traz duas possibilidades.
Porém, até por isso, o filme também acaba sendo confuso. Há cenas desconectadas como o início de um treino de futebol. Mas, há também uma narração de prólogo e epílogo que tenta amarrar o sentido do todo. Enfim, uma experiência instigante.
O Homem Roubado (Argentina / Matías Piñero)
Aqui temos o primeiro filme do diretor, sua técnica e seu estilo parecem estar ainda amadurecendo. É um filme confuso, mas de possibilidades. Jovens envolvidos com arte e pequenos furtos de museus, com espírito aventureiro e libertário.
Soa estranho, mas também possui um ritmo envolvente que vai nos ajudando a encadear aquelas emoções. Ainda que falte, de fato, um sentido para tudo. Mas, também, quem disse que a vida precisa ter sentido?
Como primeiro exercício estético acaba sendo curioso, ainda que não dialogue com o estilo que o diretor vai adquirir a partir de então.
Talvez Deserto, Talvez Universo (Portugal / Karen Akerman, Miguel Seabra Lopes)
Por fim, trago esse inquietante documentário português dirigido por Karen Akerman e Miguel Seabra Lopes sobre uma unidade de Internamento de Psiquiatria Forense. Só pela escolha do local, o filme já nos traz sentimentos contraditórios, sempre olhamos os pacientes psiquiátricos com certa dó, mas ali estão pessoas que cometeram crimes em uma espécie de purgatório terrestre.
O filme vai acompanhando a rotina dos pacientes / prisioneiros, intercalando momentos de observação com entrevistas direto para a câmera. Vamos conhecendo alguns deles e seus pensamentos, por vezes confusos, outro bem lógicos e conscientes. E assim desmistificando a imagem da sociedade sobre suas figuras e o que representam. Um filme instigante em diversos aspectos.