
Divulgando seu novo filme, Jogo do Dinheiro, no Festival de Cannes, Jodie Foster falou sobre o excesso de estupros em filmes. “É ridículo. Isso acontece em todo filme que você vê. As motivações das personagens femininas, no final das contas, sempre são estupro", afirmou a atriz e diretora. Em tempos em que se discute a cultura do estupro é mesmo algo a se pensar. Mas, filmes como Acusados acabam sendo também uma forma de denúncia e reflexão.

O fato de Sarah ser uma mulher mal vista pela sociedade torna o filme e a discussão ainda mais importante. Não é porque ela pode se insinuar e até mesmo querer sexo com mais de um homem que ela mereça ser violentada. A maneira como o filme discute isso é extremamente delicada desde o primeiro momento, com ela correndo pela rua ou quando vai fazer o exame de corpo de delito.

O roteiro é bem executado, nos dando as informações aos poucos. A cena do crime, por exemplo, só vem na parte final, em um momento-chave, que vai reconstruindo em nossa frente o que imaginamos até então. Não há meias palavras, mas sim, a constatação de um crime, independente do que ela possa ter feito antes disso.
Jodie Foster está muito bem em cena, não por acaso este papel lhe rendeu um Oscar. Ela consegue passar a mulher sedutora, rebelde ou mesmo a menina indefesa, tudo ao mesmo tempo. Sua postura feliz apesar de tudo diante da vida é comovente, como quando ela vai ao escritório ao lado da amiga Sally. Da mesma forma que demonstra todo o sofrimento pelo trauma em momentos como quando fala com a mãe pelo telefone, ou no depoimento.
Há um tom direto na obra, realista, sem muitas nuanças e isso acaba criando um impacto maior diante do tema. Ainda mais por ser baseado em uma história real.
Acusados (The Accused, 1988 / EUA)
Direção: Jonathan Kaplan
Roteiro: Tom Topor
Com: Kelly McGillis, Jodie Foster, Bernie Coulson
Duração: 111 min.