Brasil DNA África
De onde eu vim? Pra onde vou? Essa são as perguntas mais enraizadas na mente dos seres humanos, mas, e se não se sabe de onde veio, como saber para onde vai? Esta é a questão principal do projeto Brasil DNA África, que gerou uma série com cinco episódios e agora ganha sua versão cinematográfica.
Durante o período de colonização e início dos países da América, milhares de africanos foram transportados para o Novo Mundo como escravos. Aqui perderam sua identidade, seu passado, sua família. Seus descendentes acabaram herdando esse rompimento histórico, não sabendo definir sua ancestralidade. Ser afro-descendente é muito pouco para um continente com tantos países, tribos e costumes.
O projeto investigou, então, cerca de 150 pessoas, submetendo-as a um teste de DNA avançado que busca identificar a origem daquelas pessoas. Entre os resultados, cinco personagens foram selecionados para uma imersão ainda maior no passado. Retornar à África para conhecer seus antepassados e a história ainda existente. São eles, o baiano Zulu Araújo, a carioca Juliana Luna, o maranhense Raimundo Garrone, o mineiro Sérgio Pererê e o pernambucano Levi Lima.
Zulu foi até a República de Camarões conhecer a comunidade Tikar. Já Luna embarcou para Nigéria em busca de sua raiz iorubá em Lagos e Ilê Ifé. Raimundo Garrone foi para Guiné-Bissau. O músico Sérgio Pererê para Mbundu, em Angola. E por fim, Levi Lima viajou a Moçambique para conhecer os makuas.
Todas as jornadas são de conhecimento e autodescobertas. Há o fator de estarem sendo filmados, mas os diversos povos africanos receberam muito bem os descendentes, buscando resgatar a história e pedir desculpas pelos horrores da escravidão. Uma das cenas mais fortes é quando o baiano Zulu pergunta ao rei Tikar porque eles foram mandados para a América. Outro momento emocionante é quando os brasileiros conhecem o chamado "portão de não-retorno" e toda a carga de imaginar seus antepassados passando por aquilo, algemados, indo para uma terra desconhecida naquelas condições.
Há um certo didatismo no filme, principalmente no início com uma narração em voz over de Milton Gonçalves e na explicação dos responsáveis pela pesquisa no laboratório norte-americano. Mas, Carlos Alberto Jr consegue usar isso a seu favor, dosando as explicações com cenas espontâneas e um acompanhamento rico, principalmente quando eles estão na África.
O documentário desmistifica algumas questões, como os motivos para os africanos serem enviados como escravos, sempre político ou econômico. Ou mesmo o fato de ex-escravos também terem sido proprietários de escravos no Brasil. Demonstra ainda que, mesmo os brancos, trazem em seu DNA antepassados africanos e os negros também têm no DNA portugueses ou índios. Afinal, fomos todos colonizados pelos três povos e somos essa grande mistura.
Mas, o recorte do filme é mesmo devolver aos negros sua ancestralidade. Não como mágica, nem como uma grande transformação que vá mudar a vida daquelas pessoas. Apenas colando luz em um passado obscuro, dando a oportunidade saber para onde vão, agora que sabem de onde vieram.
Brasil DNA África (2016 / Brasil)
Direção: Carlos Alberto Jr.
Roteiro: Carlos Alberto Jr.
Duração: 72 min.
Amanda Aouad
Crítica afiliada à Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema), é doutora em Comunicação e Cultura Contemporâneas (Poscom / UFBA) e especialista em Cinema pela UCSal. Roteirista profissional desde 2005, é co-criadora do projeto A Guardiã, além da equipe do Núcleo Anima Bahia sendo roteirista de séries como "Turma da Harmonia", "Bill, o Touro" e "Tadinha". É ainda professora dos cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda da Unifacs e da Uniceusa. Atualmente, faz parte da diretoria da Abraccine como secretária geral.
Brasil DNA África
2016-06-27T08:30:00-03:00
Amanda Aouad
Carlos Alberto Jr.|cinema brasileiro|critica|documentario|filme brasileiro|
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