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Varilux2016
Chocolate
Chocolate
Essa semana começou o Festival Varilux de Cinema Francês em 59 cidades brasileiras. A abertura aqui em Salvador foi dupla, com os filmes Chocolate e Um Amor à Altura. Conferimos o filme sobre o primeiro palhaço negro da história, que traz um drama consistente e com diversos temas em um filme só.
O palhaço Chocolate, interpretado aqui por Omar Sy, marcou a história do circo junto a sua dupla, o palhaço Footit, fazendo muito sucesso no Nouveau Cirque em Paris no final do século XIX. A grande inovação da dupla foi juntar um palhaço Branco com um Augusto, algo que se tornou comum desde então e hoje não se imagina a palhaçaria sem a junção desses dois.
O filme de Roschdy Zem trabalha bem a cinebiografia de Rafael Padilla (o Chocolate) tocando em temas como ascensão social, inovação, artistas de circo, artistas franceses e principalmente a questão racial. O fato de Rafael ser o primeiro artista negro da França traz questões delicadas sobre racismo que o diretor não se esquiva, mas também não procura vitimizar o protagonista, expondo suas ações e promovendo análises profundas.
Não há ninguém totalmente bom, nem totalmente mau no filme. São seres humanos, todos extremamente complexos com seus motivos para agir como agem. Mesmo o casal do primeiro circo em que Chocolate atua traz algumas questões de sobrevivência.
Rafael começou sua carreira no circo imitando um canibal. Seu tom de pele e sua postura vista como exótica pelos brancos franceses faziam com que sua apresentação fosse também algo curioso, fora do comum. Mas, seu talento foi percebido por George Footit que o chamou para criar uma dupla de palhaços. A ideia deu tão certo que logo eles estavam em Paris fazendo sucesso.
De um jovem acomodado, que só queria sobreviver e não se importava com o que precisasse se submeter, Chocolate vai se transformando. Fica deslumbrado com a fama, começa a esbanjar, tem o vício do jogo e é mulherengo. Não é construído como santo, mas a partir de um acontecimento marcante, onde é humilhado na prisão, começa a repensar seu papel no mundo. Em todas as fases, no entanto, há sombra e luz nele.
Ainda assim, a questão do racismo permeia toda a obra. Seja no estereótipo criado no circo, no assombro das pessoas ao vê-lo, seja no número criado com Footit onde ele sempre apanha. O incômodo da sociedade parisiense em ter um negro famoso e rico também é trabalhado muito bem em cena.
Além da boa composição das personagens, o roteiro também é hábil na economia dramática. As fases são bem trabalhadas, nos apresentando às situações e as personagens de maneira natural e envolvente. Há cenas de grande impacto como a do "banho" na cadeia e outras extremamente leves como os palhaços no hospital infantil. Tudo bem dosado.
A direção e a montagem também são eficientes, principalmente na dinâmica das apresentações dando a dimensão exata da situação na época. Há apenas alguns fades mais demorados que soam estranhos. Mas, no geral, o filme funciona muito bem.
Mais do que uma cinebiografia, Chocolate é uma homenagem a um grande artista, expondo-o de maneira honesta em todas as suas nuanças para que possamos melhor compreendê-lo e admirá-lo em sua jornada pioneira na arte não apenas francesa, mas mundial.
Chocolate (Chocolat, 2016 / França)
Direção: Roschdy Zem
Roteiro: Cyril Gely
Com: Omar Sy, James Thierrée, Clotilde Hesme
Duração: 110 min.
Amanda Aouad
Crítica afiliada à Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema), é doutora em Comunicação e Cultura Contemporâneas (Poscom / UFBA) e especialista em Cinema pela UCSal. Roteirista profissional desde 2005, é co-criadora do projeto A Guardiã, além da equipe do Núcleo Anima Bahia sendo roteirista de séries como "Turma da Harmonia", "Bill, o Touro" e "Tadinha". É ainda professora dos cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda da Unifacs e da Uniceusa. Atualmente, faz parte da diretoria da Abraccine como secretária geral.
Chocolate
2016-06-10T08:30:00-03:00
Amanda Aouad
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