
Primeiro e mais importante filme de Luís Sérgio Person, São Paulo S/A traz, na história de Carlos, uma metáfora da grande cidade que está se tornando São Paulo e todas as questões que a envolvem.
Jovem, bonito, mas sem grandes ambições, Carlos parece ser levado pela avalanche que se tornou a grande metrópole. Trabalha em uma grande fábrica, onde se torna gerente, casa e parece ter uma vida bem sucedida. Mas, lhe falta algo mais. Um propósito de vida.

Através da relação com as três, vamos acompanhando a saga do protagonista que vai se deixando levar pela vida sem nunca pensar no que ele gostaria realmente. O filme começa e termina no ápice de sua crise. Quando briga com Luciana e sai de casa, em uma tentativa quase tola de fugir.
O problema é que Carlos quer fugir não de São Paulo que o sufoca, nem de Luciana que o enquadra. Nem mesmo do seu chefe que o explora, ou das mulheres do passado. Ele quer fugir de si mesmo, de suas escolhas, de sua postura diante da vida. E isso é mesmo complicado.

Essa ideia está exposta em cada plano do filme. Desde sua abertura, quando vemos a briga de Carlos e Luciana pela janela do prédio, como testemunhas oculares daquela situação que também não é única. O privado e o particular se misturam em óticas diversas.
É interessante ver também que as três mulheres com que Carlos se relaciona se complementam em suas próprias diversidades. E chama a atenção que a mais verdadeira das três é também a com o destino mais trágico. Para viver ali, é preciso interpretar personagens.
Ousado, político, belo, instigante. São Paulo S/A é um pouco de tudo. Um clássico do nosso cinema que merece sempre novos olhares. Vê-lo em 35mm no Festival teve um sabor ainda mais especial.
Filme visto no 5º Olhar de Cinema de Curitiba
São Paulo S/A (São Paulo Sociedade Anônima, 1965 / Brasil)
Direção: Luís Sérgio Person
Roteiro: Luís Sérgio Person
Com: Walmor Chagas, Eva Wilma, Ana Esmeralda, Darlene Glória
Duração: 94 min.