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Entre Idas e Vindas


Entre Idas e Vindas é um filme sobre perdão. Todas as personagens de alguma forma erram e buscam acertar. Por vezes, buscam errar também. Mas, o que a trama tenta mostrar é que todos precisamos relevar os problemas dos outros para que perdoem os nossos também.

A trama traz quatro amigas na estrada em uma espécie de despedida de solteira de uma delas, mas que não sabe mais se haverá casamento. Suas vidas cruzam com a de um pai e um filho que estão indo para São Paulo e acabam com o carro quebrado na estrada. A bordo de um motorhome eles vão se conhecer melhor e perceber que cada um tem um problema, mas todos podem encontrar soluções.

As personagens possuem perfis bem definidos, ainda que existam algumas questões que soem forçadas ou estranhas. É interessante que as quatro amigas sejam atendentes de telemarketing. Algo extremamente mal visto, estressante e até mesmo frustrante. Imagine viver tendo que escutar reclamação dos outros. Talvez por isso, essa viagem se torne uma espécie de escape necessário, ainda que também venha com diversos problemas.

Amanda, vivida por Ingrid Guimarães, é a chefe. E tem a postura de líder do grupo. É ela quem dirige o carro, faz a rota, decide se dá carona ou não. Sandra, interpretada por Alice Braga, é a noiva em dúvida. Sempre de mau humor ou bêbada, ou as duas coisas. Ela tem traços egoístas também, acreditando que sempre é sempre a maior vítima de tudo. Krisse, Rosanne Mulholland, é a com traço mais frágil e insegura. Mas, também curiosa e com um certo ar intelectual. E Cillie, Caroline Abras, é a mais infantil, brincalhona e sempre com piadas.

Já Afonso, interpretado por Fábio Assunção, é o típico cara boa praça. Cuida do filho, sofre pela ex-mulher e se encanta pela nova que está chegando. Enquanto que seu filho Benedito, interpretado pelo próprio filho do ator, é bem resolvido até demais. Porque um garoto de onze anos abandonado pela mãe desde os seis lidar com tudo isso de uma maneira tão ok, é de assustar.

Agora, impressiona que um filme com quatro personagens femininas tão fortes tenha uma visão tão masculina do universo criado. Não chega a ser um filme machista, mas tem uma visão do homem sobre o universo feminino. As moças passam a maior parte do tempo vestidas com biquíni, por exemplo. E a maior parte das conversas é sobre questões amorosas. Lembrei do velho teste de Bechdel, onde o filme deve ter pelo menos duas mulheres que conversam entre si e a conversa não é sobre homem. Claro que falamos sobre homens, mas não precisamos pautar nossa vida em função deles.

Ainda assim, há uma progressão sensível e envolvente no desenrolar da jornada. É um típico filme de road movie onde o deslocamento ajuda na compreensão interna das personagens que também evoluem com o aprendizado adquirido com a experiência. Temos boas cenas que misturam um humor nonsense, como a cena em uma cidadezinha em que todos estão rezando ou mesmo o casamento da filha do prefeito. E temos também cenas de emoção como uma certa conversa na parte final.

Imagens de estrada sempre são esteticamente interessantes. E José Eduardo Belmonte mistura um recurso da câmera do filme com imagens que simulam uma câmera amadora gravada pelas próprias personagens, sempre mais amareladas e com as linhas de vídeo bem marcadas. Em alguns momentos, esse recurso funciona bem, são poéticas, emotivas ou simplesmente divertidas. Mas, tem um momento na parte final da viagem que fica inverossímil, nos fazendo perguntar quem estaria gravando aquilo naquele momento.

Entre Idas e Vindas é um filme com bons e maus momentos. Mas, que nos traz uma história bem contada. E o melhor mesmo é poder perceber que José Eduardo Belmonte continua buscando suas marcas em um cenário tão difícil para quem escolhe não ir pelo caminho fácil das comédias de sucesso.


Entre Idas e Vindas (Entre Idas e Vindas, 2016 / Brasil)
Direção: José Eduardo Belmonte
Roteiro: José Eduardo Belmonte e Cláudia Jouvin
Com: Ingrid Guimarães, Alice Braga, Caroline Abras, Rosanne Mulholland, Fábio Assunção, João Assunção
Duração: 90 min.

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