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Eu não faço a menor ideia do que eu tô fazendo com a minha vida
Eu não faço a menor ideia do que eu tô fazendo com a minha vida
Eu não faço a menor ideia do que eu tô fazendo com a minha vida. Eu fico me perguntando, alguém sabe? Matheus Souza volta a questionar decisões e sentido da vida em um filme intimista e reflexivo. Mas, não consegue ir além de seu primeiro longa-metragem Apenas o Fim.
A trama tem semelhanças com o anterior, Clara, interpretada por Clarice Falcão, é uma jovem de classe média alta que acaba de entrar na faculdade de Medicina. Mas, essa não parece a profissão que ela queria para sua vida. É apenas uma inércia, já que toda a sua família é composta por médicos. Em vez de ir às aulas, então, ela fica vagando pela cidade, conhece um rapaz e começa a testar qual seria a sua profissão ideal a partir de suas qualidades e desejos.
O filme é construído com pouca movimentação e muitos diálogos. Algumas situações se repetem, construindo a rotina de Clara, como o jantar em família onde ela testa sua capacidade de mentir, contando coisas absurdas que teriam acontecido nas aulas. Já com Guilherme, o rapaz que conhece no boliche, é a única pessoa com quem ela é sincera de verdade. Ele é quem vai tentar ajudá-la a descobrir o que quer da vida, ao mesmo tempo que se divertem pela cidade.
Aos poucos, a rotina de Clara vai se constituindo. Toma café com algum familiar que não vê a tempo, em maioria os tios, passeia pelo dia com Guilherme e a noite janta com os pais. A cada café da manhã ela vai percebendo que, apesar de médicos bem sucedidos, seus tios e seu avô possuem também problemas, principalmente de cunho emocional. Ou seja, ninguém é de fato feliz ou satisfeito com sua própria vida.
Esta parece a tônica dos trabalhos de Matheus Souza. O ser humano é um ser inquieto e insatisfeito. Eu não faço a menor ideia do que eu tô fazendo com a minha vida, o título do filme, não parece ser uma coisa relacionada apenas à protagonista Clara, mas a todos os personagens da trama e também é um convite para que o espectador pense sobre sua própria vida. Afinal, fazemos escolhas corretas durante nossa jornada? E fazer a escolha correta é o melhor para nós?
O filme traz ainda um mini-documentário dentro da trama, quando Clara experimenta a função de cineasta. Temos pessoas comuns dando depoimentos sobre escolhas e momentos marcantes que reforçam essa questão de que o tema do filme não é algo exclusivo daqueles personagens que vemos em cena.
Outro ponto interessante é que o filme acaba trazendo muitas experimentações e quase esquetes, já que, a cada café da manhã, Clarice Falcão contracena com um ator diferente, construindo um elenco com ótimas participações especiais como Daniel Filho, Alexandre Nero ou Leandro Hassum.
Ainda que não tenha diálogos tão profundos quanto Apenas o Fim, Matheus Souza consegue aqui construir um filme que nos instiga, faz pensar e diverte ao mesmo tempo. O cineasta, em seu segundo filme, demonstra que ele sim, sabe o que está fazendo da própria vida. Vamos aguardar que continue assim e evolua a cada obra.
Eu não faço a menor ideia do que eu tô fazendo com a minha vida (2013 / Brasil)
Direção: Matheus Souza
Roteiro: Matheus Souza
Com: Clarice Falcão, Rodrigo Pandolfo, Leandro Hassum, Daniel Filho, Nelson Freitas, Alexandre Nero, Gregório Duvivier, Kiko Mascarenhas, Bianca Byington
Duração: 90 min.
Amanda Aouad
Crítica afiliada à Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema), é doutora em Comunicação e Cultura Contemporâneas (Poscom / UFBA) e especialista em Cinema pela UCSal. Roteirista profissional desde 2005, é co-criadora do projeto A Guardiã, além da equipe do Núcleo Anima Bahia sendo roteirista de séries como "Turma da Harmonia", "Bill, o Touro" e "Tadinha". É ainda professora dos cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda da Unifacs e da Uniceusa. Atualmente, faz parte da diretoria da Abraccine como secretária geral.
Eu não faço a menor ideia do que eu tô fazendo com a minha vida
2016-07-03T08:30:00-03:00
Amanda Aouad
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