Águas Rasas
Desde que Steven Spielberg nos apresentou seu Tubarão em 1975, qualquer filme com o predador marítimo soa mais do mesmo. Águas Rasas segue o padrão, não traz nada de novo, mas pelo menos é bem feito, algo que não acontecia há muito tempo. Um filme que dosa bem a tensão, nos envolvendo no drama.
A história é simples e cheia de incongruências narrativas. É preciso relevar boa parte delas para poder entrar na trama. Nancy é uma estudante de medicina que perdeu a mãe recentemente. Então, ela resolve largar a faculdade e procurar uma lendária praia que ela frequentava no México. Lá, no entanto, ela acaba sendo atacada por um tubarão e ficando presa em um recife de corais, tentando encontrar uma forma de sobreviver.
Há incongruências, como já disse. A primeira delas é o tubarão não arrancar nem mesmo a perna de Nancy na primeira mordida, fazendo apenas um corte leve. Ela ir sozinha para aquela praia que não sabe nem o nome, nem mesmo como vai voltar pro hotel, é outra coisa estranha. Por fim, temos a fixação do tubarão na moça, mesmo tendo uma baleia para saciar sua fome, além de outros detalhes.
Como ela fica a maior parte do tempo sozinha nos corais, o roteirista Anthony Jaswinski encontrou um artifício interessante para ser o "companheiro" dela. Uma gaivota que tem a asa ferida. Nosso "Fernão Capelo Gaivota" tem função importante nas cenas de dúvida dela, tal qual Wilson em Náufrago. E é impressionante como consegue criar expressões para o pássaro, em algo próximo do efeito Kuleshov, claro, que é uma indução de intenção pela montagem. Mas, funciona bem.
O que vale mesmo o filme são os trabalhos de direção, fotografia e montagem. Desde os pequenos detalhes de cena com ela entrando no mar, mergulhando por entre as ondas até chegar ao bom local para surfar e nas ondas que pega em si. Há também uma boa construção de suspense com muitas cenas no fundo do mar, simulando a visão do "monstro". A trilha também é tensa, construindo o ritmo da montagem que vai em um crescente.
É interessante como a tensão vai sendo construída mesmo com o artifício do início com o garoto encontrando a câmera e vendo a imagem do tubarão. Sabemos que tem um tubarão, sabemos que ela será atacada, mas ainda assim ficamos na expectativa do como, do quando e do que vai acontecer. Os ataques do tubarão em si também são bem arquitetados, ainda que tenha o exagero da fixação já citada.
No final, Águas Rasas não é um grande filme, não irá marcar a história do cinema, muito menos superar o tubarão de Spielberg. Mas é um filme competente naquilo que se propõe, nos deixando tensos e envolvidos com a trama. Desnecessária apenas a cena final.
Águas Rasas (The Shallows, 2016 / EUA)
Direção: Jaume Collet-Serra
Roteiro: Anthony Jaswinski
Com: Blake Lively, Óscar Jaenada, Angelo Jose
Duração: 86 min.
Amanda Aouad
Crítica afiliada à Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema), é doutora em Comunicação e Cultura Contemporâneas (Poscom / UFBA) e especialista em Cinema pela UCSal. Roteirista profissional desde 2005, é co-criadora do projeto A Guardiã, além da equipe do Núcleo Anima Bahia sendo roteirista de séries como "Turma da Harmonia", "Bill, o Touro" e "Tadinha". É ainda professora dos cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda da Unifacs e da Uniceusa. Atualmente, faz parte da diretoria da Abraccine como secretária geral.
Águas Rasas
2016-08-10T08:30:00-03:00
Amanda Aouad
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