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De Longe Te Observo
De Longe Te Observo
Grande vencedor do Festival de Veneza, De Longe Te Observo pode ser definido como um filme sobre voyeurismo. Porém, acaba sendo um encontro de dois mundos opostos que vão se aproximando de maneira quase fantástica.
Armando é dono de um laboratório de próteses dentárias. Órfão de mãe, com problemas com o pai e vendo pouco a irmã, é muito solitário apesar de ter muito dinheiro. Sua válvula de escape é levar jovens ao seu apartamento para se despir em sua frente enquanto ele se masturba. Sua rotina muda, no entanto, quando conhece o jovem Elder, garoto problemático e desconfiado que lidera uma gangue de rua.
Uma coisa que chama logo a atenção na direção de Lorenzo Vigas é a profundidade de campo sempre muito baixa. Ou seja, a quantidade de área que está em focada na imagem em tela. Chega a ser irônico que o título em português nos remeta ao longe, quando quase o tempo todo estamos muito perto das personagens. Coladas a elas quase, já que todo o resto está desfocado.
Isso nos dá inclusive pistas da importância de Elder. No início, estamos sempre com o foco em Armando. O primeiro rapaz que ele leva a seu apartamento quase não é visto, sempre desfocado, enquanto que ele permanece em primeiro plano. Quando Elder chega é ele quem está focado, enquanto Armando está desfocado.
Ao isolar suas personagens em cena, Lorenzo Vigas busca nos fazer mergulhar em sua psiquê. São eles que são o foco, o motivo, a trama. A atuação de Alfredo Castro e Luis Silva ajuda muito nesse jogo cênico ao nos passar verdade em cada cena. O problema é que o roteiro não colabora com essa construção.
Como um bom voyeur, o filme exige do público uma boa dose de paciência em seu ritmo desacelerado. Há cenas de contemplação e poesia, como a da beira do mar, há muito do não-dito e utilização também do fora de quadro, como na cena de Armando com a irmã em sua cozinha. Há insinuações e metáforas. Nenhum problema nisso.
O problema é que, na tentativa de não ser didático, Vigas acaba sendo abstrato demais em sua composição, não por acaso a resolução da trama nos parece fantasiosa demais. Em algum momento do curso, algo se quebra, a mudança é muito brusca e nada parece justificar aquelas condutas. A motivação das personagens nunca fica muito clara.
De qualquer maneira, De Longe Te Observo é um filme sensível que nos instiga e envolve. Traz uma técnica que parece construir cada plano de maneira extremamente bem cuidada. Só poderia trabalhar um pouco melhor a motivação de suas personagens para que a resolução ficasse mais crível.
De Longe Te Observo (Desde allá, 2015 / Venezuela / México)
Direção: Lorenzo Vigas
Roteiro: Lorenzo Vigas
Com: Alfredo Castro, Luis Silva, Jericó Montilla
Duração: 93 min.
Amanda Aouad
Crítica afiliada à Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema), é doutora em Comunicação e Cultura Contemporâneas (Poscom / UFBA) e especialista em Cinema pela UCSal. Roteirista profissional desde 2005, é co-criadora do projeto A Guardiã, além da equipe do Núcleo Anima Bahia sendo roteirista de séries como "Turma da Harmonia", "Bill, o Touro" e "Tadinha". É ainda professora dos cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda da Unifacs e da Uniceusa. Atualmente, faz parte da diretoria da Abraccine como secretária geral.
De Longe Te Observo
2016-08-02T08:30:00-03:00
Amanda Aouad
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