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Hardcore: Missão Extrema

Hardcore: Missão Extrema - filme

Um filme todo em câmera subjetiva. Esse é o grande destaque de Hardcore: Missão Extrema, o que não é pouco. As dificuldades técnicas de pensar a direção dessa obra fazem o resultado ser impressionante. Mas, não pode ficar nisso. Falta fôlego à história, para que o filme se torne, de fato, um grande marco na história do cinema.

Câmeras em primeira pessoa não são novidades. Os falsos documentários que começaram a se popularizar com A Bruxa de Blair que o digam. Mas, a grande diferença de Hardcore é que não existe uma câmera interdiegética, ou seja, dentro da narrativa, intermediando os acontecimentos e o que chega ao espectador. A câmera, no caso, é o olhar do protagonista que, em nenhum momento, aparece ou é mostrado de corpo inteiro em tela. E o mais interessante, ele não fala uma só palavra.

Hardcore: Missão Extrema - filmeEstamos falando de Henry. Um homem sem memória que é acordado em um laboratório por uma bela mulher que se diz sua médica e sua esposa. Como estamos dentro da cabeça de Henry, vendo o que ele vê, podemos distinguir apenas partes mecânicas que são implantadas nele como um braço e uma perna. Ao poucos vamos entendendo que não é apenas isso, Henry é um ciborgue que faz parte de uma experiência desejada por um vilão psicótico e telecinético que sequestra sua esposa. Em sua missão, o protagonista encontra Jimmy, um misterioso homem que parece ressuscitar em diversas versões e pode ser a chave de sua salvação.

Ou seja, a história é boba. E a profundidade das personagens é extremamente rasa. O vilão Akan é caricato e nunca sabemos de fato quais são suas motivações, nem mesmo a origem dos seus poderes psíquicos e o porquê de só ele naquele universo ser assim. A missão de Henry também não nos parece muito desenvolvida. Salvar a esposa e sobreviver a Akan, mas tudo sem muita explicação ou escolhas. Não há nem mesmo um planejamento, é na base do "o que ocorrer".

Hardcore: Missão Extrema - filmeA despeito da história, o filme acaba nos envolvendo. A proposta da câmera subjetiva, ou seja, o olhar do personagem é instigante. Principalmente porque é um filme de ação. A capacidade de Ilya Naishuller de construir essa sensação de primeira pessoa é louvável. Há uma cena, por exemplo, em que Henry está abaixado atrás de uns carros e tem que se deslocar assim, se escondendo dos perseguidores. É muito bem feita a proporção de campo de visão, altura, movimentação.

Além disso, o espetáculo é bem construído em nossa frente. As cenas de ação são orquestradas e conseguimos ter noção do todo, mesmo estando com a visão limitada. Há cenas de lutas impressionantes em detalhes e construção de adrenalina. Não é apenas correria, tiroteio, socos e pontapés, apesar de ser isso, se é que me entendem. Há um planejamento, uma orquestração que parecem bem reais e orgânicas.

Mas, é apenas isso, a exploração de uma linguagem que se aproxima muito a um videogame de ação. Tem-se uma missão e vai-se ultrapassando etapas até chegar ao chefão para atingir o objetivo do jogo. Mesmo os videogames estão elaborando mais seus roteiros hoje em dia. Há jogos extremamente complexos e com personagens aprofundados. Fica estranho que um filme seja apenas isso.

Hardcore: Missão Extrema, como experiência de linguagem, é, então, uma obra bem resolvida. Mas poderia ir muito além. Não deixa, no entanto, de ser um filme válido.


Hardcore: Missão Extrema (Hardcore Henry, 2015 / EUA)
Direção: Ilya Naishuller
Roteiro: Ilya Naishuller
Com: Sharlto Copley, Tim Roth, Haley Bennett, Danila Kozlovsky
Duração: 96 min.

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