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O Lar das Crianças Peculiares
O Lar das Crianças Peculiares
Quando leu o livro de Ransom Riggs, Tim Burton teria dito que essa era uma história que ele poderia ter escrito. De fato, O Lar das Crianças Peculiares tem muito do universo do cineasta que já nos presenteou com obras incríveis como Os Fantasmas Se Divertem, Edward Mãos de Tesoura ou A Noiva Cadáver. Mas, nesse filme, acho parece não se encaixar, ainda que seja uma obra divertida.
A trama se passa nos tempos atuais, mas traz em sua narrativa fendas temporais que fazem os principais fatos acontecerem no ano de 1943. Em seu universo ficcional, existem pessoas especiais, chamadas de peculiares, e dentre elas estão os etéreos, que não aceitam viver em fendas e acabam se tornando monstros perigosos. Jack, um garoto que acaba de perder o avô, descobre esse mundo e segredos de sua própria família.
A história do livro e do filme trazem muito do universo dos X-Men, inclusive nessa luta entre peculiares e etéreos, já que os mutantes de Magneto também querem mais do que ficar escondidos em seu próprio mundo. A ideia de uma tutora de crianças que cuida de cada fenda também remete muito aos heróis de Charlie Xavier. E, claro, outras referências e comparações são possíveis como com Harry Potter e o mundo bruxo escondido, além do escolhido que não sabia desse mundo.
Um universo rico que poderia ser melhor explorado, mas que aqui se resume a fugir dos etéreos e convencer Jake a ficar na fenda. Toda a mitologia nos é passada quase como um susto, sem maiores explicações, sem ambientação e ficam muitas dúvidas. Principalmente em relação à questão temporal. Se as Ymbrynes são capazes de fazer o tempo voltar, como fica a relação tempo e espaço? Ou melhor, como ficam os acontecimentos passados em relação aos que estão agora na fenda? Quando Barron passa de 2016 para 1943, o Barron de 1943 continua existindo em outro espaço ou é apagado? Eles voltam no tempo, mas a consciência deles continua avançando. Enfim, questões que ficam confusas e que podem gerar diversos pontos de incongruência na história.
Sem tentar filosofar ou encontrar a lógica temporal, é possível embarcar na aventura proposta. E ela se demonstra extremamente divertida. Não apenas pela luta bem versus mal. Mas por todas as peripécias que crianças peculiares são capazes de nos proporcionar. Cada peculiaridade apresentada é uma situação engraçada e divertida. Seja uma descoberta na mesa de jantar quando se levanta um cabelo ou no meio de uma uma batalha quando se levanta um lençol, por exemplo. As cenas no fundo do mar também são bastante envolventes.
O maior problema acaba sendo mesmo a direção. Não que seja ruim, é correta. Porém, sempre esperamos mais de Tim Burton. Parece que ele está funcionando no piloto automático, sem muita criatividade para se impor em cena e, de fato, se apropriar daquele mundo. Basta comparar algumas soluções visuais desse filme com Os Fantasmas se Divertem, por exemplo. Cada plano ali parece nos fazer embarcar naquele mundo estranho do além-vida. Falta mais ironia e mais ritmo nas cenas.
A própria apresentação do mundo e suas regras parece burocrática. Não desperta o encantamento e magia que o tema parece propor. É tudo muito rápido para nos afeiçoarmos as personagens também. Desde a relação de Jake e seu avô até cada uma das crianças. A relação de Jake e Emma, por exemplo, é bastante forçada. Ainda que ele seja neto de Abe, é estranho que desde o primeiro momento que ele pise no orfanato pareça existir um clima de tensão entre os dois na expectativa de que ele fique e forme com ela um casal.
De qualquer maneira, O Lar das Crianças Peculiares é um filme divertido. Daquelas aventuras mágicas feitas para crianças que merece uma atenção especial, ainda que eu não aposte que fique na nossa memória por muito tempo, nem mesmo entre na lista dos melhores de Tim Burton. Uma pena.
O Lar das Crianças Peculiares (Miss Peregrine's Home for Peculiar Children, 2016 / EUA)
Direção: Tim Burton
Roteiro: Jane Goldman
Com: Eva Green, Asa Butterfield, Samuel L. Jackson, Judi Dench, Ella Purnell
Duração: 127 min.
Amanda Aouad
Crítica afiliada à Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema), é doutora em Comunicação e Cultura Contemporâneas (Poscom / UFBA) e especialista em Cinema pela UCSal. Roteirista profissional desde 2005, é co-criadora do projeto A Guardiã, além da equipe do Núcleo Anima Bahia sendo roteirista de séries como "Turma da Harmonia", "Bill, o Touro" e "Tadinha". É ainda professora dos cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda da Unifacs e da Uniceusa. Atualmente, faz parte da diretoria da Abraccine como secretária geral.
O Lar das Crianças Peculiares
2016-09-29T08:30:00-03:00
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