Refilmagem de clássico sempre gera expectativa e desconfiança. O filme de Antoine Fuqua tem um elemento a mais, já que é remake do remake e ambos viraram clássicos. Mas, ao contrário do que muitos apostavam, o novo Sete Homens e um Destino é um bom filme. Consegue ser uma refilmagem, mas acrescenta questões novas e conta uma outra história, sem perder a essência criada por Akira Kurosawa com Os Sete Samurais.
Quando John Sturges adaptou a história japonesa para o velho Oeste procurou levantar questões do velho oeste, mas também do tempo em que viviam na década de 1960, não por acaso a questão da honra estava misturada à fronteira com o México ou mesmo o questionamento sobre o papel dos índios. Afinal, cinema é o reflexo de sua época. Antoine Fuqua faz o mesmo agora. A diversidade está representada nos sete cowboys que irão defender a comunidade. Tem mexicano, tem índio, tem asiático e tem um afrodescendente que, por sinal, é o líder do bando. Para completar, o morador local que lidera a busca por ajuda é uma mulher, dando voz àquelas que, no filme anterior, estavam escondidas.
A premissa é a mesma, um vilarejo está sofrendo ameaças de um tirano e resolve buscar ajuda através de justiceiros. O primeiro a ser contactado acaba de realizar um grande feito e é ele o responsável por reunir os outros seis que irão lutar e ensinar essa comunidade a lutar também. As diferenças são que agora não é mais uma vila mexicana, mas uma cidadezinha típica do velho oeste americano, com direito a xerife corrupto e tudo. O vilão também não é mexicano, mas estadunidense, reforçando que as minorias tem representatividade entre os heróis, nem vítimas nem algozes.
Destacar todas as diferenças das tramas poderia trazer spoilers desnecessários, mas vale reforçar que a história consegue ser outra, mesmo com a mesma estrutura-base. As personalidades dos personagens também variam um pouco. Há ainda um estado de violência maior aqui, com mortes e ameaças mais efusivas, o que tem um ponto negativo, principalmente no maniqueísmo excessivo do vilão Bogue vivido por Peter Sarsgaard.
O elenco, em geral, está bem e não traz grandes destaques, ainda que a empatia natural de Denzel Washington o torne um líder nato, assim como o drama do personagem de Ethan Hawke seja bem defendido pelo ator e Chris Pratt cumpra bem o seu papel de segundo homem. Haley Bennett também representa bem a nova visão feminina, ativa, em busca de justiça pelo que aconteceu a seu marido e pelas terras de sua comunidade.
A direção de Antoine Fuqua é que não consegue acrescentar tanto à saga. O filme é bem conduzido, correto, tem boas cenas de tiroteio, mas falta um pouco mais de alma para podermos embarcar melhor na trama. A própria apresentação de personagens e situação acaba sendo quase burocrática, sendo que tinha elementos para um drama ainda maior, diante de cenas fortes como a da igreja.
Não há também uma boa construção de tensão pré-batalha. Tudo soa meio fantasioso, não apenas nos fazendeiros treinados, como em algumas cenas chaves dos cowboys que exageram na dose sobre-humana de suas habilidades. Tem momentos que chegamos a nos questionar se estamos vendo um filme de velho oeste ou de super-heróis. De qualquer maneira, o filme consegue cumprir sua função de entretenimento e não estragando a memória afetiva da história contada e recontada.
Sete Homens e um Destino, versão 2016, provavelmente não se tornará um clássico do cinema. Nem mesmo trouxe um fôlego novo ao gênero de faroeste. De qualquer maneira, é um filme bem feito e digno do nome que carrega, capaz de agradar grandes plateias.
Sete Homens e um Destino (The Magnificent Seven, 2016 / EUA)
Direção: Antoine Fuqua
Roteiro: Richard Wenk, Nic Pizzolatto
Com: Denzel Washington, Chris Pratt, Ethan Hawke, Vincent D'Onofrio, Byung-hun Lee, Manuel Garcia-Rulfo, Martin Sensmeier, Haley Bennett, Peter Sarsgaard
Duração: 132 min.