A Garota no Trem
Baseado no romance de Paula Hawkins, A Garota no Trem é um suspense psicológico com altos e baixos que nos traz o ponto de vista de três mulheres ligadas por acontecimentos aparentemente corriqueiros, mas que sofrem uma reviravolta a partir de um mistério.
Rachel é um mulher deprimida, alcoolista e que não se conforma com a perda do marido para outra mulher. Todos os dias, ela passa com o trem pela casa de Megan e Scott, a quem considera o casal perfeito, observando sua rotina. Por vezes, ela também olha para a sua antiga casa, onde agora Anna vive com seu ex-marido Tom e a filha do casal. Mas, em determinado dia, algo está diferente e tudo muda nessa relação.
Um ponto interessante do roteiro é a mudança de ponto de vista entre as três mulheres a cada momento. Isso amplia a compreensão das situações e suas ironias, construindo efeitos interessantes no espectador, que passa a ter a ilusão da onisciência. Porém, mistérios e reviravoltas ainda vão acontecendo à medida que a narrativa avança, criando um jogo de "mostra e esconde" que nos deixa intrigados e atentos. O problema é que quando as revelações chegam e muita coisa simplesmente não faz sentido.
O filme, e provavelmente o livro, querem dar uma espécie de troco ao universo masculino tão explorado nesse tipo de narrativa. Porém, quando as mulheres assumem o comando, parecem reforçar estereótipos machistas que não ajudam em nada à causa a que parecem se propor. As personagens não são complexas quanto o roteiro quer deixar parecer. São rasas e muitas vezes tolas. Há problemas em toda a trama.
A direção de Tate Taylor também não parece ser muito criativa. Ainda que consiga bons efeitos de Rachel no trem e observando as casas, quando picota os planos e nos dá a sensação de estar com ela observando. Ou ainda nos flashes de memória que ela vai resgatando, construindo o quebra-cabeças em nossa frente. Ainda assim, isso também vai ficando vazio à medida que a narrativa avança.
As atuações também não merecem grandes destaques, a exceção de Emily Blunt como Rachel, que tem bons momentos. A direção, no entanto, não a favorece, insistindo em planos muito fechados a todo tempo, com closes em excesso que nos dão a sensação de exagero em sua interpretação em muitos momentos, porque acaba sendo over. Ainda que atuação de bêbado seja sempre algo difícil de não cair no caricato, e a atriz consegue manter-se crível.
De qualquer maneira, o filme consegue prender o espectador curioso por toda a projeção. Há uma construção de efeitos de suspense que nos deixa intrigados. Os elementos são bem dispostos, uma mulher com amnésia alcóolica, uma mulher sumida e diversas possibilidades para os acontecimentos da sexta-feira à noite. As revelações é que vão nos frustrando aos poucos, principalmente pela mudança de personalidade de determinada personagem, que é a chave para o mistério.
A Garota no Trem é um filme com potencial, mas que se perde no meio do caminho por falta de embasamento de sua trama. As personagens poderiam ser melhor desenvolvidas, assim como as reviravoltas. Ainda assim, é um entretenimento que nos prende enquanto acompanhamos o seu desenrolar, mesmo que também facilmente esquecível.
A Garota no Trem (The Girl on the Train, 2016)
Direção: Tate Taylor
Roteiro: Erin Cressida Wilson
Com: Emily Blunt, Haley Bennett, Rebecca Ferguson
Duração: 112 min.
Amanda Aouad
Crítica afiliada à Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema), é doutora em Comunicação e Cultura Contemporâneas (Poscom / UFBA) e especialista em Cinema pela UCSal. Roteirista profissional desde 2005, é co-criadora do projeto A Guardiã, além da equipe do Núcleo Anima Bahia sendo roteirista de séries como "Turma da Harmonia", "Bill, o Touro" e "Tadinha". É ainda professora dos cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda da Unifacs e da Uniceusa. Atualmente, faz parte da diretoria da Abraccine como secretária geral.
A Garota no Trem
2016-10-26T08:30:00-03:00
Amanda Aouad
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