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Demônio de Neon

Demônio de Neon - filme

"Que me perdoem as feias, mas beleza é fundamental", disse o poeta Vinicius de Moraes. Poderia ser dessa frase que partiu a premissa de Nicolas Winding Refn para criar Demônio de Neon. Talvez para criticá-la, ou apenas refletir sobre isso. A questão é que, no final das contas, ele não faz nem uma coisa nem outra, apenas apresenta uma experiência estética exótica.

O filme acompanha a trajetória da jovem Jesse, uma garota dotada de beleza impressionante que chega a Los Angeles para tentar a vida como modelo. Simples, tímida, com jeito de menina do interior, ela aparenta ser frágil e presa fácil para o mundo em que se mete. Mas, aos poucos, ela vai demonstrando ser uma fera aparentemente domada que sabe exatamente o que quer e como se defender. Só que o mundo da moda é uma selva ainda mais voraz do que ela imaginava.

Demônio de Neon - filmeEnquanto história, Demônio de Neon não tem muito a nos apresentar. Daria um curta-metragem. Ainda que tenha tema para gerar uma série longa, a maneira como o diretor e os outros dois roteiristas o abordam não tem fôlego. Existe toda a complexidade do mundo da moda, as disputas, a busca incansável pela beleza eterna, a maneira cruel como as modelos são substituídas por mais jovens. Enfim... Aqui, no entanto, tudo se resume de maneira simplória.

O que nos prende em suas quase duas horas de projeção, no entanto, não é a história, mas a estética da obra. Não por acaso o título é o demônio de neon. Existe uma experimentação de cores e planos que nos deixam muitas vezes hipnotizados, como em um estúdio de fotografia com um fundo branco e uma tinta dourada. Nicolas Winding Refn parece estar o tempo todo experimentando sensações.

Demônio de Neon - filmeA trilha sonora é outro elemento bastante complexo que nos envolve em suas batidas marcadas. Estamos sempre tendo o ritmo ditado por esse clima tenso, gritante, de suspense psicológico ou puro terror gótico que se torna a parte final da obra. Mas, a música está sempre ali acompanhando de uma maneira única.

A mudança de clima do filme é outra coisa que nos instiga. Uma história realista que passa por momentos de metáforas visuais até escalar para um estilo nonsense e até mesmo horror B. Não deixa de ser inquietante as escolhas do terceiro ato, ainda que também vazias diante do tema e do que poderia desenvolver. Parece que o diretor quer brincar de chocar sua plateia.

Ao mesmo tempo, fica a dúvida da verdadeira intenção diante daquela jornada. Há uma crítica ou apenas um retrato de um mundo cão? Ou ainda alguma espécie de incentivo a que isso se perpetue? Afinal, beleza é fundamental como reforça o estilista cobiçado? Ou o que importa é o interior da pessoa como tenta gritar a única voz destoante daquele mundo absurdo?

Ainda que não seja tão bom quanto Drive, um dos filmes anteriores do diretor, Demônio de Neon não deixa de nos impactar. E, sem dúvidas, há uma estética que nos impressiona, deixando imagens, cores e sons em nossa mente após a sessão.


Demônio de Neon (The Neon Demon, 2016 / França / Dinamarca / EUA)
Direção: Nicolas Winding Refn
Roteiro: Nicolas Winding Refn, Mary Laws, Polly Stenham
Com: Elle Fanning, Christina Hendricks, Keanu Reeves, Jena Malone, Abbey Lee Kershaw, Bella Heathcote
Duração: 118 min.

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