Festa da Salsicha
No cartaz de Festa da Salsicha já vem o aviso: esta não é uma animação para crianças. De fato não é. Como todas as obras de Seth Rogen e companhia. há muita piada sexual, palavrões e críticas irônicas à religião. Ainda assim, podemos dizer que o roteiro traz piadas bastante infantis.
A premissa é nonsense. Vamos conhecer a vida dos produtos industrializados que vivem no supermercado à espera de serem escolhidos pelos humanos (que eles chamam de deuses) e serem levados para o que acreditam ser o paraíso. Tem até uma música inicial, parecendo os clássicos da Disney, falando das maravilhas que os esperam do lado de lá. O problema é que uma mostarda retorna e conta a verdade para uma salsicha que agora, tentará acordar seus irmãos.
Mundo dos Pets, mundo dos brinquedos, das formigas, até dos monstros imaginários, já vimos de tudo em animações. Produtos industrializados acaba sendo uma grande ironia do grupo, afinal cria algumas situações completamente sem lógica como fazer o homem de assassino de um pão ou uma salsicha, ou ainda de uma pizza. Todos produtos processados que, de fato, já "morreram" para isso. Há uma crítica sutil aí aos discursos veganos também ao mostrar que uma batata pode sofrer tanto quanto um animal para se tornar nosso alimento.
A religião é outro ponto atacado pelos roteiristas. A ideia de que existe um paraíso para os escolhidos pelos deuses é extremamente sagaz, principalmente quando eles revelam como surgiu essa lenda. Há também a diferenciação de religiões como a pãozinho que teme a fúria dos deuses por ter pecado, ou o pão árabe que espera as setenta garrafas de azeite extra virgem.
Ainda assim, o roteiro é extremamente infantil, inclusive na forma como trata o sexo. É como o olhar de uma criança descobrindo a sexualidade onde qualquer "bunda" já é motivo para risadas, ou a excitação porque a salsicha pode entrar no pão e preenchê-la. O próprio excesso de palavrões e piadas sexuais demonstram a imaturidade na concepção da história.
O que não é necessariamente ruim. Lembra muito a lógica dos filmes adolescentes dos anos 80, como Porky´s. Ou mais recente, American Pie. E dentro dessa proposta o filme é divertido e cumpre seu papel. Inclusive com a adaptação feita pelo grupo Porta dos Fundos para a versão brasileira, deixando as piadas e gírias mais locais.
Há um humor ácido e o roteiro vai escalando na loucura da trama, mas há uma coerência interna apesar de tudo. Ainda que use do artifício também infantil de um vilão caçando o protagonista. No caso uma ducha interna que protagoniza alguns dos momentos mais nonsenses da obra. Inclusive porque é o único personagem que não vem exatamente de um ser vivo. Mesmo uma salsicha é carne de porco triturada. A ducha é um produto fabricado. O que o faz tão diferente de uma faca, por exemplo, que no universo é inanimado? A única resposta seria o líquido que tem dentro dela, mas não deixa de ser estranho essa regra exclusiva.
De qualquer maneira, Festa da Salsicha tem seu público definido. E possivelmente este ficará satisfeito com o que vê em tela. É de fato um filme divertido e irônico, ainda que infantilizado. E, claro, não levem suas crianças para vê-lo caso não queiram ficar envergonhados e protagonizar outro caso como o do pequeno Juan.
Festa da Salsicha (Sausage Party, 2016 / EUA)
Direção: Greg Tiernan, Conrad Vernon
Roteiro: Kyle Hunter, Ariel Shaffir, Seth Rogen, Evan Goldberg
Duração: 89 min.
Amanda Aouad
Crítica afiliada à Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema), é doutora em Comunicação e Cultura Contemporâneas (Poscom / UFBA) e especialista em Cinema pela UCSal. Roteirista profissional desde 2005, é co-criadora do projeto A Guardiã, além da equipe do Núcleo Anima Bahia sendo roteirista de séries como "Turma da Harmonia", "Bill, o Touro" e "Tadinha". É ainda professora dos cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda da Unifacs e da Uniceusa. Atualmente, faz parte da diretoria da Abraccine como secretária geral.
Festa da Salsicha
2016-10-07T08:30:00-03:00
Amanda Aouad
animacao|aventura|Conrad Vernon|critica|Greg Tiernan|
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