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Curtas Baianos no Panorama - Parte 2

Curtas Baianos no Panorama

Continuando aqui as críticas dos curtas-metragens baianos que passaram pelo XII Panorama Internacional Coisa de Cinema. Vale ressaltar que não há uma ordem de exibição nem mesmo de preferência nos filmes analisados, tirando os dois da competitiva nacional que abriram a postagem anterior, a sequência é completamente aleatória. Não seria justo criar um ranking ainda que alguns saltem em preferência ou importância. O que vale mesmo é reforçar o coletivo de filmes e linguagens possíveis.

Òrun Àiyé - A Criação do Mundo (BA, 12', 2016)

de Jamile Coelho e Cintia Maria

Òrun Àiyé - A Criação do Mundo - curta - panoramaUma das animações da competitiva baiana é também uma das poucas obras em stop motion que podemos conferir hoje em dia, o que por si só já a destaca. O filme da dupla Jamile Coelho e Cintia Maria busca suas fontes nas religiões africanas e no costume de contar histórias. Homenageando o vovô Bira, nos mostra o senhor contando a história da origem do mundo pela visão dos orixás. Uma obra bem construída, impressionando na riqueza de detalhes dos cenários e personagens, que traz uma história gostosa de acompanhar e que, ainda que com um tom didático para as lendas dos orixás, não cria um distanciamento da linguagem narrativa.

Lapso (BA, 13', 2016)

de Felipe Franca

Lapso - curta - panoramaUma experiência de linguagem, uma obra que instiga, impacta e incomoda. Assim é Lapso de Felipe Franca. Pegando o tema da depressão e a indústria de remédios, o diretor cria uma instigante sequência de imagens que trabalham a memória, ou a falta dela, as pessoas apáticas trancadas dentro de casa e as pílulas que prometem resolver tudo isso, mas que podem acabar por matar. Ligando os pontos, um instigante rapaz que transita pela cidade entre ruínas e paredes de concreto distribuindo estranhas pílulas escuras. E, como anuncia logo no início de maneira irônica, o filme pode causar convulsões em pessoas que sofreram epilepsia diante de tantos cortes rápidos e experimentação da linguagem para criar as sensações de atordoamento e lapsos de memória.

Restos (BA, 16', 2016)

de Renato Gaiarsa

Restos - curta - panoramaTalvez o filme mais prejudicado em uma sessão vista, por causa da projeção que parece ter tirado o vermelho das imagens. Uma pena. Ainda assim é possível perceber a qualidade técnica da obra, que se desenvolve a partir de uma situação fictícia possível: uma greve de garis. O paralelo da cidade acumulando o lixo com o dia a dia de um dos garis em sua casa com sua esposa e seu pai doente é bem interessante. Há uma ironia implícita em tudo, nas matérias de televisão, na entrevista com o prefeito, nos comentários da população. E na própria situação do rapaz que, longe do trabalho, tem a oportunidade de uma vida tranquila e limpa, tanto que o vemos no chuveiro por diversas vezes. O curta impressiona também por algumas tomadas grandiosas como a carreata de lixo pela Carlos Gomes ou a montanha de sacos na praça Castro Alves.

Astrogildo e a Astronave (BA, 18', 2016)

de Edson Bastos

Astrogildo e a Astronave - curta - panoramaUma obra, no mínimo curiosa, ao resgatar a memória de um inventor no interior do estado da Bahia, mais precisamente na cidade de Ipiaú. Astrogildo Andrade Santos chamou a atenção por tentar criar um helicóptero com motor moto-contínuo na década de setenta. O curta recria suas tentativas de maneira livre e poética com a ajuda do garoto Finício. O filme talvez apenas romantize demais essa história, deixando, inclusive alguns pontos abertos que nos deixam curiosos para compreender melhor aquela história. De qualquer maneira, é uma bela homenagem e uma bonita história.

Fonte Nova (BA, 15', 2016)

de Matheus Vianna

Fonte Nova - curta - panoramaDepois do belo Alegoria da Dor, Matheus Vianna nos traz mais uma obra sobre nostalgia, só que agora com um cunho mais político, misturando a paixão pelo Esporte Clube Bahia com as obras realizadas na cidade desde a preparação para Copa, inclusive a demolição e reconstrução do estádio da Fonte Nova. A partir de um jovem engenheiro e seu avô doente, o filme faz a ligação entre obras e futebol, criando uma metáfora interessante do Bahia de ontem e de hoje, com a Bahia de ontem e de hoje. Só faltou desenvolver melhor o que apresenta, vide a tensa entrevista inicial que acaba não indo para lugar nenhum.

A história do Esporte Clube Bahia também parece inserida de maneira abrupta ainda que seja possível fazer relações como já dito. De qualquer maneira, as cenas no estádio atual quando o avó olha para o campo e vê a Fonte Nova antiga com o Bahia de 1988 jogando são de arrepiar, talvez a melhor coisa do filme. Mas isso acaba se perdendo um pouco quando o diretor parece se empolgar e começar a criar um clipe dessas imagens com diversos jogos da época. Fica over e repetitivo, perdendo a emoção do momento nostálgico e simbólico. Fora que a narrativa não parece construir de maneira orgânica o todo, principalmente na insistência da crítica política, que não acho ruim, apenas precisava de uma amarra melhor no foco da história a ser contada.

A morte do cinema (BA, 20', 2016)

de Evandro de Freitas

A morte do cinema - curta - panoramaTem filmes que se tornam especiais por algum detalhe. No caso de A Morte do Cinema temos na sequência final, algo genial e simples de um impacto impressionante. Ouso até dizer que, se o curta fosse só isso não só já valeria como poderia ser até melhor. O documentário busca resgatar a história perdida dos cinemas, seus projetores, suas salas e equipamentos, entrevistando algumas pessoas importantes. Há uma tentativa de experimentação com planos incomuns e uma busca artística, mas o que nos pega mesmo é o protesto silencioso com uma cadeira de cinema antigo, daquelas de madeira, na frente de onde era uma sala e hoje é ruína, mercado, loja de departamento, etc. Surpreendentemente nenhuma igreja.

A cadeira de balanço (BA, 14', 2016)

de Fernanda Fontes Vareille

A cadeira de balanço - curta - PanoramaUma ficção científica diferente, que, na verdade, utiliza o elemento como plot para falar de questões de gênero, relacionamento e papéis diante da vida que possui duas partes bem definidas. Grande parte da narrativa que se passa com uma câmera em primeira pessoa e a resolução onde a câmera abre pra uma olhar de fora, contemplando uma cena onde a cadeira de balanço, enfim, ocupa o centro da narrativa.

Na verdade, a brincadeira de Fernanda Fontes Vareille é criar um futuro possível onde as crianças nasçam em encubadoras. O feto é instalado na parede da sala de um casal e a partir daí, o homem começa a ficar hipnotizado, tomando conta da gestação, enquanto a mulher tenta continuar sua rotina. É interessante ver esse jogo cênico que traz metáforas do sentimento da própria mulher que na vida real carrega esse feto por nove meses tentando manter sua vida.

A maneira como o homem aqui se hipnotiza, criando um protagonismo na gestação e inclusive na hora do nascimento, onde a mulher fica em segundo plano, não deixa de ser irônica, diante do que acontece depois. Um filme instigante.

Onde Cair Morto (BA, 8', 2016)

de Ramon Coutinho

Onde Cair Morto - curta - panoramaApós o ótimo "Ritual Pam Pam Pam", Ramon Coutinho volta a brincar com som e imagem para ironizar situações cotidianas. Aqui é possível vender um apartamento com aquelas locuções de varejo bem over, só que, na verdade, nos apresenta a última morada de qualquer ser: um cemitério. As imagens das estátuas nas lápides e toda a sobriedade do local é quebrada com a primeira locução após alguns segundos de contemplação, o que nos pega de surpresa e é impossível conter o riso. E há diversas interpretações possíveis da crítica que o cineasta traz à indústria imobiliária e ao varejo. A ilusão da venda perfeita, quando na realidade, boa parte dos apartamentos de hoje são tão pequenos e apertados quanto um "caixão". O fato das pessoas terem essa ansiedade por apartamentos cheios de coisas que nunca usarão e muitas vezes se endividarem por status sem ter "onde cair morto". A própria oferta de imóveis que há muito já ultrapassou a demanda, criando crises no setor. E a estética exagerada do varejo que torna tudo commodities "metidos a besta". Enfim, um filme simples e profundo ao mesmo tempo.

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