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Paula Gomes
Jonas e o Circo sem Lona
Jonas e o Circo sem Lona
Sonhos são sempre algo que nos encantam e emocionam. Os sonhos da infância parecem ainda mais bonitos, pois são puros e cheios de esperanças ainda na vida. Quem nunca sonhou em ser algo fantástico e brincou disso? E cabe aos pais e professores ter a sensibilidade de entender seus filhos e estimular aqui que aflora em seu ser. Por tudo isso, Jonas e o Circo sem Lona é um filme que nos impacta tanto.
Jonas é um garoto que mora na região metropolitana de Salvador e tem um sonho: trabalhar no circo. Mais do que isso, ele constrói com os amigos um circo próprio no quintal da casa de sua avó. E faz de tudo um pouco, é palhaço, trapezista, equilibrista, dançarino, além de diretor da trupe. O espetáculo é organizado e tem até catraca e bilheteria. Só não tem lona, o que não deixa de ser poético.
O documentário acompanha o dia a dia desse garoto com muita sensibilidade e um olhar próximo, ainda que pouco interfira na rotina deles. Por vezes, os vemos conversando com eles, fazendo algumas perguntas ou respondendo algumas questões. Mas, no geral, a obra corre de maneira bastante natural. Vemos os embates com a mãe que quer que o filho estude, com os colegas que não entendem porque aquele garoto está sendo acompanhando por uma equipe de filmagem e com os professores que não entendem como aquele aluno pode ser digno de um filme.
A partir dessa visão da escola, Paula Gomes consegue discutir em tela, sem precisar falar nada, o nosso sistema de educação retrógrado. O despreparo dos professores, a insensibilidade da diretora, a estrutura do local e a maneira como escola e realidade parecem tão distantes. A própria não inclusão da arte e o incentivo para unir os pontos demonstra o quanto ainda estamos atrasados.
Em casa, Jonas parece também despertar dois pólos. A avó, que o apoia incondicionalmente, e a mãe, que no fundo compreende o filho, mas teme por seu futuro e o obriga a se afastar do circo para estudar. Ela que também já foi de circo, conhece bem a realidade dessa vida e deseja o melhor para o garoto. O problema é que os pais acham que sabem o que é melhor para os seus filhos, mas nem sempre isso é verdade. A câmera de Paula não faz juízo de valor, mas há o risco de se criar antipatia pela figura da mãe ainda que ela faça tudo de maneira amorosa e preocupada exatamente por nos identificarmos com Jonas e seu sonho em algum nível.
Não por acaso, as cenas dos espetáculos e ensaios são emocionantes. Ver a dedicação dos garotos, a seriedade com que levam aquilo e o talento deles é encantador. Dá vontade de ver um pouco mais do que é mostrado em tela, inclusive estando lá, sentado na plateia com as crianças e adultos do bairro que parecem se divertir a cada número. Há uma garotinha mesmo que tem uns planos ótimos com o sorriso fácil dela.
É interessante também que as informações da família de Jonas são passadas de maneira natural, sem forçar nem ser didática. Vemos o passado da mãe no circo em fotos, sabemos de seu tio e o circo que ainda tem por comentários, assim como compreendemos melhor as preocupações da mãe em relação à rotina perigosa de uma trupe circense sempre viajando e vivendo muitas vezes em situações precárias.
Agora, o que encanta mesmo é a sensibilidade da cumplicidade que se constrói entre diretora e retratado. As conversas finais entre Jonas e Paula, quando tudo parece estar dando errado, são melancólicas e belas. Há sentimentos verdadeiros em tela que nos comovem e nos tocam profundamente. É lindo de ver aquilo tudo, ainda que pareça ser um final triste.
Na verdade, o filme não dá um final. Quando os créditos sobem, fica uma sensação de quero mais. A curiosidade do "e aí?". "Este não é o final de seu filme, é o final deste filme", afirma Paula a Jonas. Porque é isso, a vida desse garoto continua e ainda terá muitas reviravoltas. Os sonhos da infância ficam lá no passado, mas podemos sempre nos reinventar. Isso é o mais belo.
Filme Visto no XII Panorama Internacional Coisa de Cinema.
Jonas e o Circo sem Lona (Jonas e o Circo sem Lona, 2016 / Brasil)
Direção: Paula Gomes
Roteiro: Paula Gomes
Duração: 81 min.
Amanda Aouad
Crítica afiliada à Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema), é doutora em Comunicação e Cultura Contemporâneas (Poscom / UFBA) e especialista em Cinema pela UCSal. Roteirista profissional desde 2005, é co-criadora do projeto A Guardiã, além da equipe do Núcleo Anima Bahia sendo roteirista de séries como "Turma da Harmonia", "Bill, o Touro" e "Tadinha". É ainda professora dos cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda da Unifacs e da Uniceusa. Atualmente, faz parte da diretoria da Abraccine como secretária geral.
Jonas e o Circo sem Lona
2016-11-19T08:30:00-03:00
Amanda Aouad
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