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O Filho Eterno
O Filho Eterno
Baseado no livro de Cristóvão Tezza, O Filho Eterno é um filme difícil. Construído como um desabafo de um pai que não consegue lidar com um filho com síndrome de down ele pode beirar à desumanidade, mas acaba construíndo uma trajetória emocionante.
O roteiro de Leonardo Levis com colaboração de Murilo Hauser utiliza muito da voz over. Mas o que poderia ser uma muleta acaba sendo um recurso interessante, pois nos deixa mais próximos do protagonista e seus pensamentos absurdos, como o momento em que ele fica feliz ao ler que "crianças com down vivem menos".
Roberto, vivido por Marcos Veras, é escritor e espera ansiosamente pelo nascimento do seu primeiro filme. No início dos anos 80, não havia exames nem informações avançadas sobre a síndrome do cromossomo 21, o que deixa tudo ainda mais dramático. O médico chega a utilizar o termo "mongol" para definir o bebê recém-nascido.
Mas o que nos angustia mesmo é a reação do pai, em contraste com a reação da mãe Cláudia, vivida por Débora Falabella. Amorosa e indiferente ao fato do filho ter uma síndrome, ela cria sua criança com amor e cumplicidade. Enquanto que Roberto não se considera ainda pai. O sentimento é tão forte que há uma comparação de pai e filho com o futebol e, após o nascimento de Fabrício, Roberto simplesmente não assiste mais a jogos.
A comparação com o futebol acaba criando a curva dramática da obra. Fabrício nasce no dia da semi-final da Copa do Mundo de 1982, quando o Brasil perdeu para a Itália em um dos jogos até hoje considerados mais traumáticos (talvez tenha perdido apenas para o sete a um contra a Alemanha em 2014). O sentimento de decepção da nação com a seleção arte comandada por Telê Santana acaba sendo uma metáfora do sentimento de Roberto em relação a seu filho especial. E os momentos chaves da Copa de 1986, 1990 e 1994 acabam também tendo momentos importantes na vida daquela família.
As situações são bem conduzidas e conseguimos distinguir bem as relações de pai e filho em comparação a mãe e filho, ou mesmo neto e avô. As dificuldades e preconceitos na escola, os métodos que tentam estimular o raciocínio, e todas as etapas que Fabrício vai passando enquanto cresce. Problemas muitas vezes comuns a qualquer criança, como não querer entrar no carro sem que o pai lhe compre um saco de pipoca, e que Roberto interpreta como característica da síndrome.
Incomoda talvez o título "O Filho Eterno" se a interpretação for de que uma criança com síndrome de down é dependente eterna dos pais, o que não é exatamente verdade. E também porque todo filho é eterno para os pais. Ou você já viu alguma mãe ou pai deixar de se preocupar e tentar acompanhar e ajudar seus filhos mesmo quando eles já são adultos e tem filhos?
De qualquer maneira, O Filho Eterno é um melodrama que nos atinge e emociona por diversos motivos. Bem conduzido e honesto, mesmo em suas emoções conflitantes em relação a uma criança especial.
O Filho Eterno (O Filho Eterno, 2016 / Brasil)
Direção: Paulo Machline
Roteiro: Leonardo Levis, Murilo Hauser
Com: Marcos Veras, Débora Falabella, Uyara Torrente, Pedro Vinícius
Duração: 82 min.
Amanda Aouad
Crítica afiliada à Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema), é doutora em Comunicação e Cultura Contemporâneas (Poscom / UFBA) e especialista em Cinema pela UCSal. Roteirista profissional desde 2005, é co-criadora do projeto A Guardiã, além da equipe do Núcleo Anima Bahia sendo roteirista de séries como "Turma da Harmonia", "Bill, o Touro" e "Tadinha". É ainda professora dos cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda da Unifacs e da Uniceusa. Atualmente, faz parte da diretoria da Abraccine como secretária geral.
O Filho Eterno
2016-11-28T08:30:00-03:00
Amanda Aouad
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